SUPER TENERE OU BMW GSA?

Por enquanto apenas vou falar do comparativo entre as duas motocicletas, a BMW GS Adventure e a Super Tenere 1200 da Yamaha e, brevemente estarei publicando aqui no Rotaway relatos desta fantástica viagem por lugares tão mágicos, surpreendentes, encantadores e as experiências inesquecíveis e registros que mostram o extremo de culturas distintas, como o atentado terrorista ocorrido em Marrakesh quando me encontrava naquela cidade.


Vamos voltar a falar sobre estas fantásticas motocicletas

Quero primeiramente reforçar a quem esteja lendo este texto que esta é a minha avaliação pessoal, de um simples usuário, e que não tenho qualquer certificação para que as minhas opiniões sejam dadas como informações oficiais. Não sou piloto profissional, diferentemente do piloto espanhol Enrique Diaz que é devidamente certificado pela Yamaha a fim de realização de testes com as motocicletas desta marca.

Como todos já sabem, o site Rotaway não tem compromisso com qualquer marca, e sim em ser um espaço aberto ao motociclismo e, principalmente, feito por motociclistas.

Portanto, venho consignar algumas referências sobre o comportamento destas duas motocicletas, onde nos percursos realizados durante esses dias de viagem, deparamos com todo tipo de piso, desde asfaltos impecáveis nas estradas da Europa a terrenos off Road em território africano.

Quanto ao piloto espanhol Enrique Diaz, este sim, além de ser profissional e instrutor da Rider Training MotoXplorers, participa de um grupo de testes para marcas renomadas no mercado. Inclusive, essa Super Tenere 1200 foi cedida pela Divisão Yamaha da Europa para realização desta viagem, onde as motocicletas seriam expostas a várias condições de pisos em topografias das mais diversas possíveis, desde estradas muito bem pavimentadas em território europeu ao nível do mar, também em terrenos com um grau maior de dificuldades para que estas motocicletas, juntas, cruzassem em suas rotas pisos com muitas pedras soltas, lama, areia rígida e a alturas de 3150 metros nas Montanhas Atlés.


A partida
Partimos de Lisboa em datas diferentes. Saí três dias à frente do Enrique e ficamos de nos encontrar no Estreito de Gibraltar para juntos entrarmos no continente africano por Ceuta.

Em Portugal, com a BMW GSA, segui rumo ao sul passando pela região do Algarve, atravessando a Serra Arrábida para chegar ao litoral sul e seguir em direção a Isla Cristina, já na Espanha. Esta região tem uma reserva ambiental que se estende até Cádiz.

Neste percurso, já na Espanha, após Isla Cristina até Cádiz, temos quase 130 km de viagem fora da estrada. O piso é de areia rígida e, em alguns trechos, um pouco de lama, principalmente próximos às vegetações.

Como já sou familiarizado com GS Adventure, tomei todos os cuidados necessários para que não fosse ao chão naquele piso e, se por ventura eu precisasse de ajuda para levantá-la novamente, com toda a minha bagagem, não poderia contar com mais ninguém além da minha pessoa em razão da região ser quase totalmente deserta.

Estava usando um pneu Tourance da Metzeller, que na verdade era a opção mais adequada, principalmente por ter em todo o percurso apenas uns 20% de terreno off Road e grande parte deste trecho fora de asfalto seria de terra batida. Não justificava ter outro jogo de pneu, já que os pisos mais radicais eram em menores proporções.

Estava ansioso por vários aspectos. Primeiro por ser a minha primeira vez a rodar pelo norte do continente africano e depois por ter a oportunidade de fazer uma avaliação dentro de um quadro comparativo entre essas duas motocicletas.

Muitos sabem que no Brasil utilizo uma GSA e sou apaixonado pela marca, mas sempre estou aberto a novas experiências no sentido de conhecer as opções que o mercado pode disponibilizar para que possamos sempre estar aproveitando os benefícios destes lançamentos, com a nossa vontade de buscarmos novos horizontes com a motocicleta que mais possa se adequar aos nossos propósitos.

