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RENATO LOPES E O MOTOCICLISMO

Gugu, Otavio Araújo de Taubaté/SP entrevista Renato Lopes. Uma entrevista de motociclista para motociclista.

 
GG- Renato, a pedido do amigo Eduardo Wermelinger do site Rotaway vamos procurar traçar um perfil de suas atividades no mundo das motocicletas, trazendo aos amigos do Rotaway um pouco de suas idéias e experiências. Quando e onde vc nasceu e qual sua principal atividade?

Nasci em Santa Maria – RS, em 22 de junho de 1957, trabalhei na área da segurança pública como oficial desde 1978 e ainda trabalhando, com muita dedicação e espírito de sacrifício me formei em Direito. Ao passar para reserva remunerada iniciei a advocacia, seguindo os passos de dois irmãos, mas a minha inquietação, minha alma e a minha essência foi mais forte, e intensifiquei minhas viagens e aventuras de motocicleta, antes limitada pelo trabalho.

GG– Renato, como foi sua introdução no motociclismo e o que contribuiu para isso? Sua formação militar teve determinante influência?

Sem dúvidas foram motociclos e lambretas que passavam em frente a minha casa quando eu era criança e a bicicleta que ganhei de presente de uma irmã. Eu mesmo fazia a manutenção de todos os escalões, como autodidata. Depois logo que me formei na Academia de Oficiais do RS comprei a minha primeira motocicleta, seguindo meus irmãos que já possuíam as suas. Ai a convivência com os amigos motociclistas foram crescendo naturalmente e o uso da moto no dia a dia passou a ser minha prioridade como meio de transporte, a seguir as viagens para cursar a faculdade por vários anos seduziam, instigavam e aliciavam meus sonhos de ir mais longe. Com muita transparência posso dizer que minha formação muito pouco ou nada influenciou ou contribuiu para minha iniciação nesse mundo peculiar e próprio que é o motociclismo.

GG- Como surgiu o desejo de realizar grandes viagens? Vc teve alguma influência, inspiração?

Bem amigos motociclistas leitores do Rotaway, as origens, razões e meu desejo de realizar grandes viagens talvez eu não saiba precisar, mas esse fascínio por viagens me acompanha desde a adolescência. Muito provavelmente por influência dos meus irmãos que muito precocemente foram atrás dos seus sonhos por terras distantes.

As grandes viagens de motocicleta inegavelmente eclodiram quando fui convidado a fazer parte da Associação Motociclista Gaudérios do Asfalto de Santa Maria, em 1998. A inspiração sempre esteve lá, nos meus pensamentos e alma. Sem dúvidas que o convívio com grandes amigos que possuíam os mesmos gostos, sonhos e aspirações foi o start para eu entrar de corpo e alma nesse modo de viver.

GG- Qual suas expectativas durante a fase de planejamento de uma longa viagem, o que busca afinal?

É bom que se diga que não tenho qualquer preconceito com aqueles que gostam partir para suas viagens e aventuras sem qualquer planejamento. Eu mesmo já fiz algo parecido e descobri que é interessante, mas realmente eu costumo planejar minhas viagens mais longas, especialmente para o exterior. Talvez em razão de minha formação e atividade que desenvolvi por quase 30 anos, sempre planejando, me preparando para enfrentar situações de riscos e de crises, onde a as informações antecipadas são fundamentais para o êxito de uma longa viagem. Eu particularmente busco o sucesso, a segurança e o aprendizado que cada viagem pode nos proporcionar.

Costumo dizer que planejar uma viagem de moto não é nada além de elaborar um roteiro de ações para se atingir o objetivo de viajar com segurança e obter o êxito desejado ao final. E sobre isso, inclusive dediquei um capítulo nos meus livros com objetivo de auxiliar os motociclistas que estão iniciando a empreender grandes motoviagem e aventuras.

Normalmente depois que defino, por alguma razão, onde quero ir, chegar com segurança e o que conhecer, estabeleço um roteiro básico, mas flexível, isso é fundamental e preponderante.

As expectativas para mim são sempre as melhores na fase de planejamento, pois pensando que é nesse momento que imaginamos a possibilidade de concretização de sonhos, da esperança e da crença em ver que somos capazes de realiza-los.

Edson Steglich & Renato Lopes, uma parceria exemplar nas viagens  




















GG – Nas suas experiências de viagem, como pode definir o maior legado à sua vida pessoal quando diante as diferenças culturais encontradas ao longo das suas jornadas?

Em verdade me considero um viajante e aventureiro amador. Essas oportunidades que tenho recebido do Supremo Criador de conhecer tantos países com imensa diversidade culturais, de ecossistemas, de geografia, de história, de arte, de belezas incomparáveis e de seres humanos extraordinariamente diferentes, mas do mesmo modo, iguais, tem sido uma verdadeira aula de vida.

