A IDADE E A MOTOCICLETA

Alguém de 70/80 anos pode perfeitamente continuar a rodar com sua motocicleta, desde que use uma moto adequada, saiba limitar seus trajetos e conter-se na forma de pilotar.

Encantar-se com a vida é ser feliz.

Rodar de moto traz a sensação indescritível de liberdade. Muitas vezes ao tirar o capacete junto a outros motociclistas desconhecidos, sinto que minha figura causa certo impacto, nem tanto pelo tamanho da Varadero, mas pela idade que tenho e aparento.

É preciso que as pessoas entendam que a idade cronológica nem sempre encontra correspondência na idade biológica e psicológica.

Ter mais energia, entusiasmo, inspiração e espiritualidade independem da idade que consta na certidão de nascimento. Quando nossa forma de encarar as estradas, a passagem do tempo é diferente da habitual, nossa realidade etária também muda.

Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata. Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam.
Eu não me questiono mais.

SÓ O TEMPO FAZ O MELHOR VINHO

Depois de tanto rodar de moto sozinho ou com amigos, sinto que a cada nova jornada fica mais difícil encontrar um parceiro ideal para uma longa viagem, porque com a idade a gente fica mais limitado e também mais exigente com as companhias. Um parceiro que fuma, um parceiro jovem demais que quer sair nas baladas, outro arrojado em excesso, aquele da moto custom que viaja passeando, o outro que se atrasa sempre, o que enche a cara, os que querem ficar em hotéis baratos, sim, quem achou um parceiro ideal deve guardá-lo como um tesouro e enchê-lo de mimos...

Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável, e na minha opinião, menos crítico de mim mesmo. Sei que piloto rápido demais, que paro poucas vezes, que tiro raras fotos...

Se algo não dá certo entre os companheiros durante uma longa jornada, ambos são prejudicados de alguma forma. A gente sente que o encanto da viagem se foi, aqueles planos todos juntos com o parceiro, aquele apoio incondicional no caso de qualquer problema se esvai.


Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que são as longas viagens de moto.



Quando vem o envelhecimento, a experiência se materializa, a confiança na moto e em si próprio se amplia, mas falta alguma coisa, aquele parceiro sempre de bom humor que segue as regras, divide a tarefa com mapas, GPS, localização de hotéis e tem sempre uma palavra amiga na hora do cansaço ou da saudade de casa.

Eu sou abençoado por ter vivido e viajado de moto o suficiente para ter grisalhos meus poucos cabelos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto.


Eu não poderei pilotar uma moto para sempre, mas enquanto ainda estou aqui, não vou perder tempo lamentando a falta de um parceiro ou quem entre minhas inúmeras amizades poderia ter sido, ou me preocupar com o que virá durante minha próxima expedição.

Eu vou continuar planejando e fazendo minhas longas viagens solo

Você já imaginou o filme Eazy Rider com apenas um dos motociclistas?


Texto: Otavio Araujo “Gugu” - 68 anos, motociclista há 52 anos


AGRACEDIMENTO

Agradeço de coração aos amigos do Rotaway os comentários sobre meu texto. Adoro escrever sobre motociclismo, não apenas descrevendo viagens e roteiros, mas principalmente sobre o lado humano, as dúvidas, sensações e todo lado psicológico desta arte chamada MOTOCICLISMO.

Que Deus nos proteja.
Otavio Araujo – Gugu – Taubaté – SP