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QUER MOTOS MAIS SIMPLES?

 
Acompanhando a tendência do mercado mundial de grandes motos de uso misto, percebe-se que as motos de aventura estão acabando. As motos têm rodas cada vez menores, pneus cada vez mais lisos, suspensões cada vez mais curtas, motores cada vez mais fortes, e cada vez mais, novas tecnologias embarcadas.

As fábricas não impõem modelos de motos. Elas dão o que o mercado pede.

E o mercado são os motociclistas, que se expressam através de pesquisas de mercado ou fazendo de um determinado modelo um sucesso de vendas.

O mercado de motos está passando pelo mesmo fenômeno que o dos carros. Nos carros, também houve primeiro um aumento no mercado de jipes e picapes, mercado este que depois migrou para os utilitários esportivos.

Mas existe uma explicação histórica para o crescente interesse por veículos utilitários, que se iniciou nos anos 70s: o CAFE (sigla em inglês para Consumo de Combustível Médio Corporativo), um programa criado pelos Estados Unidos para controlar o consumo de combustível dos veículos, devido à primeira crise do petróleo. Por este programa, os carros tinham limites de consumo de combustível bastante baixos, enquanto os jipes e picapes tinham limites menos severos.

Como os americanos odiaram os motores pequenos e econômicos dos carros, muitos migraram para os jipes e picapes como veículos para o uso cotidiano. Com o tempo, perceberam que esses veículos eram pouco confortáveis e seguros e então esses veículos foram virando automóveis novamente, chegando aos utilitários esportivos.

Aqui no Brasil, praticamente se pulou a fase dos jipes urbanos. Passou-se dos jipes Willys e Toyota direto para os utilitários esportivos; a grande maioria sequer com tração integral.

Mas e as motos? As grandes motos de uso misto estão diretamente ligadas ao rally Dakar, corrida que é uma das últimas grandes aventuras da humanidade.

Do Dakar nasceram a BMW GS, a Honda Africa Twin, a Cagiva Elefant, a Yamaha Super Ténéré, as KTM LC4 e LC8, todas várias vezes vencedoras do rally. O Dakar cortou o sul da Europa e o norte da África, entre os anos de 1979 e 2007.

Por motivo de segurança, não foi disputado em 2008 e, desde 2009, é corrido na América do Sul. Esta mudança claramente tirou a visibilidade da prova na Europa, que ainda é o centro do mercado motociclístico mundial. Mesmo na América do Sul, a prova não tem mais a mesma atração. Antigamente, todos os 15 dias de prova ganhavam uma página inteira dos cadernos de esportes dos principais jornais do Brasil.

Hoje em dia, há apenas notas de rodapé, que apresentam os vencedores da etapa. Matéria de meia página, com foto, só se morrer alguém. Sem sua principal propaganda, o rally, as motos dele derivadas vieram perdendo força.

Se poucos motociclistas, de fato, usavam as capacidades fora de estrada de suas motos, então por que andar com motos dessas? E assim as motos de uso misto se tornaram, à semelhança dos jipes, utilitários esportivos. Têm um desenho que lembra as motos de rally, mas têm pneus lisos, suspensão de pequeno curso, rodas de liga-leve, motores multicilindros, freios antibloqueio, controle de tração, suspensão eletrônica, seleção de modo de desempenho, câmbio automático.

É óbvio que, se o mercado pede estas motos, elas têm mais é que ser vendidas. A tendência é que concentrem a produção em grande escala destas motos e parem de fazer as motos mais simples.


E, na maioria das vezes, os grandes prazeres estão nas coisas mais simples.


Rodrigo Moraes
Campinas – SP


 
 
 
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Comentários (13)

2/2/2017 23:46:11
8ON8SN5GPC
This is the perfect way to break down this infoimatron.
 
14/6/2012 12:46:48
MANOEL MOURA
Rodrigo,
Os comentários feitos até agora são suficientemente abrangentes para eu não me extender nesse caminho, mas isso não me impede de parabenizá-lo pelo bom conteúdo do texto.
Abraço,
Manoel Moura
 
3/5/2012 22:15:48
MARCUS VINÍCIUS
Muito bom o texto. Mas como sou motociclista novato, não tenho saudades das antigas, mas gostaria de ter várias motos, de cada estilo, até harley e BMW...mas os preços aqui no Brasil não dá...mas um dia chegamos lá...
 
18/4/2012 23:12:41
GUILHERME BH
Escolhas, a vida é feita de escolhas né! Mas é fato que muitas das vezes a decisão de compra de muitas pessoas passa pela mensagem que o marketing dos fabricantes propôem. Adventure é palavra que vende...e vejo que existe muita gente que acreditam que a simples compra de uma moto "asfaltiventure" já os torna verdadeiros exploradores. Massssss, cada um é um né, como diz um amigo!
Penso que o conforto nas investidas adventure sempre fica no segundo ou terceiro plano. Cama boa eu tenho em casa, conforto na estrada fica no meu carro.
Os lugares mais interessantes muitas vezes têm o acesso mais difícil. E aí não dá prá inventar muita moda high tech! Acredito que a big trails deveriam optar pela simplicidade, sempre!
Outras categorias como SMT é que devem ter rodinhas, penuzão liso, high tech e tudo mais.
Coaduno com a opinião do Rodrigo.
Em se tratando de moto adventure, menos é mais!
 
18/4/2012 17:03:30
RODRIGO MORAES
Agradeço ao Eduardo pelo espaço, e a todos pelos comentários. É pra isso que escrevemos. Não sou contra as motos modernas, aliás não sou misoneísta, absolutamente. Só acho triste que as motos de aventura simples acabem. Dando nome aos bois: a Varadero matou a Africa Twin, a Navigator matou a Elefant, a TDM matou a Super Ténéré e a LC4 Adventure se suicidou.
 
