Rotas

NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM

 
Naquele dia tinha saído para a estrada por volta das 6h da manhã. Já eram 11:30 e eu estava passando por Barra Longa, a uns 30 km de Ponte Nova. Como não sabia o tempo preciso do percurso ainda a ser percorrido, as surpresas que me fariam parar a moto para fotografar e lembrando que na região as pessoas tem o hábito de almoçar bem cedo, resolvi, quando avistei um “pequeno restaurante”, parar para almoçar.

Era um lugar simples mas muito limpo. Estacionei a motocicleta bem em frente, cumprimentei uma senhora que me abordou de forma muito hospitaleira, se apresentando como Rosa e convidando-me para entrar.

Logo na entrada daquele “pequeno restaurante” notei que era um lugar muito caseiro, pois o acesso se dava a uma copa anexa a cozinha, onde pude observar todo o zelo do lugar.

Uma porta levava a uma varanda onde havia três mesas compridas, daquelas grandes que são utilizadas nas refeições familiares das festividades ou de domingo. Sentei em um cantinho de uma das três mesas que ficavam nesta varanda.

Perguntei a Sra. Rosa o que teria para almoçar e ela me deu a opção do cardápio do dia. Optei por um frango, arroz, feijão e couve. Ao mesmo tempo pedi uma água mineral sem gás que
Dona Rosa disse que não tinha, então resolvi escolher um refrigerante, e a mesma me informou que para beber só teria “refresco”. Preferi somente almoçar sem nada para beber.

Em menos de 5 minutos chegou a mesa um “prato feito”, o famoso “PF”, trazido por uma moça. Não sou adepto em ser servido desta forma por causa da grande quantidade de comida e, mesmo estando com fome, o prato assim me tira o apetite. Não me restou outra alternativa a não ser saborear aquele tempero maravilhoso. Era um feijão fresco, arroz, couve mineira e um frango caipira, que talvez poucos tiveram a oportunidade de sentir e conhecer este sabor, à sombra daquela varanda, onde o frescor de uma brisa me acompanhava a mesa.

Dona Rosa simpaticamente me ofereceu uma “pinguinha”, mas dispensei. Sobre a mesa enquanto almoçava, uma moça, ajudante de dona Rosa, gentilmente colocou uma banana a minha frente para acompanhar a comida. Já sabia qual seria a minha sobremesa!

Após um almoço tranquilo, antes de recolocar a minha jaqueta e o equipamento de segurança para continuar a viagem, levantei-me e fui procurar o balcão para pagar a minha conta. Na mesma porta que entrei para a varanda onde estavam as mesas, saí e naquela pequena copa não avistava qualquer indício que haveria um caixa naquele ambiente. A ajudante de Dona Rosa passava pela cozinha e a pedi que me providenciasse a conta do almoço. Esta moça apenas respondeu com uma pergunta: “se eu teria gostado da comida”. Respondi que adorei, e mais uma vez pedi que me fosse passado o valor do almoço para que eu pudesse seguir em frente.

Dona Rosa veio ao meu encontro e elogiei o tempero da comida e novamente pedi a conta. Dona Rosa abriu um discreto sorriso e me disse: “Meu filho, aqui ninguém paga nada não!”. Eu perguntei: “Como assim?” E Dona Rosa com o mesmo sorriso disse que ali não era restaurante, que aquelas mesas eram para as refeições dos funcionários de um pequeno laticínio.

Nossa! Me deu um frio na barriga, fiquei totalmente sem graça e perguntei já em um tom de justificativa: “Dona Rosa, eu jurava que aqui seria um restaurante!”. Dona Rosa disse-me que não deixava de ser, mas somente para aqueles que trabalhavam no laticínio, e que ter mais um prato de comida para saciar a fome de alguém já era o “pagamento dela”.




Às vezes pequenos fatos se tornam muito expressivos em nossas vidas

Eu fiquei estático, sem graça e tomado por uma emoção da mais nova lição de vida que estava a minha frente. Não sabia o que dizer.

Coincidentemente bem a frente da varanda tinha uma roseira, e nada mais podia me passar pela cabeça do que pegar um pequeno botão daquela roseira e retribuir a gentileza do gesto de Dona Rosa.


E dali segui minha rota, certo mais uma vez que pequenas grandes atitudes como esta da Dona Rosa, é que fazem com que a nossa vida seja plena em cada minuto!


