REFLEXÕES NO PARALELO 14
Quando seguimos rumo ao horizonte montados em nossas motos, vários motivos nos inspiram a jornada. Seguimos como desbravadores, desejando conquistar novos veios de ouro, lugares ainda pouco explorados, ganhando estradas e rumos diferentes. Em minha última viajem refleti muito sobre o assunto, concluindo que nosso verdadeiro motivo, é aquele que nos leva a introspecção, favorecendo a uma conversa íntima. O horizonte à frente, vai mantendo-se como foco, como se buscássemos encontrar algo inatingível. Na estrada somos nós e a moto, unidos quase numa relação simbiótica. É muito produtiva esta afinidade e auto conversa, pois ela vai fortalecendo uma relação de intimidade conosco, com nossas idéias, sonhos e aspirações.
Pude perceber, rodeado muitas vezes, pela solidão da estrada, que não nos encontramos verdadeiramente sós, e esta sensação é boa, aditivado a vontade de seguir adiante.
Tenho lido vários relatos de amantes das estradas, cada um impulsionado por um desejo de seguir adiante, de superar limites e conhecer novos lugares inspiradores. A maioria vai se surpreendendo com as maravilhas que viagens como essas favorecem. Para mim sentar sobre minha moto, saindo as vezes sem um rumo muito certo, permite que eu vá colocando minha casa mental em ordem, como se o silêncio teórico fosse o organizador de tudo o que estava desarrumado.
Pois o cotidiano com suas atribulações e problemas, além da rotina diária são capazes de promover a desordem interior.
A minha proposta com esta reflexão não é levantar discussões psico-filosóficas, sobre qual o motivo que nos levar a seguir montados em nossas motos por rumos desconhecidos. Quero apenas demonstrar quão significativo podem ser estes momentos que passamos juntos a nós mesmos, e como isso pode melhorar nossas vidas. Falo principalmente de equilíbrio, disciplina e fortalecimento para encararmos qualquer desafio.
Nestes momentos que vamos descobrindo que temos no Brasil incontáveis lugares a serem desbravadosJustamente no momento em que alguns empreendedores confiantes, preocupam-se em estimular o turismo motociclístico em solo verde e amarelo, temos que dar nossas contribuições, pois há muito a ser explorado.
Minha intenção este ano era seguir rumo a outro País, porém durante meus preparativos acabei escolhendo um lugar que realmente me surpreendeu, tamanha a dimensão de possibilidades e belezas, muitas delas ainda intocadas. Falo da região da Chapada dos Veadeiros no Norte de Góias, o paralelo quatorze, local místico e inspirador para o reencontro ou a busca de si mesmo. Sai de Belo Horizonte envolto por uma madrugada fria, determinado a encarar os quase mil quilômetros de estrada com minha GS 1200, o que fiz sem problemas ou desgaste muito intenso por estradas boas, porém com tráfego aumentado de caminhões. Rodeado por campos imensos de algodão entre outras plantações que riscavam o horizonte, enfrentei os ventos fortes laterais como uma vela içada seguindo adiante.
Cheguei a Alto Paraíso no meio da tarde, bastante empolgado com as possibilidades visuais da região. Realmente o cerrado tem uma beleza muito particular e o clima ajudou muito. Muito Sol durante o dia, seguido por temperaturas mais baixas a noite, céu estrelado, lua cheia imensa e muitas estrelas cadentes a desenharem o cenário.
Vários caminhos podem ser domados com motos, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros que abriga uma fauna e flora muito rica, sem contar as inúmeras cachoeiras e corredeiras, cristais aflorando da terra, entre outras belezas. O que dificulta um pouco é a poeira fina e pedras soltas pelo caminho, mas não chega ser um limitador para a maioria dos lugares. Vale à pena explorar a região, conversar com as pessoas, descobrir por que muitos abandonaram tudo para entregarem-se a uma vida distante dos grandes centros.