18/4/2012 16:37:02
ITSHAK MIROVSKI IZI
Rodrigo,
Gostei muito do texto e concordo, mas, nao temos o que fazer...e a tendencia mesmo por isto nao vende a BAND e nem a LC 4,
Abraco,

Izi
 
18/4/2012 14:56:24
MARCELO RESENDE
Rodrigo.
Muito pertinente o seu texto.
Infelizmente cada vez menos temos motos ágeis, leves e com motores que podem ser usados sem medo.
É inacreditável como as motos, especialmente as big trail, tem aumentado de peso. E não é só a questão ambiental que se encarrega de tal obesidade. É tanta tranqueira que tem que ser enfiada nas motos, é tanta potência que tem que ser retirada da motor que as motos estão virando realmente uns bois.
Não demora e estaremos pilotando big trails mais pesadas que Harley e mais potentes que esportivas. E como tais motos irão para a terra?
Parabéns pelo texto.
 
18/4/2012 10:21:56
DANIEL ALVARES
Concordo tb com o texto, porém acho que um meio termo deveria ser mais explorado pelas montadoras, que é o que a BMW faz, disponibilizando o conforto do abs, controle de tração e tudo mais, mas deixando a opção do motociclista desativar esses recursos e sair da estrada!

Pois este é o ideal, uma motocicleta realmente versátil, já que podemos ter o conforto e a robustez em uma única motocicleta!
 
17/4/2012 20:37:15
JORGE CANCELLA
Caro Rodrigo, gostei bastante do texto, concordo plenamente com a visão do mesmo. Conservo até hoje (13 anos) minha Cagivona Ducati 750 Elefant (modelo Lucky Explorer), mas já transformei minha Honda XR 650L em motard e finalizando...sobrou a boa, velha e com um excelente custo-benefício da minha Falcon, que já me levou até o fim do mundo, hoje é a do dia à dia seja na cidade ou em trilhas não muito travadas e enlameadas (prá não incomodar os parceiros, hé, hé...); entendo assim que cada moto-modelo tem uma finalidade de uso; mas concordo com a tendência atual das multi-motos; se bem que na maioria das vezes o que manda é o ...preço final! Abração.
 
17/4/2012 11:30:32
ALBERTO CAMPOS DA COSTA
Rodrigo, parabéns pelo texto.
Hoje o conceito off road pode ser interpretado de várias formas. 1º, aquela motocicleta de viagem que não te limita a rodar por estradas de chão, e os modelos próprios para uso mais severo, como Enduro, Rally, etc.
Não podemos conciliar todas as características em uma só moto, aí vale uma uma boa reflexão para que tomemos decisão correta na hora da compra.
O Edu abaixo define muito bem quanto a expectativa que cada piloto terá quando adquirir uma moto.

Tive XL 600 que nunca me deu problema de suspensão, mas chegava moído em viagens mais longas, e há uns 9 anos tenho bigtrail, desde a Tiger a GSA que atualmente me acompanha por todos lugares, e chego fisicamente inteiro (quase! Dá um desconto para os meus 60 anos...rs) nos meus destinos

Mas como já dizia o meu avô, "cada macaco no seu galho".

Rodrigo, um grande abraço.

 
17/4/2012 11:21:14
CHARLES
Análise muito boa Eduardo.
Mas que os fabricantes contribuem para isso contribuem.
Em qualquer concessionária BMW Motorrad tem aquela foto clássica da GS 1200 Adventure trafegando num terreno que parece o solo lunar. Volta com uma quebra qualquer por falta de resistência e eles lhe negam a garantia por mau uso ou uso indevido mesmo que a moto não tenha um arranhão de queda.
Utilitário esportivo dá muito menos trabalho.
Abraços
Charles

OBS. isso me remete às primeiras montain bikes feitas pela Caloi aqui no Brasil. Quebrei o quadro de 3 fazendo muito menos do que mostravam as propagandas. Adventure é só o estilo de vida, o marketing a imagem que quer passar. Hoje a sociedade e a economia vivem disso: a imagem que se quer passar.
 
17/4/2012 11:18:30
EDUARDO WERMELINGER
Prezado Rodrigo,

Primeiramente quero agradecer a sua colaboração nos enviando este texto para o Rotaway.

Concordo com você. Atualmente podemos nitidamente observar uma grande mudança nos estilos de motocicleta e veículos, que originariamente nas suas versões, eram muito mais voltados para pisos/terrenos mais difíceis. Mas existem vários aspectos na tendência de construção pelos fabricantes. Cada vez mais se prima pelo conforto, por recursos que a tecnologia dispõe para o piloto, e aqueles outros modelos que precederam os atuais, sofreram grande modificações. Mas vale ressaltar que ainda existem no mercado “motocicletas” onde as marcas disponibilizam modelos específicos para competições, como Enduro e Rally. Aí cabe a cada um definir a sua proposta de uso, optando por um ou simultaneamente mais outros modelos que atendam as suas expectativas.

Um grande abraço,

Eduardo Wermelinger
WWW.ROTAWAY.COM.BR
 
17/4/2012 11:03:18
RICARDO LUGRIS
Caro Rodrigo, bom post. Interessante debate. Se voce quiser saber por que uso uma GSA, dê uma olhada em meu post sobre a Rota da Seda. Além do equipamento que voce mencionou, ABS, ESA, GPS, etc. Deveria ter também mencionado a robustez, confiabilidade e conforto para viagens que normalmente se passam em países remotos e em estradas nem sempre recomendáveis. Minha moto não é para uso urbano, é para longas, ( e muitas vezes difíceis) viagens. Abraço. RL
 

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