Eternamente obrigado Dona Rosa, e que tenha sempre mais do que precise, e este lindo coração, com o seu nobre espírito, em saber o que é o verdadeiro sentido de compartilhar!



Eduardo Wermelinger

 
 
 
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Comentários (37)

10/8/2016 20:45:54
ROBERTSON VICENTE
Excelente texto, adorei.
 
10/8/2016 20:45:29
ROBERTSON VICENTE
Excelente texto, adorei.
 
10/8/2014 22:13:02
ZENIRA RAMOS CLÍMACO
Nossa Eduardo... que experiencia linda! Costumo dizer que não se leva nada dessa vida, a não ser a vida que se leva.
Você com toda sua experiencia por esse mundo a fora com certeza leva consigo uma riqueza enorme.
Parabéns!Toda essa sua história merece um livro.
Agradeço a oportunidade de nos dar o privilégio de poder conhecer algumas de suas experiencia.
Sucesso é o que desejo a você nessa sua caminhada da vida.
Um grande abraço.
 
14/2/2014 18:54:00
ALDA CLARA
vc tem razão, isso acontece por aqui, sempre.
Desconfio que são anjos que ficam escondidos esperando a gente chegar.
 
23/5/2013 16:49:30
GEOVANE AMARAL
É a terceira vez que leio este relato, é a terceira vez que me emociono. Passei por situação semelhante também em Minas, no Vale do Jequitinhonha, região belíssima, Minas é isso e um pouco mais!
 
21/5/2012 12:13:28
HUGO A TEIXEIRA DE FREITAS
Se fosse escrever algo teria que repetir tudo o que já disseram então, obrigado, Eduarfdo, obrigado D. Rosa, obrigado Senhor por esses momentos que fazem-nos crer no bem.
 
10/4/2012 21:16:15
JOÃO CRUZ
Fenomenal sua descrição! Simples, esclarecedora, humana!
Se não sabia, eu lhe esclareço. Você simplesmente, naquele momento, retroagiu no tempo e no espaço aos fabulosos Anos Dourados, onde pessoas tinham carinho por outras. Respeito, confiança e solidariedade eram coisas normais naquele tempo.
Por um átimo da sua existência, você viveu plenamente!!!
 
5/4/2012 20:04:41
WILSON GIGLIO
Eduardo seu relato me emocionou, mas não me surpreedeu,pois sou paulista,mas conheço o povo mineiro, um povo solidário ao extremo, que faz acreditarmos que a humanidade ainda tem jeito e que nem tudo está perdido.
Já experimentei tal gesto e posso lhe assegurar que sei oque sentiu. Infelizmente já não estamos mais habituados a isso por ter se tornado um ato tão raro, mas ainda bem que Minas Gerais existe e não sede ao mundo moderno.
Salve os Mineiros povo abençoado;
 
8/3/2012 23:12:38
ROBERTO LEAL
Escutando esse relato pessoalmente do Eduardo Wermelinger e lendo depois, reparo que a pureza da Dona Rosa em comunhão com a educação do Edu, que fez a magia desse texto.... Parabéns Dona Rosa e Eduardo Wermelinger.
 
13/1/2012 17:22:15
ALESSANDRO CERRI
Caramba!!

Me emocionei...o ser humano ainda tem salvação...viva a Dona Rosa!!!!
 
30/12/2011 21:13:45
JU MEDEIROS
Na vida se faz duas coisas; ou se ta aprendendo ou se ta ensinando. Isso é um mistério : sempre temos a aprender e quando pensamos que nao, estamos ensinando. Uma vez numa missão de ir a um leprosario, pensamos em levar um ensinamento, paz e retornamos com mais sabedoria pelas palavras que ouvimos dos internos.( o objetivo da ida é a volta)
 
25/11/2011 23:15:46
MARTA LÚCIA TRUGILHO
É uma experiência bastante rica e com dois lados a serem examinados:
um já vastamente abordado aqui, a generosidade de alguns, talvez de muitos;
outro a aprendizagem no receber, fato tão importante como o primeiro.
Precisamos desenvolver humildade para entender que agraciamos alguém quando lhe oportunizamos o prazer de ajudar como também, que somos merecedores desta ajuda.
Até mais...
 