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Durante os dias em que lá passei, caminhando por trilhas quase intocadas, pude voltar o olhar para detalhes que normalmente não nos damos conta, conversei muito comigo mesmo, ansioso por colocar no papel as impressões positivas ali colhidas. Ao me despedir deixei a certeza de voltar, rumando agora para o sul de Goiás, indo ao encontro da maravilhosa família que me aguardava em Rio Quente. Antes de chegar ao meu destino, encontrei um grupo de companheiros de estradas em Cristalina Goiás. Retornavam de um encontro em Brasília, muito alegres, tomados pelo espírito de liberdade, deram-me algumas dicas para seguir adiante.
Enquanto me encontrava em Rio Quente junto ao meu precioso tesouro familiar, vivi momentos de puro entretenimento e alegria. Não tenho dúvida que lembranças saudáveis foram geradas ali. Contudo, finda as férias é momento de retornar. Minha esposa e filhos retornaram de carro para Belo Horizonte sem intercorrências. Segui viagem de moto, confiante no meu GPS, contudo, sem perceber acabei entrando na Serra do Facão ainda em Goiás.
Acreditando na conversa de um velho de aparência distinta, em um vilarejo chamado Davinópolis, segui viagem após sua afirmação de que a estrada estava boa e ganharia tempo indo por ela. Lá me vi em estrada de terra, cruzando rio por balsa não muito segura, rompendo “mata burros” longitudinais, comendo poeira após uma queda e completamente perdido. Andei mais de duzentos quilômetros até encontrar um rumo certo para Belo Horizonte.
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CACHOEIRA ALMÉCEGAS |
Cheguei em um noite fria, cansado, porém com a certeza íntima de que minha jornada desbravadora havia sido cumprida. A casa mental mais em ordem, fortalecido para reiniciar mais um período de trabalho, estudo e crescimento.
Existem lugares maravilhosos por este Mundo a fora, o Brasil apesar de seus grandes problemas e diferenças, precisa ser verdadeiramente descoberto.
Como “Bandeirantes” modernos, devemos continuar desbravando os confins, inspirados, na medida que o tempo nos permita, descobrindo, explorando, abrindo caminhos para revelarmos preciosos tesouros em nossas jornadas.
Jefferson Kleber FortiBelo Horizonte 10 de agosto de 2011
Comentários (13)
22/9/2011 15:09:36
JU MEDEIROS
Não por ser meu niver, 10 de agosto, mas esse texto foi um presente. Há dias que na minhas viagens, agora com a GSA 1200, eu venho analisando essa meditacao que fazemos. Na moto estamos em equilibrio, sobre duas rodas, atencao redobrada, visao e audicao tambem, e o equilibrio interno vem por osmose. e aí a gente se Ré-encontra e o saldo sempre é positivo. Esses locais inoxidáveis, podemos chamar assim, são locais que nos faz deixar tudo e começar tudo novamente, virar a pagina da vida, e isso eu ja fiz umas 4 vezes, hoje resido em Noronha, fui pra ilha fazer um show e estou até hoje, 21 anos, foi e esta sendo o show mais comprido do mundo. e Rio Quente e as coisas por perto será meu destino antes do Chile. irei sim, se puder me envia mais dicas e grato pelo presente do dia 10 de agosto a gosto de Deus.
