VIAJANDO PELO CERRADO

A época do ano (julho/2011) coincidindo com a estiagem no Brasil central era um convite para acelerar a moto e fugir do frio torrencial que assolava o sudeste (moro em Taubaté-SP). O trecho compreendia um tiro direto até Brasília-DF encontrando com o casal Jim e Tania onde estes me acompanhariam até São Jorge (já na Chapada) fazendo o chamado bate e volta.

Para um país de dimensões continentais cada divisa de estado é uma conquista, adentrar em Goiás foi uma grata vitória.

Meus cicerones em Brasília, Jim e Tania, desculpem a enrascada!!!

O Astro Rei, sempre inclemente, brinda minha passagem pelo cerrado goiano.

Herman Melville que me perdoe, mas na Chapada também tem Moby Dick, olhe aí o

Para quem acha que o Cerrado é uma grande secura é melhor voltar ao banco escolar

Localizado basicamente no planalto central o Cerrado é o segundo maior bioma do país, abrigando 33% da biodiversidade brasileira, perdendo apenas para a Floresta Amazônica.

Área de extrema importância superior a 2 milhões de km², cerca de 25% do nosso território, e abastece as três maiores bacias hidrográficas da América Latina. A bacia amazônica (Araguaia-Tocantins) tem 78% de suas nascentes no Cerrado. A bacia do Paraná-Paraguai é formada por 48% de suas nascentes no Cerrado, enquanto a bacia do São Francisco dispõe de quase 50% de seu volume de água proveniente do Cerrado. O clima predominante no domínio do Cerrado é o tropical sazonal, de inverno frio e seco, e verão quente e úmido.

Salto de 120.

Apenas por este pequeno prólogo o olhar do mototurista já brilha diferente, mas o rol de atrativos continua pela fauna, flora local, cachoeiras, trilhas, paisagens, rincões, isso sem falar na culinária, artesanato e ínterins típicos que tanto caracterizam esta parte do Brasil central.

Com esta gama de informações o passeio já estava alinhavado e quer me ver feliz, junte o trio moto/natureza/estrada, etâ trem bão demais. Saí para o tour num sábado gelado, o painel da GS marcava 6°C, com indumentária completa acelerei firme pela Rodovia Dom Pedro onde a moça do GPS salvou-me de alguns radares, subi direto por Uberaba-MG chegando ao fim da tarde em Catalão-GO com 32°C de brasa (sol) na cabeça. Ajeitei-me por lá para o primeiro pernoite, encontrando com Jim, Tania e uma galera do Carpe Dien Brasília na cidade de Cristalina-GO.

Já na Capital Nacional super bem recebido pelo casal de cicerones saboreamos um belo Chopp a beira do lago sul (boa pedida para espantar o calor), Brasília tem seus encantos e recantos, mas aquele cheiro do cerrado estava cada vez mais forte e acelerar rumo à chapada era o objetivo. (Jim, ainda volto para saborearmos aquele vinho, ok).

Salto de 80.

No dia seguinte acho que coloquei meus anfitriões numa bela enrascada, o trecho Brasília-Alto Paraiso tem uns trechos de asfalto cheio de pequenos buracos e remendos que trepidam insistentemente as motos, sem contar a estrada de terra que enfrentaríamos até chegar em São Jorge, trecho que por sinal as GS enfrentaram com galhardia, lembre-se que o pacote Big Trail traz o DNA off-road, e apesar de muita poeira e uns areões o trecho foi divertido.

Um sol rachado de forte brindou nossa chegada à pequena vila, a hora já adiantada fez com que após um rápido almoço Jim e Tania voltassem a Brasília, despedi-me destes com um forte abraço, pedi para tomarem cuidado no trecho de terra, ao fim da tarde recebi a msg que chegaram bem em casa.




















O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado em 1961, protege uma área de 65.514 ha do Cerrado de altitude. São diversas formações vegetais; centenas de nascentes e cursos d água; rochas com mais de um bilhão de anos, além de paisagens de tirar o folego, com feições que se alteram ao longo do ano.

Declarado Patrimônio Mundial Natural em 2001 pela UNESCO. Além da conservação, o Parque tem como objetivos a pesquisa científica, a educação ambiental e a visitação pública. A caminhada e banhos de cachoeira são as principais atividades no Parque nas imensas paisagens da Chapada numa viagem pelo Cerrado brasileiro em antigas rotas usadas por garimpeiros, que hoje são utilizados pelos visitantes.

O entorno do parque também possui inúmeros atrativos e lugares pitorescos como Raizana, Vale da Lua, mirantes, Cachoeira do Abismo, Pequizeiro, Vale Encantado, Morada do Sol, águas termais, e garanto dá para se surpreender muito com estas paisagens simplesmente maravilhosas.

Mas sabe como é, lembra daquela história de que a meia noite a carruagem vira abobora, pois bem, meus dias de folga estavam no fim, era preciso apontar o pneu da GS para o sul e retornar ao lar. Saí cedo da pousada tentando pegar a estrada de terra ainda com pouco movimento de carros, decisão assertiva e até peculiar, um movimento de pássaros acompanhava minha passagem, tucanos, carcaras, e outras variedades e tipos, a cor do Cerrado ao amanhecer e a Lua glamorosa degladiando com o sol foram um ótimo presente de despedida.

