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DEUS OS FAZ, E ELES SE JUNTAM

 
Relato de uma pequena, mas bela viagem, realizada de 22 a 27/junho/2008 de Campo Grande/MS a Tiradentes/MG, por 4 grandes amigos. Na época, tinha pouco tempo e experiência em viagens de moto, e foi uma das maiores viagens que fiz, até então.

“Moro em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, estado que tem belas estradas, muito retas e planas. Ter uma moto sempre foi o meu sonho. Comecei com uma Honda Tornado 250 em 2005, e já em 2007, realizei um sonho, comprando uma Suzuki VStrom DL1000, uma BigTrail, estilo que sempre gostei, para viagens.

Em junho/2008, resolvi com mais 3 amigos, quase que de última hora, ir no famoso encontro de Tiradentes, em Minas Gerais. Saímos em uma quarta feira à tarde, já que tínhamos 1.400 km para percorrer. O plano era chegar lá na quinta à tarde. Éramos quatro viajantes: 3 Harleys e eu de VStrom, tocando na média a 120-140 km/h, todos sozinhos, sem garupa. No início, a tocada foi um pouco mais "forte" até a cidade de Três Lagoas/MS, pois havíamos marcado de encontrar um dos amigos por lá, o Marco Girão. Na entrada da cidade, ainda no MS, na divisa com SP, em uma rotatória, tinha uma poça de óleo diesel derramado no chão. O famoso óleo na pista. O primeiro amigo, Jorginho, que estava um pouco na frente, passou fora do óleo. O segundo, o Julio, pegou e quase caiu, e o terceiro, que era eu, foi o escolhido. Entrando na rotatória e, mesmo devagar, quando passei sobre o óleo, a moto deslizou um pouco a traseira e “rabeou” com força. Eu me assustei, freei (creio eu!), a moto foi reto, bateu no meio fio do canteiro do lado direito, e eu fui para o chão, sem saber como, nem quando, naquele que seria o primeiro tombo de moto, na estrada, da minha vida. Devia estar a uns 40-50 km/h. Sai da moto pela esquerda, também sem saber como. Na hora do tombo, quase que pulei da moto e cai de pé, em puro reflexo mesmo. Estava bem equipado, com jaqueta e calça de cordura com proteções, luva, protetor de coluna, botas, etc... Nada de grave aconteceu, a não ser o meu pé esquerdo que ficou roxo na altura do tornozelo, e doeu por uns 3 dias, e uma mancha roxa na perna direita, em toda a extensão do joelho até a virilha, que ficou por até uns 15 dias depois! Nem o capacete encostou no chão.

Saí da moto, olhei, e pensei:
Acabou a minha viagem! A tão sonhada viagem para Tiradentes com os meus amigos!

Um dos companheiros, o Júlio, único que me viu cair, e que quase caiu tbm, voltou e me ajudou a levantar a moto, com outras pessoas que estavam por ali. Olhei a minha moto, e parecia que tudo estava bem, a não ser alguns arranhões na carenagem do lado esquerdo. Funcionei o motor e montei, com a adrenalina alta, tremendo de susto, e pensei: se estiver boa, continuo! Quando andei os primeiros metros, vi que a roda da frente estava torta, e o guidão balançava bastante quando andava. Ali pensei na hora: aqui em Três Lagoas tem Suzuki! Vou lá agora (Eram umas 4 da tarde), e troco ou mando desamassar a roda, se é que é só isto mesmo, e continuo na viagem! Quando cheguei na Suzuki, o pessoal me desanimou. Disseram que tinha que levar para Araçatuba, para desamassar. Nisto chegaram os amigos Jorge e Girão, que na confusão tinham se perdido da gente, e nada sabiam. Naquela hora ali eu desanimei, e também lembrei que tinha seguro da moto. Pensei: vou pôr a moto em um guincho, e voltar para Campo Grande. Eles seguem a viagem, já que o nosso plano era dormir em Bauru, 300 km à frente, na Marechal Rondon. Foi aí que eu conheci na prática, o real sentido da amizade: nenhum dos amigos me permitiu pensar em voltar sozinho, e ainda disseram: se a roda não ficar boa, voltamos todos amanhã, pois a nossa viagem já valeu a pena! Fiquei me sentindo realmente muito apoiado, e resolvi levar a moto até Araçatuba para tentar desamassar a roda.

Chegamos lá às 9 da noite, eu de Corolla do dono do guincho, e a moto em cima do caminhão. A adrenalina baixou, e a minha perna direita começou a formigar, na altura da coxa. Eu pensei: "Devo ter batido no guidão, quando saí por cima dela no tombo".

Descarregamos a moto, e o senhor Alcides, a "fera" das rodas que haviam nos recomendado, que já estava lá nos esperando, olhou e disse: "Eu conserto! Pode passar aqui amanhã às 9:30 da manhã que estará pronta. Não vai precisar nem balancear." Eu me animei novamente. Fomos para o hotel, eu tirei a calça de cordura e ver o que tinha acontecido. Aonde estava formigando, já tinha uma grande mancha roxa, um hematoma, do joelho até a virilha, do lado direito. Não falei pra ninguém em casa. Liguei para a esposa, e disse que estava tudo bem, e que tínhamos resolvido dormir ali, porque atrasou, e coisa e tal. Saímos para comer uma pizza, eu com o astral lá embaixo, a moral baixa, fui dormir cedo aquele dia. No outro dia, acordei bem, e às 8:30 já fui ver a moto. Estava acabando de consertar. Paguei os R$ 100,00 mais felizes da minha vida - que aliás achei muito barato - montei na moto, e falei para o Júlio: “-Vou pra estrada dar uma esticada. Se ficar boa, vamos embora.” Estiquei a moto e nem sinal de tremedeira, a roda estava boa! A não ser algumas carenagens quebradas e riscadas, o resto estava bom. Nem o pisca quebrou. Senti falta de um protetor de motor, de cano, daqueles grandes!

