CIDADANIA NO TRÂNSITO
O trânsito é um dos maiores termômetros do grau de civilidade de um povo.
Basta observar o fluxo de veículos em países culturalmente mais desenvolvidos e este fluxo em países do chamado Terceiro Mundo. Enquanto nos primeiros o respeito ao outro é a tônica do comportamento no trânsito, nos últimos parece vigorar a egoística regra do "eu primeiro".
Em países onde o pedestre, o ciclista, o motociclista e o motorista de veículos pequenos ou grandes, leves ou pesados, se comporta com respeito pelo outro, ocorrem menos acidentes e o trânsito flui melhor, sem grandes gargalos.
Estacionar ou parar o veículo em local proibido, mesmo que em período curto, atrapalha o trânsito e os demais usuários da via pública. É a comodidade de um em prejuízo de todos.
O que falar dos veículos que fecham o cruzamento e ficam parados quando o semáforo fecha? Impede que os veículos da outra via possam prosseguir, mesmo com o semáforo aberto. É egoísmo e desrespeito pelos motoristas de veículos que trafegam na transversal.
Da mesma forma, parar em fila dupla ou tripla, por incrível que pareça, é comum em países de baixo nível de respeito pelo semelhante. Ninguém respeita, mas xinga quando é desrespeitado.
A educação, desde a infância em casa, ensina a criança a olhar para os dois lados da rua antes de atravessá-la, aguardando a passagem dos veículos, mais rápidos do que ela.
Mas isto só não basta. É preciso respeitar as faixas de pedestre e as ciclovias, locais onde as pessoas ficam muito expostas. Os ciclistas que andam em ciclovias, acreditam que tem preferência sobre todos os demais usuários, pedestres ou motoristas, afinal a via é deles. Não respeitam nem sinal fechado ou a presença do guarda de trânsito. As ciclovias são demarcadas nas vias públicas e sobre ela trafegam pedestres ciclistas e até veículos, uma vez que não existe um obstáculo que impeça sua invasão.
A respeito de obstáculos, este é outro item que diferencia o usuário das vias daqui e dos países que há respeito pelo semelhante. Lá uma linha pintada no chão é suficiente para informar ao cidadão que não deve ultrapassá-la ou cruzá-la.
Aqui é preciso colocar obstáculos, cones, cavaletes e blocos de concreto para impedir que os motoristas invadam o espaço, bloqueando o fluxo diferenciado da faixa demarcada ou que deixem de fazer a conversão obrigatória
Os motoristas em geral parecem ter se esquecido das regras básicas do trânsito ou perderam a preocupação com elas:
a) quem vem pela direita tem preferência sobre o fluxo da esquerda;
b) quem está em movimento tem preferência sobre quem está parado ou vai iniciar o movimento;
c)quem sobe a ladeira tem preferência sobre quem desce;
d) toda mudança de direção ou diminuição de velocidade deve ser previamente sinalizada.
Respeito ao outro é cidadaniaQuando as pessoas respeitarem as regras do trânsito e aos outros motoristas, estarão exercendo sua cidadania e melhorando as condições de trânsito e de convivência social.
Veículos estacionados na via pública, mesmo em locais onde é permitido, também atrapalham o fluxo do trânsito, estreitando-o. Por esta razão, o estacionamento com tempo máximo de permanência, inclusive para garantir a rotatividade.
O ideal é que quem tem veículo, tenha onde guardá-lo. Veículos estacionados na rua durante a noite, revelam a situação caótica do trânsito durante o dia. Nem em bairros residenciais devia ser permitido.
Facilita a vida dos amigos do alheio, atrapalha o tráfego de veículos maiores e mais pesados, e complica a carga e descarga de mercadorias em estabelecimentos comerciais. O estímulo à criação de estacionamentos e edifícios-garagem deveria ser política de governo.
As autoridades municipais, ao se defrontar com vias públicas superlotadas, limitam-se a inverter sentidos de rua ou transformar vias de mão dupla em única. Quando a situação agrava, os guardas de trânsito desaparecem. O planejamento é falho e limitado. Mas, também pudera, com o caos reinante, é preciso mudar primeiro o comportamento do cidadão no trânsito e aí, quem sabe, as coisas se encaminham.
No Urbanismo, é preciso mudar o desenho de ruas e avenidas, criando-se faixas próprias para conversão à direita e à esquerda, de molde a liberar o fluxo dos veículos que vão seguir em frente.
Passarelas para pedestres deveriam ser obrigatórias em vias e estradas de trânsito mais rápido. Mas é preciso bloquear a travessia de pedestres e ciclistas pela pista, com a colocação de obstáculos que os conduzam às passarelas. Pelo menos até que estejam devidamente acostumados a assim proceder. Grades e muretas divisórias, colocadas entre as pistas, ajudam a educar os passantes.
Em resumo, para melhorar as condições de trânsito, é preciso educação e respeito pelo semelhante. Ter noção de seus direitos e obrigações. A isto se chama cidadania.
José Fernando EstevesPublicação Ponto de Vista