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O VIAJANTE DE MOTO E O FASCÍNIO DAS PESSOAS

Por: Fábio Colaferro

 
Em sua viagem a África, Eduardo Wermelinger publicou um post no Facebook (como sempre uma foto lindíssima), com um título muito extenso. O título do post foi: “PESSOAS...”. Só isso mesmo: sete letras. A foto ? Infinitas impressões e palavras não faladas.


Como ele, adoro fotografar. Adoro paisagens, mas retratos são minha preferência. Quantas coisas são ditas na expressão de um rosto, e outras que jamais conseguiremos decifrar.

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Fotografia: Eduardo Wermelinger  
O ritmo de vida e a personalidade dos moradores à margem das estradas são diferentes. Essas pessoas não estão indo a lugar algum e conhecem muito bem o aqui e agora das coisas.
Sabemos que as melhores estradas são aquelas sem outdoors, sem sinais de uma civilização preocupada com o exterior, especialmente aquelas que vão do nada para lugar nenhum. Aquelas onde, no encontro com os outros, as respostas tendem a ser mais longas do que você esperava quando pára para pedir uma informação, e onde lhe perguntam de onde você veio e há quanto tempo está na estrada.

O olhar dos outros perante o viajante de moto...

Minha imaginação saboreia o olhar dos outros quando chego a qualquer lugar de moto. O que as pessoas vêem ao nos avistar e o mais intrigante, o que elas sentem?


Fico imaginando como a criança, o adulto e o velho sentem a nossa presença.

Imagino que este encontro provoca vários sentimentos: um pouco de curiosidade, outras de solidariedade, entre várias outras emoções.

As pessoas querem saber de onde você partiu, para onde vai, com quem viaja, há quantos dias, etc. Demonstram não raramente surpresa, espanto, admiração e fascínio pela aventura.

Ao ler um artigo sobre o livro “O Brasil Através das Três Américas”, que relata a epopéia de três brasileiros, que entre 1928 e 1938 percorreram 28.000 mil quilômetros cruzando as Américas até os Estados Unidos a bordo de dois Ford T, me encantei com o relato de que quando chegavam a uma cidade, os três aventureiros eram recebidos com pompa por militares, prefeitos, empresários e presidentes.

Ou ao ver o filme “Diário de Motocicleta”, lembrei do tanto que é comum a curiosidade das pessoas ao ver o viajante de moto chegar. O filme, como todos já sabem, conta a viagem de moto na América de Sul que despertou Ernesto Guevara para sua missão (aqui, sem tomar partido de qualquer lado...rsrs).
Ou ainda lendo o livro “Zen e a arte da manutenção de motocicletas”, sobre a viagem de um pai e seu filho pelas estradas americanas. O belíssimo tratado filosófico de 1974 que narra a epopéia moderna que mudou a mentalidade de toda uma geração e continua servindo de inspiração a milhares de pessoas.

É verdade que hoje, todos os tipos de turismo são mais comuns e um número cada vez maior de viajantes estão por aí, mundo afora. Mas de forma alguma, isto diminui as experiências atuais.

Mas quero escrever sobre o que eu vejo nos olhos dos que nos vêem...

Em relação às crianças carentes, apesar dos momentos em que sentimos ser um caixa eletrônico ambulante, pensamos que aqueles pobres seres estão simplesmente interessados em “la plata”, afinal, qualquer um de nós, com aquelas máquinas poderosas, somos ricos e prontos a lhes ofertar esmolas... ou a responder a seus pedidos. Realidade triste é verdade. Mas depois e além do dinheiro, o que aquelas crianças estariam pensando?

Para eles não seríamos a encarnação dos sonhos vendo quase que um astronauta chegando? Grandes máquinas, seres grandes, roncos que fascinam, viajantes do tempo?

Nos adultos, a sensação de algo que eles próprios gostariam de estar fazendo. Uma inveja branca, saudável, reflexiva. Questionando vontades represadas, sonhos ainda distantes mas possíveis... Dificuldades atuais, restrições familiares, financeiras e do trabalho. A falta de um “pouco” de tempo para si, a possibilidade de fazer uma revisão na vida, de ter novos sonhos. Sair um pouco da caixa que nos aprisiona no dia-a-dia ...

E nos olhos dos mais velhos: sonhos não realizados, admiração pela coragem e desprendimento, mas acima de tudo uma torcida muito grande pelos mais jovens, aqueles que agora estão realizando seus desejos de outrora? Nos velhos, o tempo que passou e jamais voltará, as coisas que fez ou deixou de fazer, a vontade de poder voltar no tempo.

Nestes contatos em áreas remotas, nós motociclistas e alienígenas, na tentativa de obter abertura destas pessoas, tentamos sempre dar o primeiro sorriso, gesto que ameniza os trajes agressivos, pretos, de couro, cordura, verdadeiras armaduras medievais do século XXI.

Para captar parte destas emoções, precisamos ter atitudes que demonstrem que motociclistas não são guerreiros, nem ameaças. Motociclistas são visitantes, que levam um pouco de si e trazem muito das pessoas e dos locais onde passam.

Por isto, prefiro as fotos aos filmes: minha imaginação divaga observando nelas a curiosidade, a admiração ou repugnância, a indiferença ou fascínio e tantas outras emoções dos que estão no caminho. Vantagem dos que passam, captam as energias, sentem a emoção, renascem e têm a chance de seguirem com uma bagagem mais rica.

Por: Fábio Colaferro


 
 
 
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Comentários (1)

3/2/2017 00:48:43
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