Cheguei ao hotel buzinando, feliz da vida, enquanto o Jorge e o Girão aguardavam as notícias. Pagamos o hotel, e saímos de Araçatuba às 11 da manhã. Perdemos quase um dia de viagem com o problema! Ou melhor: ganhamos um dia! Foi o que descobri durante o resto da viagem. Com o tombo, acabou a pressa, e a viagem tomou outro rumo: a de que estávamos ali para curtir a estrada, e pra que a pressa de chegar?! O meu pequeno acidente na verdade nos uniu! Um dos amigos, Marco Girão, mais religioso, citou Deus, que sabe o que faz, o que concordo plenamente. Por algum motivo aquilo deveria ter acontecido. E eu pensava: mas justo comigo?! Rsrsrs... Dali para frente, estávamos muito mais unidos, e preocupados uns com os outros. Saímos da rodovia Marechal Rondon para pegar a estrada para Jaú e Brotas, maravilhosa, andando a 120 km/h, curtindo a estrada e parando para tirar fotos. Atravessamos por cima da Washington Luis e da Anhanguera, e fomos dormir em Poços de Caldas. Chegamos lá ainda com o dia claro, pois o Júlio estava reclamando muito da suspensão da sua moto, e pediu pra parar. Por mim continuava, mas depois pensei: Pra quê? Queria conhecer Poços faz tempo!

Curtimos a noite na cidade, em um boteco, com um maravilhoso feijão tropeiro, ao lado do hotel. Naquele dia mudamos a nossa rota para Tiradentes, graças a esta parada em Poços. Quando chegamos, conhecemos uma pessoa da cidade, que nos deu um roteiro melhor. Olha Deus falando com a gente de novo! Fomos por Pouso Alegre, e a estrada era bem melhor. Saímos na Fernão Dias, a estrada perigosíssima. Muito caminhão e carreta, e curvas a cada 500 metros! Mesmo de VStrom, que é boa de curva, passei aperto várias vezes, pois parecia que a curva não acabava! Chegamos em Tiradentes às 3 da tarde, totalmente descansados. Que cidade maravilhosa, e que viagem! Nem preciso contar do encontro, pois quem já foi conhece, e quem não foi tem que ir!

No domingo voltamos, saindo às 9 da manhã por causa da neblina. Conheci um senhor em Tiradentes, que me passou outro roteiro, mais curto. Desci a Fernão Dias no sentido SP, e entrei à direita, para Varginha. Antes de chegar a Alfenas, pegamos uns 15 km de estrada péssima, quase intransitável. O plano era almoçar em Passos, mas quando chegamos a Alfenas, o Julio, que estava reclamando da suspensão da sua Road King praticamente a viagem toda, me disse para parar que ele estava arrebentado. Era hora do almoço, pois já era 12:30 hs. Parei num posto, e perguntei por um bom restaurante, com uma área para descanso. O cara indicou uma pousada a 20 km, no sentido para Passos, ou seja, no nosso roteiro, chamada Pousada do Porto. Chegamos lá, no lugar mais bonito de toda a viagem, um restaurante na beira da lagoa de Furnas, coisa de cinema! Ou seja, sem querer, e por questões diversas, a gente acabava acertando! Saímos de lá quase duas da tarde, e fomos em frente. Andando juntos, sempre devagar, a 120-130/h. Andamos quase 800 km no domingo, e dormimos em São José do Rio Preto. Chegamos a Campo Grande na segunda-feira, às 3 da tarde, cansados fisicamente, mas renovados de cabeça e alma! Antes de irmos para as nossas casas, paramos as motos, nos abraçamos, rezamos um Pai Nosso, e agradecemos por tudo.

Pensei comigo: esta foi a melhor viagem da minha vida!

Fui pra casa, e depois contei tudo para a esposa, que foi a única que soube da história toda, na época. Daquele tombo pra frente, senti que tudo mudou, principalmente entre nós, durante a viagem. Não digo que nunca mais darei alguns piques, mas loucura, correria, não faço mais. E andar bem equipado, é o melhor investimento que podemos fazer.

Marcio Alves Roberto – Campo Grande/MS
 
 
 
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Comentários (5)

2/2/2017 23:50:27
WBZBIUDI
I reockn you are quite dead on with that.
 
20/1/2013 21:00:12
VINÍCIUS TEIXEIRA
Obrigado por compartilhar sua lição Márcio.
Mesmo sem qualquer ocorrido, refleti bastante e mudei meu estilo de pilotagem em viagens e na cidade, em prol de ter mais longevidade sobre as 02 rodas.
Grande abraço!
 
20/1/2013 20:55:31
VINÍCIUS TEIXEIRA
Obrigado por compartilhar sua lição Márcio.
Mesmo sem qualquer ocorrido, refleti bastante e mudei meu estilo de pilotagem em viagens e na cidade, em prol de ter mais longevidade sobre as 02 rodas.
Grande abraço!
 
2/12/2011 13:35:39
WALDIR
Valeu sua história.
Tenho um amigo que fala, quando estou com pressa vou devagar, porque assim evito acidentes e com certeza a viagem torna-se mais segura.
Sucesso em suas andanças.
 
2/12/2011 13:35:37
WALDIR
Valeu sua história.
Tenho um amigo que fala, quando estou com pressa vou devagar, porque assim evito acidentes e com certeza a viagem torna-se mais segura.
Sucesso em suas andanças.
 

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