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AO REDOR DO ATACAMA – PARTE 2

 
“Aqui, o Atacama tem isso: todo dia amanhece assim, com esse céu lindo, sem nenhuma nuvem a nos tirar esse azul profundo”. Assim comentou comigo um senhor que conheci numa manhã na sede da On Safari Atacama, empresa que convidou-me para realizar este tour pelo Deserto do Atacama, no Chile. E esta é a mais pura verdade, pois justamente por ser o deserto mais seco do planeta, recebe chuvas somente em cinco dias do ano, sendo que em todos os outros 360, os dias transcorrem exatamente desta maneira: frio pela manhã, sol o dia todo, céu azulíssimo e calor até o anoitecer, quando então, a temperatura cai bruscamente até negativar durante o inverno.

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Neste dia eu consegui, finalmente, acordar no horário combinado (8h) e tomar meu café da manhã sem pressa e após o desjejum com iogurte, cereais, frutas, suco e café com leite, foi só aguardar mais alguns minutos até que o Juan Pablo Rivas, sócio do Joaquim, aparecesse na porta de meu hotel com sua guerreira pick up Nissan D21. E foi com esta grande abóbada celeste sobre nossas cabeças que eu e o guia Joaquim Gonzalez partimos no dia 21 de setembro para o início de meu terceiro dia de aventuras pelo Salar de Atacama.

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Pegamos a rodovia que liga Calama aos Pasos (travessias) Jama e Sico, sentido leste por cerca de 10 ou 15 km e em meio a uma baixada que nos possibilitava uma visão alucinante da imensidão do deserto, entramos à esquerda para pegarmos uma estrada de terra coberta por cascalhos e pedras – algumas até bem grandes. Tão logo a adentramos, o Joaquim parou sua BMW G 650GS e colocou a mão no painel, num gesto característico de quem desliga o ABS; ou seja, dali em diante, seria diversão pura. Tão logo terminou de fazer o que estava fazendo, saiu lentamente com sua moto e após dirigir a mim um sorriso de moleque que quer fazer uma travessura, empinamos juntos nossas motos e saímos dando risada, enquanto jogávamos uma marcha sobre a outra. Como éramos somente nós dois – o que foi um grandioso privilégio – podíamos manter um ritmo de viagem bastante rápido naquelas condições. E estarmos somente em dois também nos possibilitou acelerar sem culpa, já que seria impossível irmos tão rápido como estávamos caso estivéssemos em um grupo maior, pois pilotando lado a lado, levantávamos uma nuvem de poeira espessa que inviabilizaria qualquer possibilidade de quem viesse atrás enxergar alguma coisa.

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Mas logo nos quilômetros iniciais, o Joaquim estava uns cinco metros à minha frente, situado a 45º à minha direita, quando só senti uma dor bastante acentuada em minha coxa direita: a 120 km/h, havia levado uma pedrada que tinha sido cuspida da roda da moto dele. Naquela velocidade eu nem podia levar a mão ao local da pancada e para não desperdiçar a brincadeira, fui suportando a dor, que se agravava com o frio que ainda fazia naquela hora da manhã. Gemia dentro do capacete, mas ao mesmo tempo, estava achando aquilo um grande barato, mas ao checar o local mais tarde, vi que um hematoma considerável tomava a parte frontal de minha coxa.

Estávamos percorrendo uma antiga estrada de emergência utilizada no passado por uma companhia mineradora, situada a 70 km da rodovia principal, conforme explicou-me Joaquim, tão logo fizemos nossa primeira parada para fotos. Encravada entre as Cordilheiras Domeyko e Del Sal, ela margeia todo o lado Oeste do Salar de Atacama na forma de um tapete coberto de pedras e cascalho com cerca de dez metros de largura, praticamente uma reta cujas laterais se encontravam no horizonte e que nos possibilitava viajar o tempo todo com a mão enrolada, parecendo dois insanos gravando um “Terra Firma” ao lado do Pastrana. Vira e mexe apareciam curvas de nível que nos possibilitavam voos fantásticos, ou então, curvas de grau bastante aberto, que eram um convite a contorná-las ao melhor estilo rali, ou seja, com a traseira escapando, enquanto um dedo na embreagem dosava a potencia do motor. Uma delícia, mas cujas pedras nos cobravam máxima atenção, pois qualquer vacilo poderia ter consequências impensáveis – e naquele meio de nada, estávamos a pelo menos quatro horas de distância de qualquer forma de socorro em quatro rodas.