19/8/2011 16:33:11
GERALDO BERGAMO FILHO GEBÊ
GERALDO BERGAMO FILHO GEBÊ Caro Jefferson, já rodei por todas essas plagas do cerrado e posso afirmar que paisagens maravilhosas já vi e vivi intensamente, não poderia excluir nossas prais e recantos tão maravilhosas quanto, mas o cerrado tem particularidades humanas que nenhum outro lugar apresenta. Seus campos, apesar de retorcidos e ou plantados, guardam relíquias vividas por sua gente e que são cantadas em verso e prosa. Uma grande e deliciosa beleza que vem da alma. Parabéns e que outras viagens já estejam formatadas. grande abraço . Gebê
19/8/2011 16:32:35
GERALDO BERGAMO FILHO GEBÊ
Desculpem aí caros leitores, cometi um pequeno engano postando a mensagem abaixo neste forum, porém ele pertence ao do Cerrado. , mas reservadas as devidas particularidades, esse texto também cabe aqui para o Pantanal porem destinados a nossa fauna lá existente como também estonteantes pôr do sol. abs. Gebê
19/8/2011 16:27:36
GERALDO BERGAMO FILHO GEBÊ
Caro Jefferson, já rodei por todas essas plagas do cerrado e posso afirmar que paisagens maravilhosas já vi e vivi intensamente, não poderia excluir nossas prais e recantos tão maravilhosas quanto, mas o cerrado tem particularidades humanas que nenhum outro lugar apresenta. Seus campos, apesar de retorcidos e ou plantados, guardam relíquias vividas por sua gente e que são cantadas em verso e prosa. Uma grande e deliciosa beleza que vem da alma. Parabéns e que outras viagens já estejam formatadas. grande abraço . Gebê
17/8/2011 02:09:24
MANOEL MESSIAS
Lugares realmente muito bonito, vou anotar na agenda e indico para um bom passeio de moto, a Chapada Diamantina saindo da Bahia cruzando todo o paredão da chapada, com uma parada em Mucugê-BA.
Abraçoa todos
16/8/2011 14:22:44
JÚLIO BORGES
Caro Jefferson, só quem viaja pelos caminhos da liberdade e da introspecção proporcionados pela moto é que sabe verdadeiramente o sentido de ter uma. A natureza, os lugares e pessoas diferentes, o respeito e a admiração pelo desconhecido, a busca pela experiência (ato de viver) e conhecimento nos levam cada vez mais pra perto de nossa essência. Um grande abraço de quem compartilha com tudo o que diz.
Júlio
15/8/2011 11:27:32
KARYOKAADVENTURE90WHITE
Shom de bola, quem foi foi que nao foi vai ainda, to na fila rsrsrsr valeu parabéns.......... .
14/8/2011 18:08:09
SILMARA
Je..que sorte a sua ,de ter tido a idéia chiquérrima de viajar dessa forma...beijo pra toda a família
14/8/2011 16:30:33
LUCIA
Jefferson, o lugar é maravilhoso.O Brasil é muito lindo.Ainda tem muito para ver e se encantar
12/8/2011 19:48:26
THAIS HELENA BENETTI TEZINHO
Primo, isso é um paraiso, ficar perto da natureza e tudo de bom...onde recarregamos nossas baterias para enfrentar o dia a dia . Parabéns pelo texto e pela viagem... Bjs
12/8/2011 09:08:23
DONATO MONTEIRO
Gd Jefferson,
Por pouco não nos encontramos na Chapada, inclusive estava (eu) no evento de Cristalina-GO.
A Chapada é show, um absurdo a quantidade de paisagens, formas e opções de passeios, e dizem que com a chuva muda tudo e as flores do cerrado mostram seu explendor.
Parabéns pelo texto, parabéns pela viagem.
Gd abç.
Donato Monteiro.
11/8/2011 11:20:56
ROGÉRIO AUGUSTO LIMA
Caro Jefferson,
Seu relato me levou a "introspecção", de fato a moto, a solidão da estrada nos proporciona isso. A região da Chapada dos Veadeiro, o Cerrado, com sua aridez relativa formam cenário incríveis a fim de nos proporcionar esta viagem interior.
Parabéns pelo texto e pela viagem interior.
Um abraço
Rogério A. Lima
10/8/2011 21:56:37
ELAINE CRISTINA DA SILVA FONSECA
Nesse breve, porém magnífico relato, duas certezas foram reafirmadas por Jefferson: a de que o Brasil é um país que sempre nos surpreende pelas belezas e riquezas naturais, e a fantástica sensação de introspecção, de intimidade com seus próprios pensamentos, que só um belo passeio de moto é capaz de nos proporcionar. Parabéns pelo roteiro escolhido, desejo-lhe outros tantos, belos e repletos de aventuras.