Acredito que o legado que fica indelevelmente marcado em nossas consciências e alma, é o processo de desbastar a pedra bruta ou o lapidar a pedra polida, que somos todos um pouco, é o aperfeiçoamento de vida aos quais experimentamos através dos ensinamentos e lições de humildade e sabedoria, ao longo de cada jornada. Mas a felicidade em receber e retribuir acenos e sorrisos sinceros de gente simples e alegre de diferentes povos é algo indescritível.


GG– Durante suas longas viagens, nos conte um momento marcante que possa ter influenciado na sua forma de vida, de pensar ou que tenha aberto nova perspectiva, mostrado novos conceitos.

Considero-me uma pessoa privilegiada por ter feito várias viagens e conhecer tantos lugares, que até penso ser apenas um sonho. Digo que cada viagem, cada aventura é única, no seu tempo, no espaço e circunstâncias, nos permitindo aprendizados importantes e que mesmo sem notarmos ou sentirmos, passamos a nos apropriarmos de influências que vão alterando o nosso rumo na forma de vida, de pensar, de agir e de compreender a razão de nossa caminhada.

Seria quase uma heresia eu eleger “um” momento marcante. Esse processo de mudança é constante, portanto todas as vivências abrem novas perspectivas de um novo pensar, de reflexão. A mim tem me ajudado muito a ser uma pessoa melhor, e me esforço para isso.

GG – Você tem alguns livros publicados, sente necessidade se compartilhar suas experiências com os leitores, inspirar outros motociclistas a seguirem seu caminho?

Hoje posso afirmar que sim, no princípio não tinha essa necessidade. O primeiro livro que publiquei com o título de “Motociclistas nas rutas do Cone Sul”, em 2006, foi uma aventura influenciada pelos amigos de plantão, ávidos em saber tudo sobre minhas viagens.

Como esse livro foi extraordinariamente bem recepcionado pelos leitores, motociclistas e público de modo geral, com a edição se esgotando em um tempo que me surpreendeu. Os feedbacks recebidos, extremamente numerosos, através de correios eletrônicos e telefonemas dos leitores, apontaram para a aprovação do conteúdo e da forma apresentada, que eu mal conseguia ler e acreditar, não por falta de tempo ou interesse, mas porque eles me tocavam e me emocionavam profundamente, afinal, eu apenas havia escrito algo para tentar transferir algumas experiências que tinha tido a oportunidade de, afortunadamente, amealhar pela vivência pilotando a uma motocicleta.

Com esse sucesso inesperado para um aprendiz de escritor, corroborado pelas inúmeras manifestações calorosas de leitores solicitando um novo livro, os meus temores foram dissipando-se em meio à experiência de viver num mundo onde há verdades e mentiras e também “mentiras que parecem verdades”. Assim foi que nasceu a ideia de escrever o livro que leva o título “De Motocicleta pelas carreteras da América do Sul”, em 2011.

Posso dizer aos meus caros leitores que me acompanham. Encanta-me falar das minhas próprias vivências em forma de narrativa, depoimentos e pensamentos. Penso ser básico que o escritor desse tipo de proposta fale e publique suas próprias experiências como uma forma bonita de descortinar caminhos e descobrir um mundo de pessoas, lugares e coisas que está bem próximo, mas que, por pura acomodação, não o enxergamos.

Mas tenho consciência que não sou especialista ou pesquisador, longe disso, e menos ainda desejo ser modelo e imitado por alguém. Mas é certo que muitos amigos leitores acabam simpatizando com meus rabiscos e escrevinhações e passam a se sentirem inspirados e encorajados a pegar a estrada sobre duas rodas. Isso torna o trabalho de escrever gratificante porque esta sendo útil a outra pessoa.

GG – Pode nos confidenciar sobre sua próxima publicação, tão aguardada por seus admiradores e leitores? Será sobre a incrível viagem ao Alasca?

É verdade, não é segredo, estou escrevendo sobre essa grande aventura que realizamos, eu e meu amigo Edson Steglich, partindo de Santa Maria – RS, subindo até o Alaska para chegar a Prodhoe Bay no extremo norte do continente americano, e depois descer até o extremo sul da Patagônia Argentina e chegar a Ushuaia. Posso dizer que o livro terá novo formato, até porque foram mais de cinco meses de viagens pelas três Américas.

Aproveito a oportunidade para pedir paciência, pois “felizmente” não tenho conseguido parar de estar na estrada, atrasando assim a conclusão dessa nova obra. Mas não tardará...

GG – Comparando o início de sua relação com as motocicletas, como define atualmente o motociclismo?