A minha preferência é ter uma motocicleta que me proporcione transitar por todo tipo de terreno e que permita levar-me a um pouco mais além das fronteiras que estejam ao alcance nos nossos olhares.

Nesta avaliação vou levar em conta os seguintes aspectos: conforto, estabilidade, retomadas, freios e condução em pistas asfaltadas e fora da estrada.


CONFORTO
A ergometria na ciclística da Super Tenere tem uma característica diferente da GSA.
A Yamaha Super Tenere também é muito confortável. Tem uma excelente postura de pilotagem, embora eu com os meus 1.85m tenha sentido que as minhas pernas ficaram um pouco mais dobradas que quando estou na GSA.

Prefiro a posição próxima dos 90º de flexão do joelho ao pedal. Uma posição que em longas viagens sentimos grande diferença no final do dia, além de nos permitir que tenhamos mais facilidade para nos erguermos e nos posicionarmos em uma pilotagem em pé, principalmente em terrenos off road.

Em razão das pistas pavimentadas nos permitirem chegar a velocidades mais altas, quando por volta dos 180 km/h (velocímetro) da Super Tenere, a aerodinâmica fica muito prejudicada. O para-brisa da Super Tenere não proporciona a proteção do vento como a bolha da GSA. Mas com opcionais disponíveis no mercado, como a extensão do defletor de vento frontal, provavelmente melhore esse desconforto.

Mas o vento que entra pela lateral do cockpit talvez ainda seja uma questão sem solução. Na GS Adventure há esse complemento dos defletores laterais que, embora separados, trabalham conjugados com a bolha frontal, evitando turbulência em velocidades mais alta.

Quero fazer uma observação quanto ao banco da Super Tenere: é muito bom, com um formato quase idêntico ao da GSA.

No quesito conforto, me referindo ao off Road (Estrada de Terra não muito radical), ainda prefiro a GSA.

ESTABILIDADE
A Super Tenere demonstrou uma excelente estabilidade.
Quando nas curvas, mesmo seu centro de gravidade sendo um pouco mais alto que o da GSA e com sistemas de suspensão completamente distintos entre as duas marcas, a Super Tenere foi impecável nas curvas de alta e principalmente as mais fechadas.

Na saída de curva, a Super Tenere retoma muito rapidamente a sua posição central, se comportando de forma muito ágil a estar sempre pronta para retomar uma nova curva.

CONDUÇÃO FORA DA ESTRADA
Destaca-se pelo conjunto de suspenção, tendo o conjunto dianteiro muito preciso para as respostas de contra esterço.

Quando a roda da frente pega um buraco ou se mantém em um ritmo de marcha em estrada com piso muito irregular, o curso dianteiro da suspenção traz muita tranquilidade para o condutor. Mas quando a motocicleta está enfrentando uma descida um pouco mais radical no off road, seu comportamento sofre alterações, já trazendo certo desconforto, onde é nítida a sensação do peso da motocicleta estar se deslocando para frente e o conjunto dianteiro traz uma impressão de que a suspensão da motocicleta está afundando.

Isso não ocorre com a GSA que em situações semelhantes vê o seu sistema anti-mergulho realmente cumprindo a sua função.


EM BREVE A SEQUENCIA DE PEQUENOS VIDEOS COM AS DUAS MOTOCICLETAS

Um aspecto que merece uma observação é que em giros mais baixos, a Super Tenere trabalha de forma a solicitar mais troca de marcha, ao contrário da GSA que mantém um ritmo de giro baixo mais ajustado e equilibrado, não havendo a necessidade de troca de marchas para que se mantenha pronta para qualquer retomada em baixa rotação.

Uma coisa é certa: A Super Tenere é excelente no controle do contra esterço levando vantagem sobre a GSA. Posso utilizar um termo não técnico, mas apresenta uma melhor elasticidade nestas correções ao centro de gravidade quando necessário fazer com que a motocicleta se ajuste novamente a sua posição perpendicular ao piso.