23/11/2011 11:05:36
GISELA HASENCLEVER DE LIMA BORGES
Esta só podia ser em Minas Gerais...
:o)!
Impressionante a grandeza de alguns seres humanos, não é?! Ainda bem que estes ainda existem!! E outros para encontrá-los... Keep wlaking, beijos das gerais, Gisela
 
26/10/2011 13:38:39
EUGENIO PACELLI
Que belo exemplo de humildade e trato com as pessoas, essas coisas a humanidade está esquecendo.
 
26/10/2011 07:09:39
OTAVIO ARAUJO GUGU
Mais uma boa do amigo Eduardo. Suas experiências relatadas de forma tão simples nos deixa emocionados e com a certeza de que o bem ainda existe. Fraterno moto abraço a todos, Gugu
 
25/10/2011 21:51:58
RUITER FRANCO
Querido Amigo!!
Encontro-me literalmente emocionado e com dificuldades de digitar estas letras.
A maior Emoção é a sentida por quem recebe um bem, sem saber que o esta a receber.
DEUS continue a lhe iluminar a permitir-lhe sempre tais Bençãos.
 
22/10/2011 23:09:10
VIVIANE SALLES
Eduardo, parabéns pela narrativa. Com simplicidade, mas intensa ao ponto de nos prender com o texto.
Sou paulista de sangue, mas mineira de coração. A hospitalidade de Minas Gerais, não tem igual.
Mais uma vez, parabéns Eduardo.
Viviane
 
17/10/2011 19:59:45
LEONARDO HASENCLEVER
Eduardo,
Belíssimo seu relato da experiência. Posso lhe afirmar que face ao "causo" que ouvi em sua fala entusiasmada este não perde nada. Cativa.
Agora, me provoca a distância desses - relato e causo contado - da situação vivida, lá, na hora. Mas sei que esta está reservada para quem estiver lá; algures; a se aventurar; viajar.
Parabéns.
 
17/10/2011 10:06:32
RICARDO LUGRIS
Uma história simples, cheia de grandeza humana. Viva a Dna. Rosa! As Donas Rosas existem em muitos lugares, sobretudo nos mais despojados! Obrigado por esse relato sensível e cheio de humanidade. Esse é o nosso Rotaway, de Motociclistas para Motociclistas.
 
16/10/2011 09:09:16
HOMERO LARA
Eduardo a cada reportagem sua meu coração surpreso é inundado de bondade, de bem viver. Parabéns. Felizmente quando menos esperamos, compartilhamos uma grande lição de vida, um exemplo. Que a simplicidade, a correção e a bondade desses brasileiros simples "contaminem" nossos governantes. Será que podemos vislumbrar isso um dia?
 
15/10/2011 22:41:56
MARCELO ARAUJO
Ola Eduardo,
Como eh bom saber que por todo canto existem pessoas boas como estas. Elas nos tornam mais vivos e enchem a nossa alma de esperanca.

Abraco...
 
15/10/2011 20:55:34
OLACIR GALVÃO
Amigo Eduardo. É muito comum esta hospitalidade pelo povo mineiro, principalmente nesta região.
Fiz veterinária, e por época que eu ainda estagiava, inúmeras vezes também fui recebido desta forma. Um grande abraço, e parabéns pela importância que você deu, como mesmo disse no seu relato, de uma "pequena grande atitude".
 
15/10/2011 04:10:24
BELL MEIRELLES
Edu,
O seu carisma e a sua humildade faz com que as pessoas te recebam assim...fico feliz de saber que você gostou da região das Minas Gerais...volte sempre! Parabéns pelas viagens , fotos e pelo conceituado site . abração e fica na paz!
 
14/10/2011 20:28:46
FERNANDO JOSÉ MARCONDES PEDROSO
Edu,
o que vale é o desprendimento das pessoas, é como voltar as raizes, todos iguais sem interesse, gestos assim parece que estão fora de moda, e quando menos se espera neste Brasilzão veio sem porteira a gente encontro uma Dona Rosa maravilhosa que nos faz repenssar em tudo novemente,
valeu Edu
 
14/10/2011 13:38:26
TADEU
é isso mesmo, o prazer em ajudar, é de causar unveja, aconteceu comigo varias vezes, inclusive pousada. esse povo simples, mas de alma gigante.
abraço
 
14/10/2011 10:57:32
DONATO MONTEIRO
Amigo Eduardo.
Este teu tour esta recheado de bons causos, que delicia é o contato com a simplicidade interiorana deste Brasil querido, atitudes simples onde refletimos que nem tudo tem um preço. Tenha certeza que tuas experiências aqui compartilhadas tb nos enriquecem.
Grande abraço, boa estrada.
Donato Monteiro.
P.S.: Conheço a Igreja da foto, inclusive por dentro....
 
