Estava curioso para conhecer Fez, a mais antiga das Cidades Imperiais do Marrocos. Foi capital do país por mais de 400 anos (até 1912, quando a França decidiu mudar a capital para Rabat) e é o principal centro cultural e religioso.
Fez abriga a mais antiga universidade do mundo, além de ser também a mais completa cidade medieval do mundo árabe.
Mais do que qualquer outra cidade do país, Fez parece estar parada no tempo em algum lugar entre a Idade Média e o mundo moderno.
Na estrada pude observar uma formação rochosa a Oeste, onde pequenos acessos abriam caminhos que pareciam chegar nesta encosta.
Resolvi adentrar em um destes acessos, e busquei no GPS alguma informação, mas sem sucesso. Somente as coordenadas geográficas e a estrada principal na cartografia, mais nada. Não tinha com que me preocupar. Estava em um terreno plano, e podia visualmente enxergar aonde queria chegar. Mas a partir daquele instante me toquei da imensidão por onde eu estava rodando. Não posso precisar, mas estimo ter andado uns 50 km e as rochas pareciam estar no mesmo lugar e eu não chegava. Mesmo ainda tendo 1/2 tanque de gasolina, resolvi não tentar mais me aproximar, o piso de areia, mesmo batida, alteraria o consumo da GSA, e com toda a sua autonomia não queria problemas com pane seca até chegar nas proximidades de Fez.
O sol já dava sinal que queria se por. Os tons do crepúsculo já se faziam presente, deixando a paisagem alaranjada e vermelha.
Já era quase noite quando cheguei a Fez. Enrique Diaz, com a sua Super Tenere me esperava nas proximidades da entrada da Medina.
Foi um impacto. Fiquei estarrecido. Era um trânsito muito doido, taxis desnorteados, bicicletas motorizadas brotando do chão sem o senso de sentido de mão no trânsito, pessoas surgindo de todas as direções, não nos restando qualquer outra alternativa senão buscar o mais rápido possível um estacionamento para as motocicletas.
O estacionamento era a céu aberto, a uns 500 metros do Riad que ficaríamos hospedados.
Fez foi fundada em 789 e passou por períodos de grandes dificuldades. Seu povo se orgulha de ter sua própria cultura, arte e culinária. Em 1981, foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. Não encontrei ninguém de 798 por lá para testemunhar, mas a história parece estar viva entre aqueles becos da Medina em Fez
Em todas as minhas viagens, faço questão de conhecer a culinária e as iguarias locais
A noite, o mais sensato seria pegar um taxi para ir a um dos restaurantes mais tradicionais de Fez. Só me restava rir. Era uma confusão, bem ao estilo árabe. Primeiro o motorista de taxi não sabia ler. Ou melhor, quase todos taxistas de Fez são analfabetos. Então a anotação em árabe já estava difícil pro cara, imagina para a minha pessoa!
Isso nos levou a entrarmos e sairmos de taxis, mas sem exagero, umas cinco vezes. E tem mais, pouquíssimos motoristas falavam francês. Neste ínterim apareceu um antigo cinema como referencia, e assim conseguimos chegar ao tal restaurante.
Em Fez eu já podia sentir tudo aquilo que resumiam do mundo árabe
Pela manhã fui visitar a Medina, e primeiramente a uma fabrica de curtumes. Na tradição árabe, por superstição, o primeiro negócio do dia tem que ser realizado como anuncio de boa sorte. Eu já sabendo não fiz cerimônia em fazer uma oferta de 50% do valor pedido por uma mala de couro de camelo, e depois de todo aquele "jogo de cena" o vendedor fechou pela importância ofertada.
Em Fez, no centro da Medina, já começava a ter uma ideia da essência daquela cultura
É hora de partir, pegar a motocicleta e ir rumo ao Sul. Para uma região de Zouala, a qual sabia que dali pra frente iria começar a área do deserto do Saara e conhecer a região dos Touareg.
Neste trecho comecei a experimentar a Super Tenere.