Creio que a maioria dos motociclistas da minha geração vai concordar, mudou quase tudo. As motos, as estradas, a segurança, os objetivos, a informação, o espírito e as pessoas. Hoje temos muitas opções de motocicleta, mais conforto e segurança para realizarmos nossas viagens. As opiniões, teorias, posicionamentos, entendimentos sobre o que é ser motociclismo, motociclista, motoviajante, motoaventureiro, viagem, aventura, passeio, encontro e tal, estão aí, e são fundamentais para o nosso crescimento, mas a maioria das pessoas que abordam o tema e os intelectuais, por vezes, tem a mania de encaixilhar tudo, de dar todas as explicações, não raro, de modo onipotente.

Eu de algum tempo para cá, me considero um motociclista de viagens e de pequenas aventuras, e isso há muito deixou de ser exclusividade de exploradores, cientistas ou pessoas abastadas. Qualquer um de nós pode viajar e realizar seus sonhos. É isso que penso.

GG – Com toda sua bagagem em longas viagens e profissionalmente como militar, o que aconselharia aos motociclistas que pretendem empreender longas viagens pelo Brasil ou pela América do Sul?

Não sou muito afeito a dar conselhos, mas só para não passar em branco ou fugir da pergunta, eu diria: Ao viajar leve consigo a alegria, a tolerância e a humildade. O mais é um aprendizado, é vivenciar outras culturas, é estimular a percepção e o nosso conhecimento através da integração com outras pessoas.

GG – Que dica daria aos motociclistas leitores do Rotaway?

De plano para que continuem acompanhando esse website fantástico, recheado de bons textos, ótimas dicas, belíssimas imagens que nos inspiram a cair na estrada. Sem dúvidas que na atualidade é um dos portais de motoaventura mais importante, sempre conectado com que tem de mais atual no cenário do motociclismo.

GG – O que nos diz das amizades constituídas no motociclismo?

Particularmente para mim representa a parcela mais importante de cada viagem ou aventura. Eu creio que a felicidade de um motoviajeiro só se completa quando do encontro de outros aventureiros, e de preferencia, na estrada, com a troca de experiências e da amizade verdadeira que se instala de imediato e que levamos para a vida, simplesmente porque é expontanea, é verdadeira e não importa a distância.

GG – Podemos saber qual seu próximo projeto de viagem?

Tenho algumas idéias em mente sim, mas não gosto muito de falar antes da partida, talvez seja uma bobagem, creio que é, mas o dia amanhã pertence ao futuro e eu costumo ser discreto nesse particular. Talvez em breve tenhamos notícias no meu website.

GG – Por favor, nos fale de você, de seus planos para o futuro, de algum hobby fora do motociclismo.

Meus planos para o futuro é poder continuar viajando, conhecendo novos lugares, revendo os já conhecidos, e fundamentalmente fazendo novas amizades. Meu hobby atual inegavelmente é o motociclismo. Mas gostaria dizer também que hoje um dos momentos mais importantes e prazerosos é estar com meu filho Fellipe, o Number One!

Do meu último livro: A sua presença me encanta, e o seu beijo afetuoso alimenta minha alma!














Renato Lopes
Taubaté, 19 de novembro de 2012

Visitem www.renatolopesmotoviagem.com
 
 
 
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Comentários (13)

2/2/2017 23:52:52
H8VWWHZ7W
Nointhg I could say would give you undue credit for this story.
 
7/6/2014 15:48:22
SERGIO ARAGÃO
Boa tarde, sou motociclista, resido em Aracaju (SE), e sempre que posso estou na estrada. No momento estou planejando ir até o sul do país, mais precisamente Santa Catarina, fazer a Serra do Rio do Rastro, depois dar uma chegada até o Rio Grande do Sul, passando pelo Parque Nacional da Serra e algumas cidades que considero ser interessante. Volto passando em Londrina-PR para visitar parentes e de lá volto pra casa. Considero de suma importância buscar informações e experiências de quem já tem mais tempo e quilometragem rodada, por isso gostaria de saber como faço para adquirir um dos seus livros. Obrigado e parabéns.
 
30/12/2012 10:16:01
BETO SAMPA
Grande Renato Lopes.
Parabéns, que maravilha de entrevista meu irmão.
Esse Gugu não tem jeito, sempre tendo uma grande participação em nossas vidas.
Abraço e um feliz 2013 com muitas estradas.
Vamos que vamos
Beto Sampa
 
18/12/2012 17:55:11
FERNANDO COSTA DA SILVA
Conheci Renato Lopes em Curitiba no ano de 2005. Era um encontro do DR800 Motoclube. Tinha acabado de ler seu primeiro livro e quando o vi, resolvi me apresentar e travamos uma longa e prazerosa conversa. Mostrou-se uma pessoa extremamente atenciosa. Trocamos mensagens por algum tempo e quando em 2010 parti para um giro até o Ushuaia, tive todo o apoio na preparação da viagem. Passei por Santa Maria/RS e espero,em algum momento, poder retribuir toda a atenção que tive desse Gaudério.