Mas quero enfatizar que mesmo a GS Adventure tendo um pouco mais de dificuldades em terrenos onde predomina o piso de areia mais fina, em terrenos os quais são mais acidentados, e principalmente em estradas de terra, mesmo não muito batidas, a constância do giro do motor da GSA, ajudou, e muito.

FREIOS
Por mais que muitos defendam a tese de que o ABS pode apresentar melhores resultados no off road, mesmo eu estando na contra mão desta opinião, sempre desliguei o ABS quando fora da estrada. Com o ABS e o controle de tração desligados, sinto que mesmo que a tecnologia embarcada faça a sua parte, ainda prefiro ter a sensibilidade por completo nas pontas dos dedos quanto à intensidade da frenagem. Infelizmente não tive essa opção de desligar o ABS na Super Tenere.

• Nota: Existe um acessório que brevemente será lançado no mercado, onde esta função será resolvida com um controle, que permitirá o condutor desligar o ABS com a motocicleta em movimento.

Para a mim em determinados momentos, dispenso as inovações tecnológicas entre a ponta dos dedos no manete dos freios e a palma da mão no acelerador, principalmente no off road, quando sinto que o ABS e o Controle de Tração me tira a sensibilidade do comportamento nas respostas na frenagem e aceleração.

Em razão da dificuldade de desligar o ABS na Super Tenere, não tenho como me estender sobre o comportamento do freio no off road, por não poder usar a motocicleta com o ABS desligado.


MOTOR
Indiscutivelmente estamos falando de motorizações com conceitos bem diferentes, mas com respostas muito semelhantes.

Tive a oportunidade de sentir o comportamento do motor nos modos S (Sport) e T (Turismo), tanto no asfalto como em pisos fora da estrada. É sensível o comportamento destes dois módulos.
Quando no estágio S, seu torque é impressionante!
A motorização da Super Tenere te proporciona uma excelente retomada quando em alto giro, depois dos 5000 RPM, bem diferente do comportamento em rotações mais baixas, mesmo no estágio S (Sport).

Embora as duas motocicletas tenham excelente retomadas para ultrapassagens nas estradas, a ST1200 tem uma pegada mais esportiva que a GSA, mas este não é propósito deste estilo de motocicletas. A proposta é ir a quase todo lugar, e primando pelo conforto, principalmente em viagens longas.

INSTRUMENTOS
Na Super Tenere, a posição dos cabos do acelerador e do freio, curvam-se sobre o painel, dificultando a leitura, estando apenas mais visível o velocímetro digital.
Embora não seja um fator importante, mas algumas informações, como a sequencia de marchas não estão disponibilizadas para leitura no painel, entre outras informações que uma GSA Premium pode proporcionar ao condutor.


ACESSÓRIOS OPCIONAIS E ITENS DE PROTEÇÃO

Já existem vários conjuntos de kits de proteção, no motor, do tanque, cárter, faróis e outros protetores para o chassi da Super Tenere.
Além das malas originais em polímero, já existem no mercado alguns modelos em alumínio reforçado.


CONSIDERAÇÕES DIVERSAS
Não vou entrar no mérito de autonomia, onde obviamente a capacidade de armazenamento de combustível da GSA é muito maior.


Para que eu possa dar uma referência muito simples, a Super Tenere é uma motocicleta com características intermediárias, entre a BMW GSA e a KTM 990 Adventure.

Entre todos os itens observados, posso afirmar uma coisa: No final de um dia de viagem, a GSA te deixa muito mais inteiro.


Para resumir:

duas motocicletas que mesmo cada uma com a sua particularidade, são extremamente companheiras para dividir qualquer território.





Amigos, me desculpem por não entrar em questões técnicas, pois as marcas já disponibilizam estas informações oficiais, apenas aqui deixo registrada as minhas impressões.

Um grande abraço,

Eduardo Wermelinger