14/10/2011 10:38:47
EVANDRO DALBEN
Muito legal o relato, sempre observo esse tipo de "coisas do bem" que acontessem nas viagens de motocicleta, quando mais para o interior vamos mais pessoas boas encontramos ... fazer viagens como essas e fugir doas grandes cidades nos surpreendem.

Evandro Dalben
www.pisteiros.com.br
 
14/10/2011 10:19:12
FERNANDO ZANFORLIN
Seu Eduardo, super bacana o fato, gosto de saber dessas atitudes vindas do coração. Cada vez mais sinto-me orgulhoso de ser mineiro de BEOZONTE, é uma alegria saber que esse povo é assim, quietim e hospitaleiro. Não ofereceu a D. Rosa um café com bolo no final?
Eduardo uma viagem legal é de ITAJUBÁ a CAMPOS DO JORDÃO, chegando pelo Horto Florestal, fiz esse trecho a uns 20 anos passados.
 
14/10/2011 09:54:43
RUBENS CAMARGO CAPITÃO
Cara! Que relato maravilhoso! De emocionar, sabia? Parabéns e obrigado por nos dar o privilégio da leitura. Que o Grande Arquiteto do Universo lhe proporcione outras vivencias como essa, e, possamos todos encontrar muitas Rosas em nossas viagens de moto!
 
14/10/2011 09:49:33
ADV
Eduardo... Ou vc escreve sempre muito bem (uma grande possibilidade!) ou eu estou ficando meio molenga com o passar dos anos (uma grande probabilidade), pois quando leio esses relatos seus, invariavelmente acabo me colocando em teu lugar e me emocionando com os "causos" contados.
Já te disse e repito: tuas experiências merecem, no mínimo, um livro!!!
Abraços, sucesso e muita saúde, para que continues sempre "on the road", nos brindando com essas belas histórias.
Adv
 
14/10/2011 08:17:45
ANTÔNIO CARLOS FERNANDES
Olá Eduardo. Cotidianamente acesso o site e me debruço sobre seus textos. Este foi impar dado ao fato que faz lembrar muito minha infância e os lugares que passava no interior de Santa Catarina. E mesmo depois de adulto já na profissão, lugares como estes eram comuns de se parar e o resultado quase sempre o mesmo. Muita cortesia e amizade.
 
14/10/2011 02:29:06
FELIPE MIRANDA
Eduardo consegue transmitir por palavras e fotos a quase totalidade dos momentos mágicos que as viagens proporcionam. Quase totalidade porque 100% somente quem vivencia tem o real privilégio. Belo registro.
 
13/10/2011 23:56:27
EMANUEL SIQUEIRA CAMPOS
Caro Edu,
Já passei por experiências semelhantes, e temos como resultado a lição de termos a oportunidade que não é necessário de grandes coisas para vivermos momentos de GRANDEZA.
Abs. Emanuel (Sabará)
 
13/10/2011 22:41:11
BENEDITO J P TARABORELLI
Olá amigo, sem dúvida da vida iremos levar apenas a vida que levamos!!! Parabéns por compartilhar essa rica experiência!!!
 
13/10/2011 22:30:19
VAGNER A. COITINHO
Um belo relato com uma experiência de vida muito boa...
 
13/10/2011 22:22:24
TUZIRIX
Belíssima experiência, Edu! MAS...certamente se vc não tivesse "arrancado" aquele botão da roseira, Dna Rosa o teria apreciado se tornar sua homônima por muito mais tempo....errou de novo! hehehe
um super abraço, irmão!
Tuzirix.com
 
13/10/2011 22:18:29
JAIME
Cara

O passeio deve ter sido bem interessante, temos muito q aprender com as pessoas do interior, pois a simplicidade e o prazer de ajudar os outros é de causar inveja mesmo, abracao
 

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