Fernando Costa - Brasília/DF
 
28/11/2012 20:21:54
RUI CARLOS DIPP
Parabéns grande amigo Renato. Pelo conteúdo de tuas respostas, confirmamos com certeza aquilo que todo mundo já sabia, que efetivamente vc é hoje um ícone no cenário motociclístico nacional, modelo a ser seguido, pela tua simplicidade, humildade e extraordinária capacidade de espalhar tanta amizade por onde passa. Parabéns ao Gugu por ter proporcionado aos leitores do seu website conhecer um pouco mais sobre esse grande motociclista que é o Renato Lopes.
Rui Carlos Dipp - Soledade, RS.
 
28/11/2012 13:24:21
SÉRGIO SOUTO
Como sempre um irmão motociclista com a alma recheada de desafios e disposto a vencê-los no seu devido momento, sempre com o auxilio do Grande Arquiteto. Parabéns e que possas ainda fazer muita poeira. TFA. Souto.
 
26/11/2012 19:35:00
JAMES CARDOSO
Grande Renato, grande irmão, transcreve sempre com simplicidade suas aventuras por este planeta, que aos poucos vai ficando pequeno. Grande abraço a vocês!
 
22/11/2012 22:02:36
MARCO ANTONIO FREITASNEMO
Tenho a alegria e satisfação de conhecer Renato Lopes,realmente uma pessoa da qual me orgulho de ser amigo;tem uma visão de mundo muito especial e trata dos amigos com muito carinho !!!
Salve Renato !!!!
 
22/11/2012 21:33:26
AIRTON VÈIO DRAGOES DE SUZANO
nao vou coloca-lo como o maior motociclista do Brasil, pois estaria tirando os meritos dos demais e vejo a todos com a mesma admiraçao e respeito, mas sem dùvidas suas colocaçoes chega a fazer com que a gente se sinta nas estradas, parabens e espero estar lendo muitas outras entrevistas , pois sò aumentam nossos interesse por essas maquinas maravilhosas, abraços
 
22/11/2012 21:07:17
PAULO CANIBAL
Gugu muito boa sua entrevista com o Renato Lopes um Nobre Motociclista fazedor de chuva, que tem em sua humildade seu forte e ser sem duvidas nenhuma uma formidavel pessoa. O que me honra em ser seu Amigo e Irmão Motociclista.
 
21/11/2012 20:38:04
OTAVIO ARAUJO GUGU
Eduardo e Renato, amigos queridos.
Foi com muita alegria que entrevistei esse que considero o maior motociclista da atualidade no Brasil, em todos os sentidos, como pessoa, como piloto, como amigo, como pai. Espero que os leitores do Rotaway apreciem a sagacidade desse jovem senhor, destemido, um cavalheiro sobre duas rodas. Também cabe uma homenagem ao parceiro e escudeiro Edson, sempre presente às aventuras. Foi um prazer imenso poder ter a honra de fazer essa entrevista. Meu fraterno moto abraço a todos. Gugu - Taubaté / SP
 
19/11/2012 21:37:32
MARCIO ALVES ROBERTO
Ótima entrevista! Este gaúcho gente fina, é um dos mais importantes motociclistas brasileiros da atualidade, pela experiência adquirida e conhecimento, pelo menos na minha modesta opinião. A entrevista traduziu perfeitamente as idéias do amigo Renato Lopes. Quem o conhece sabe a extraordinária pessoa que é, e que faz toda a diferença, com a sua humildade, amizade e atenção fora do comum. Já tive a honra de hospeda-lo em minha casa por 2 dias este ano, aonde conversamos muito, sobre tudo, inclusive motos e viagens... Mas o que não esqueço foi quando o conheci, pela internet, depois que comprei o primeiro livro dele (Pelas Rutas do Cone Sul), e mandei um email dizendo que estava indo para o Atacama, em 2009, a minha primeira grande viagem. Um belo dia, toca o meu celular, eu na moto, atendi pelo comunicador, era o Renato! Queria saber se estava tudo bem, aonde eu estava, etc... Esta atenção toda, mesmo sem me conhecer pessoalmente, é uma característica dele, e faz a diferença! Parabéns ao Gugu, e ao Eduardo pela excelente idéia de entrevistá-lo! Abraços!
Marcio A. Roberto - Campo Grande/MS
 
19/11/2012 19:10:06
MANOEL MOURA
Renato, as tuas respostas sabiamente enfatizam a importância da atitude e da humildade. Muito bacana !
Gugu, parabéns pela boa entrevista que nos permitiu acesso a esse excelente conteúdo.
Forte Abraço a ambos.
 

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