Cenário de filme

Depois de cerca de uma hora de diversão entre essas duas cadeias de montanhas baixas, alcançamos uma região onde o deserto era mais seco ainda; ao lada da estrada, a areia ganhava uma coloração ocre escura e se até então, era possível avistar alguns arbustos, agora nenhuma forma de vida era visível. De vez em quando, o vento criava alguns redemoinhos de areia (rodamolinos, como diria o Joaquim), o que só ampliava a sensação de estarmos em um cenário de filme de velho oeste e o silêncio, de tão intenso, chegava a incomodar.

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Depois de ficarmos um pouco imersos neste cenário e de jogarmos algumas palavras fora, continuamos nossa jornada até começarmos a ver, bem ao longe, alguns caminhões que àquela distância, nos pareciam modelos da Hot Wheels; poucos minutos depois, chegávamos a uma intersecção com o asfalto e com uma linha de transmissão de alta tensão sobre nossas cabeças, que segundo o Joaquim, alimentava aquela mineradora, que se localizava atrás da Cordilheira Domeyko.

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Dali, pegamos o asfalto sentido leste e com o passar do tempo, o cenário nos teletransportava para o filme Bagdad Café; era quase possível ouvir a Jevetta Steele cantando “I´m calling you”, enquanto acelerávamos nossas BMs ao lado daquela fieira interminável de postes sem fim, conectados uns aos outros por redes de energia elétrica. De repente, as margens desta rodovia começaram a ficar rugosas, parecendo que uma chuva havia caído ali e destruído a hipotética uniformidade que um dia houvera. Parei e constatei que tudo aquilo ali era sal e que ficava daquela forma em função de reações químicas que aconteciam indefinidamente, quebrando a superfície.


Pedaços da história

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Nossa primeira parada neste dia, de fato, aconteceu somente cerca de quatro horas depois de termos deixado San Pedro de Atacama para trás, quando, após atravessarmos um trecho de areia cortado por um regato de águas rasas e geladas, chegamos ao oásis de Peine, por onde passava o antigo Caminho Inca. Ali haviam construções de pedra há muito abandonadas que constituíam um atrativo histórico mas também abrigavam duas curiosidades. “Há uma mulher que vive aqui, sozinha”, explicou-me Joaquim. Diante de minha indignação com aquele isolamento, ele completou: “De vez em quando vem alguém aqui e traz alguns mantimentos para ela, mas eu mesmo, raramente a vejo quando passo por aqui”, comentou, acrescentando que ela cuidava de uma horta perto de sua casa, a qual pude verificar quando dali fomos embora. Mas antes, o Joaquim ainda me apresentaria a algo ainda mais impressionante. Levando-me até duas árvores bastante ressequidas, pediu-me para ver o tronco da direita e ao dar a volta nela, pude constatar uma cruz entalhada, que teria sido feita pelo conquistador espanhol Pedro Sanchez, por volta de 1536. Diferentemente de outros sítios históricos, ali você podia tocar na árvore, enquanto imaginava como teria sido a cena daquele entalhe e de como teria sido a viagem daquele homem a terras tão ermas.

Com o sol a pino, eu já estava com uma fome danada e dali nos dirigimos a Toconao, uma pequena vila operária crava na encosta de um morro. O problema é que chegamos ali na hora da siesta e não havia nada aberto. Depois de o Joaquim colher informações aqui e acolá, uma alma caridosa abriu o restaurante dela (sim, estava fechado em horário de almoço...) e nos preparou uma refeição com arroz, batatas fritas, salada de tomate com cebola e uma carne que não soube identificar, a qual evitei por não comer carne. Ou seja, pouco depois já estava com fome de novo. Para não fugir à regra, fomos a um clube público local com uma deliciosa piscina feita de pedras e que recebia água da montanha e depois de comprar uns chocolates e doces atrás de glicose, fizemos a nossa siesta, muito embora no momento em que estava começando a pegar no sono, tenham aparecido alguns mineiros de folga que já chegaram puxando conversa com aquele estranho – eu.

Antes de irmos embora, o Joaquim levou-me para conhecer “Casa de Huespedes Cunsa Turi” onde os grupos que eles levam em viagem dormem. Trata-se de uma espécie de hostel construído pelo governo chileno para estimular o turismo local e levar uma outra fonte de renda à essas populações. Muito bem montado e limpo, cada quarto conta com cama de casal e de solteiro (ou beliche) e banheiro, além de TV de LCD de 32 polegadas.


Texto e Fotos: Andre Ramos (Revista Pro Moto)


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Comentários (1)

8/9/2013 08:58:58
REYNALDO GOMIDE FILHO
minha droa é motrcicleta ja fiz enduros motocross mas nunca fiz uma viagem destas gostaria muito de ir qual o custo de uma viagem destas com moto
 

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