BRASIL FAZENDO AMIGOS PELAS ESTRADAS

Mesmo no auge das insurgências políticas no norte da África, não encontrei motivos para que eu desistisse da minha viagem. Apenas tomei mais algumas precauções no sentido de não ter supressas.

No meu íntimo tinha uma grande tranquilidade, de ser BRASILEIRO.

Por mais que alguns movimentos destas manifestações tivessem até reflexos extremos, podendo pegar qualquer um desprevenido, como foi o caso do atentado em Marrakesh no dia 28 de abril, quando me encontrava naquela cidade, onde uma bomba matou dezenas de pessoas de diversas nacionalidades.

A Medina de Marrakesh

Em Marrakesh a direção da rua não era única, carros, pedestres e mobiletes , carroças entre outros veículos motorizados se entrelaçavam entre as vias, mas de alguma forma o tráfego fluía em todas as direções. Parecia que a lei da física era desafiada quando “duas matérias não ocupam o mesmo lugar”. As pessoas entre as vielas me passavam à sensação que a Medina estivesse pulsando.
Depois do atentado, Marrakesh se cala, se apaga. senti de perto uma sensação jamais vivida. Somente avista-se na praça a luz da Mesquita.


À noite a cidade não tinha mais o brilho das luzes
Sendo este atentado algo muito impactante, ainda tinha comigo guardado um forte sentimento que sempre contaria com a receptividade dos mulçumanos, em pleno território islâmico onde as pessoas ao olharem para a bandeira do Brasil na minha motocicleta, se mostravam mais receptivas.

Inicialmente quando eu chegava a determinado lugar, podia pressentir que de alguma forma eu ali naquele universo, de capacete com uma câmera, com o meu equipamento de proteção, destoando por completo das vestimentas que me cercavam, tinha plena convicção que por traz dos olhares das pessoas, além da curiosidade, existam infinitas interpretações quanto a minha presença naquele território.














Por muitas vezes, sequer conseguia ver os olhos das mulheres, o quando os via, percebia um olhar para o chão ou para algo muito distante, se perdendo no abstrato. Nas crianças era diferente. As atenções a minha pessoa eram precedidas de nítidas expressões que seguiam de curiosidade, tristeza misturada a alegria. Isso me fez entender um pouco mais que a felicidade em nossas vidas são momentos. A alegria vinda das crianças era refletida por gestos muitos simples da minha parte. Desde quando eu tomava a iniciativa de apenas fazer algum aceno, ou quando me permitia tentar comunicar.

MARRAKESH APAGADA, EM SILÊNCIO

Mas tinha um aspecto que era como se fosse um “toque de mágica” para que este quadro se revertesse. Era de alguma forma mostrar que eu era brasileiro.

Primeiramente mostrando a bandeira do Brasil, e quando o nosso pavilhão não era reconhecido, fazia a alusão ao nosso futebol a fim de mostrar a minha nacionalidade.

Nem sempre era rápido o processo de receptividade, mas aos poucos aquelas expressões fechadas e hostis iam se transformando, e por muitas vezes a minha recompensa de ser brasileiro era ver um sorriso de recepção, principalmente quando os presenteava com uma pequena bandeira do Brasil.


Já com os homens era diferente. Principalmente em aldeias mais distantes. Os olhares deixavam transparecer ostensivamente um ar de desconfiança. Mas era compreensível.

Mas por onde passava, mesmo nas estradas quando a motocicleta em movimento, fazia questão de presentear os motociclistas, sejam eles de qualquer nacionalidade, com uma bandeira do Brasil.
Era um simples gesto da minha parte, mas sabia que seria uma demonstração, que nós brasileiros, somos abençoados por termos uma amplo laço de amizade com todos os povos.


Veja este pequeno vídeo para entender um simples gesto junto a outros motociclistas



Historicamente já conhecemos muitos motivos que os livros nos ensinaram
Agora era diferente. Eu estava ali para constatar estes contrastes. Mesmo as vezes com certo receio de poder estar invadindo de alguma forma as fronteiras culturais, tentava com muita habilidade mostrar que eu estava ali somente para conhecer e respeitando estas diferenças.
















Mas sempre era brindado por muitas recompensas.
Entre algumas delas, apenas posso traduzir na fotografia abaixo.

Este era o meu passaporte. Ser BRASILEIRO