DIA MARCANTE EM ELBAYADH
Contrastes de comportamentos que além da cultura, nos fazem enxergar por uma outra ótica estas diferenças
Quando parei, vieram três crianças na minha direção pra ver de perto a motocicleta. Além da curiosidade, as crianças estampavam em seus olhares uma discreta tristeza.
Tirei da minha mochila quatro barras de cereal, ofereci uma a cada das três crianças, e comecei a comer.
As crianças abriram um leve sorriso, e antes mesmo de levar as barrinhas de cereais na boca repetindo meu gesto, apareceu repentinamente um homem que retirou as barras de cereais das mãos das crianças e arremeçou-as no canto do calçamento perto de uma espécie de bueiro.
As crianças saíram correndo pra dentro de uma loja que parecia ser de artesanato, panelas, etc... sem ao menos olhar pra trás.
Este mesmo homem ficou parado a minha frente do outro lado da moto, e me olhou como se estive ali com aquela "missão"...
Sutilmente acenei, peguei um cigarro e lhe ofereci, e ele aceitou.
Disse-me algumas palavras em árabe que fiquei na mesma, sem entender absolutamente nada!
Ascendi o meu cigarro e sem deixar a chama apagar, levei o isqueiro em direção ao homem, e ele aproveitou-a e também ascendeu o seu cigarro.
Ele já não olhava mais pra mim. Começou lentamente a observar a motocicleta e concentrar sua atenção no navegador. De forma bem tranquila, tirava a minha jaqueta enquanto o homem não desgrudava o seu olhar do GPS.
Ele apontava para a tela do GPS e pro chão, simultaneamente fazendo círculos com o dedo como se dissesse "- Estamos aqui!"... Eu balancei a cabeça dizendo que sim.
O homem mesmo com o cigarro na boca preso pelos dentes, já externava um sorriso muito disfarçado, e continuava firmemente olhando o GPS. Eu me aproximei do GPS e toquei na tela para mostrar que arrastando o dedo no ecrã, o sistema touch screen permitia mudar a tela.
Aí o homem já ri, diz algo em árabe e chama mais outros dois homens que se encontravam a uns 5 metros da motocicleta.
Um dos homens que se aproximou, falou algo em árabe que também não entendi. Gesticulou dizendo também querer um cigarro, e assim eu o ofereci e aos demais que chegaram depois.
Enquanto peguei o isqueiro ouvi o barulho do motor de motocicletas, e lá chegavam meus parceiros de viagem.
A recepção dos meus parceiros já foi mais amistosa.
Os homens acenavam para os meus amigos, e seguiram na direção de suas motocicletas, dirigindo ao painel, com o mesmo ar de curiosidade pra ver se também tinham GPS.
Enfim, nos dirigimos para tomar uma coca-cola, comprar mais águas, e darmos sequencia a nossa rota.
Assim fizemos, ligamos as nossas motocicletas e partimos.
Pelo retrovisor via as crianças ficando pra trás.
Sem sequer acenarem pela nossa despedida.
Mas fica uma forte lembrança das diferenças as quais podemos nos deparar pelo mundo afora.
... Esta parada poderia cair no esquecimento se não fossem aquelas crianças e a rude reação daquele muçulmano, acompanhada da curiosidade e mudança de comportamento por causa de um gesto de paciência, de tentativa de comunicação que foi feita com sucesso, ao lhe mostrar o GPS.