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OS ATAQUES DOS ANIMAIS

 
Por Marcelo Resende


“Se não quer emoção, melhor não descer para brincar no playground.” Se estávamos em uma das regiões mais selvagens da África, absolutamente sozinhos e de moto, o que não nos dava qualquer proteção contra os animais (mas nos aproximava das pessoas), certamente levaríamos alguns sustos.

Eu só não podia imaginar que seriam tantos sustos durante tão pouco tempo.

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Como eu já relatei antes, o primeiro foi o ataque da leoa em Ghanzi quando a fotografávamos enquanto ela comia. Separados por uma pequena tela do tipo que se usa para cercar galinheiro, lá estávamos nós a uns 15 metros do felino que havia entrado para se alimentar. Era um espaço cercado pelo lodge e onde regularmente jogavam carnes e ossos para que os leões pudessem ir lá comer quando quisessem. Dada a regularidade de horário da comida, era fundamental ter tal área cercada para proteção do empregado quando ia jogar as carnes à espera dos leões.

Tínhamos a recomendação de ficar distantes da tela, mas isso não dava uma boa foto. E sempre íamos perdendo a noção do perigo em busca da foto perfeita. Começamos a enfiar as lentes das máquinas pelos buracos da tela. A leoa parou de comer, nos olhou e rugiu uma vez. O recado estava dado, mas não tomamos conhecimento. Quando o Eduardo mudou a posição da câmera, a leoa rugiu de novo e partiu para cima como se ....... se estivéssemos acuando uma leoa comendo......

Em duas passadas a fera estava a uns 2 metros do Eduardo, que por sua vez estava à minha frente. Antes de encarar a tela, ela mudou o destino do ataque e saiu pelo portão que a separava da área externa. O ataque foi tão rápido que nem deu tempo de tremer. Só depois que a adrenalina correu nas veias e lembrar dos dentes da leoa ali tão próximos foi realmente uma grande susto.

O Eduardo trabalha com a teoria de que aquilo não foi um ataque, mas somente um susto que ela estava nos pregando para conseguir abrir caminho para escapulir. Conhecendo um pouco de felinos (tal qual mulheres), acho que o ataque é sempre sem piedade, embora possa mudar rapidamente de direção se houver conveniênia........

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O segundo susto, também já citado, foi com um hipopótamo quando passeávamos em um pequeno barco de alumínio no delta do rio Okawango. Como sempre, estávamos em busca da foto perfeita e rumamos o barquinho em direção a um amontoado de hipopótamos no meio do rio.

E como tinha hipopótamos naquele rio!

Chegando próximo ao grupo, eles afundaram e desapareceram. Quando passamos, percebi que dois hipopótamos calmamente seguiam o barco que, com aquele motorzinho de dentista, ia lentamente subindo contra a correnteza.

Cheguei a comentar com o Eduardo que estamos interagindo com a natureza e que aqueles bichos eram muito bonitos. Até que um deles chegou a uns 3 metros do barco e, de uma vez, se projetou (não sei como bicho conseguiu fazer aquilo; parecia ter uma turbina) para cima do barco com aquela boca imensa aberta e berrando. Por muito pouco não mordeu a traseira do barco, o que certamente nos afundaria.

E ter que nadar no rio Okawango, cheio de hipopótamos e crocodilos, definitivamente seria tão seguro quanto uma usina nuclear japonesa em dia de terremoto.

Só depois desse ataque que fiquei sabendo que os hipopótamos são os animais que mais matam pessoas na África. E parecem tão lentos e dóceis. Eu estava até pensando em nadar com um deles como se fosse o Flipper.....


Mas de todos os ataques, o que mais me assustou realmente foi o ataque do elefante

Eu queria uma foto de uma GSA na estrada próxima a um elefante e, embora tivéssemos no final das contas visto muitos elefantes, ainda não tínhamos tirado a desejada foto.