Um dos grandes diferenciais de se viajar de moto é que o deslocamento faz parte do passeio

Pode ser o desafio da quilometragem, as condições de tempo e conservação da estrada ou o delicioso bailar no tênue fio de borracha em contato com o asfalto, mas um dos temperos mais deliciosos é o fator interação, é interessante como as pessoas ficam curiosas e rapidamente se afeiçoam ao motociclista, parei no posto em Alto Paraiso para abastecer a moto e comer algo, estava puro pó, se tomasse chuva minha jaqueta virava um tijolo (rsrs), mesmo com este visual encardido as pessoas se aproximavam e faziam as mais variadas perguntas, sempre com uma historia para contar o papo segue divertido, uma interação deliciosa que tenho certeza todo motociclista adora.

Se na Chapada o Sol é o rei, a Lua em nada deve em termos de majestade. Olha o tamanho e imponência desta que acompanhou minha passagem.

Uma última e emblemática foto para despedir-me da Chapada, cada vez menor ao retrovisor esta agora habita minha mente com suas cores e rincões.

Forte como um tanque e veloz como um foguete, a GS engoliu com galhardia os mais variados pisos, motoca 10.

Super bem recebido por minhas meninas, grato (sempre) a elas que sabem que de tanto em tanto este irrequieto motociclista tem que engolir um pouco de estrada, valeu!!!

Com um trecho ainda longo a percorrer coloquei a GS em movimento, planejando cortar caminho e não passar por Brasília deixei a moça do GPS doidinha, era um tal de “recalculando rota” e eu insistindo em percorrer rodovias BR e GO cortando imensas plantações de algodão (um show a parte), por fim entramos em acordo já na BR 040.

Feliz como nem eu sei porque, fiz o trecho de volta cantarolando dentro do capacete, instigante como um grande cruzador e sempre de motor cheio a motoca era um azougue pelas estradas, com segurança trouxe-me de volta a minha terra.
Hoje em casa revendo fotos e escrevendo este texto, vejo que o Cerrado assim como outras regiões deste Brasil querido tem encantos ainda pouco explorados, de paisagens impares e sabores apaixonantes, ainda traz nos adjetivos culturais e no enredo caboclo, caiçara ou caipira um diferencial delicioso que merece nossa visita e apreciação, no próximo tour estarei de novo nas BRs.

Grande abraço a todos,
E boas estradas.

Donato Monteiro

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DICAS PARA SUA VIAGEM DE MOTOCICLETA PELA REGIÃO:

• A Vila de São Jorge tem uma excelente infraestrutura com pousadas, restaurantes, bares, vida noturna e tudo mais. Para quem quer fazer caminhadas e trilhas a melhor opção é ficar em São Jorge mesmo, pois você estará mais perto do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e de muitos outros atrativos particulares;

• Antes de viajar para a Chapada, é fundamental vacinar-se contra a febre amarela com pelo menos 10 dias de antecedência;

• O período seco é de maio a setembro quando os rios estão menos cheios e o ar é muito seco. Sem chuva, rodar de moto pelas estradas de terra é mais seguro;

• Durante o período chuvoso de outubro a abril a paisagem está mais verde e os rios ficam mais volumosos. Algumas cachoeiras como a do abismo só aparecem nessa época;

• Esqueça os cartões de crédito e débito, pois são pouco aceitos em São Jorge com exceção de alguns estabelecimentos como o mercado. O melhor é levar dinheiro vivo e folhas extras de cheque;

• Vale a pena ver o pôr-do-sol no mirante da estrela, próximo à torre de celular, na entrada da trilha p/ a cachoeira do abismo, é show;

• Na vila de São Jorge há apenas uma farmácia com poucos medicamentos comuns. Se precisar de remédio, leve;

• Existem piscinas de águas termais na região. É maneiro ir nesses lugares à noite, ou se estiver chovendo;

• Durante os meses de maio/abril e setembro/outubro, é quando a vegetação explode em flores impressionantes, as famosas 'flores do cerrado'. Pra quem fotografa é um prato cheio;

• Abasteça antes de chegar a São Jorge. Os postos de abastecimento mais próximos estão a mais de 30 km. em Alto Paraíso ou Colinas do Sul. Nem preciso dizer que não há borracheiros, portanto esteja preparado para esta eventualidade;

• A estrada que liga Alto Paraíso a São Jorge tem um bom trecho de terra, é larga e com muitas retas, quando está arrumada e sem buracos grandes não é bom exagerar na velocidade, pois o cascalho solto é traiçoeiro. Cruzar com carros também traz dificuldades devido à poeira levantada, tome cuidado;

• Na região o pequi, um fruto do cerrado, é muito utilizado na comida típica. Se você for experimentar não morda o caroço, ou vai ficar com a língua cheia de espinhos. Mas vale a pena experimentar o seu sabor exótico, é só pedir orientação para comê-lo, como diriam meus amigos mineiros “é bão tamém”;

• Alguns atrativos como o Parque Nacional exigem que os visitantes estejam acompanhados de um Guia, também é estabelecido horários para adentrar nas trilhas, portanto informe-se com antecedência.

• O kit completo para o trekking é indispensável, assim como um bom protetor solar e repelente. Hidrate-se o máximo possível, abuse do consumo de água e sucos, a umidade do ar na região é sempre baixa. Ademais aproveite o passeio, você é um privilegiado por estar conhecendo uma das mais maravilhosas regiões do Brasil.