Foi quando o Eduardo, que seguia à frente, viu um elefante imenso parado entre a estrada e a vegetação mais alta e não teve dúvidas: parou repentinamente a GSA fora da estrada, como se estivesse indo em direção ao brutamonte, desceu rapidamente e já foi pegando a máquina fotográfica.

Eu vinha atrás e, vendo a oportunidade da foto, deixei a moto ir andando em ponto morto e com motor desligado para não assustar o bichano.

Parei na minha mão de direção, do outro lado da estrada, e foi quando vi a cena montada: o elefante a uns 20 metros, no máximo, do Eduardo, encarando-o. Alguns segundos se passaram e só vi quando o elefante abanou as orelhas, suspendeu a tromba, deu aquele urro ensurdecedor e partiu rápido para cima do Eduardo, que ficou estático um pouco à frente da moto.

Ao parar a moto e perceber o risco, lembrei dos conselhos do comandante Lázarus (Namíbia) e dexei a chave da moto ligada. Quando o bicho começou partiu para cima do Eduardo, dei partida e acelerei em marcha lenta até o motor cortar giro. Isso deve ter incomodado os tímpanos sensíveis (dica do Lázarus) do bicho e ele se desviou do barulho e ficou próximo à mata mais alta, com o corpo escondido entre as árvores e a cabeça para fora sempre nos observando e ameaçando novos ataques.

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O Eduardo atravessou a estrada e veio em minha direção. Tentou subir na minha garupa, mas com capa de chuva, mochila nas costas e com a minha bagagem amarrada no banco de trás, estava mais fácil ele derrubar nos dois do que subir na moto, até porque com a inclinação do piso onde ela estava ficava difícil eu apoiar os pés.

O elefante nos olhando e ameaçando novo ataque e eu acelerando a moto







































Não houve outra alternativa a não ser o Eduardo voltar para a moto dele. Contudo, ela tinha ficado parada muito inclinada (acredite: não estávamos em uma autobahn) e o Eduardo não tinha como, sozinho, erguê-la para tirar do descanso lateral. Com um olho no elefante e outro no Eduardo, parei a minha moto perto da dele, desci e fui ajudá-lo.

Moto na vertical, ele a ligou e partiu. Montei na minha moto e fui atrás.
O elefante não era mais uma preocupação. A maior delas, naquele momento após ataques, era fazer a contabilidade das cuecas, pois já era a terceira que ia embora na viagem....rs...

Vale a pena ressaltar que os animais não são tão agressivos como pode parecer pelo que relatei.
Em todas as três situações, nós abusamos um pouco. A que menos abusamos foi com os hipopótamos, pois “apenas” passamos de barco bem próximo a eles. Os hipopótamos realmente merecem atenção, pois parecem muito com aquele tipo de pessoa que evito a todo custo: os bipolares.

No caso da leoa, vale a regra para qualquer felino: não deixá-lo acuado em locais fechados, especialmente se estiverem comendo. Sobre a minha teórica da semelhança entre os felinos e as mulheres, em outra oportunidade eu conto.

Agora, sobre o elefante, me diga o que você faria se dois animais estranhos montados em duas coisas barulhentas invadissem o seu habitat, se aproximassem abruptamente e ainda pesassem bem menos que você? Eu não teria dúvida: também tentaria transformá-los em patê.

Acho que preciso engordar um pouco mais antes de voltar à África....

 
 
 
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Comentários (2)

30/1/2012 15:57:16
MAGNO SILVEIRA
Amigos, vocês tem mais que disposição. Vocês são completamente doidos! rs. Procure aí no YouTube o que um elefante é capaz de fazer! Viajar com vocês, só pelos relatos! Muito bom! Um grande abraço.
 
30/1/2012 15:47:22
PEDRO GARCIA
Marcelo, ainda bem que você tem juízo, que se depender do Edu, pra ele está tudo bem. Pro Edu se a bichara atacar ele vai achar que no mínimo que "faz parte", e se os selvagens ficarem quietinhos, o cara vai dar um jeito de tirar o sossego dos bicos. rs! Marcelo e amigo Edu, hilária esta passagem de vocês. Abraços
 

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