Perseguindo o Amanhecer - Ricardo Lugris
09/08/2015 - Entre Moscou e Kazan, no Tartastão
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Sempre é melhor do que passar entre os caminhões e automóveis.
Nunca se sabe quando o Ivan vai querer mudar de faixa...
Mesmo assim, em uma viagem leve e bastante agradável, pois não pode ser classificada de monótona, cheguei a Kazan, uma bela cidade multicultural, capital da República do Tartastão, localizada às margens do majestoso Volga, mais um marco para mim.
Tive uma certa dificuldade em encontrar hotel.
Achei que seria em função das férias de verão na Rússia.
Subi de patamar e procurei em um hotel um pouco mais caro, onde encontrei um quarto disponível.
Ao chegar, vejo que se desenrola um evento em Kazan: Simplesmente o campeonato mundial de esportes aquáticos, com as finais da natação neste domingo.
Maravilha, penso eu.
Vou ter o que fazer, além de passear por esta bela cidade cujas origens remontam ao império Bolgar, o mesmo que formou a Bulgária e do qual vem o nome, Volga, dado a esse rio que divide as duas Rússias e que foi de imensa importância estratégica para a URSS na Segunda Guerra mundial.
Mas, divagações aparte, a cidade de Kazan vive duas culturas separadas em uma excelente convivialidade: o cristianismo ortodoxo russo, com seus habitantes de origem eslava e os Tartares, muçulmanos este últimos, mas com um grau de liberalidade fora do comum para essa religião nos tempos que correm.
Assim, esta República encravada em pleno coração da Rússia, (dizem que Kazan é o centro geográfico do país), vive em harmonia em duas culturas e se beneficia da exploração de petróleo e gás.
Daí, sua enorme prosperidade.
A cidade é limpa, agradável, bonita , exótica, e um daqueles lugares que te oferecem surpresas de belos recantos a cada momento em uma simples e descontraída caminhada.
Com bom tempo e a cidade cheia de visitantes em função do Mundial, dou-me conta que a decisão de ficar mais um dia e descansar um pouco foi absolutamente acertada.
Como era de se imaginar, não consigo ingresso para as finais de natação. Esgotados.
Em meu passeio pela cidade, visito um pequeno e extraordinário museu, se chama: "Museu de Uma Infância Feliz" que faz referência aos anos de escola, infância e adolescência, sob o regime Soviético.
Todos aqueles itens de material escolar, brinquedos, jogos, roupas, acessórios, etc que na URSS, ou mesmo fora dela, se usavam nos anos 50, 60 e 70.
Foi simplesmente delicioso.
Os 250 rublos mais bem gastos de minha vida.
Saindo dali, já era hora de almoçar e fui para a movimentada rua de pedestres a fim de encontrar algo.
Vejo dois brasileiros passeando.
Foi fácil, ambos usavam a camiseta da seleção.
Começamos a conversar e tomamos um par de cervejas.
Paulo e Kadú trabalham para a Siemens na Noruega e tem por hábito ir à grandes eventos esportivos.
São torcedores militantes.
Super agradáveis, parceiros e interessados, curtimos um belo bate-papo de umas duas horas.
Disse a eles que não encontrara ingressos.
Kadú então tirou uma entrada do bolso e perguntou se eu queria ficar com ela. Quase caí da cadeira.
Realmente, acho que tirando os familiares dos atletas, deveria haver uns 3 torcedores brasileiros no evento, 4 comigo.
E eu fui tropeçar em dois deles.
Fui, com os dois novos amigos, ver as finais.
Maravilha. Um grande evento esportivo que pude assistir por uma série de fortuitas coincidências e pela generosidade de dois brasileiros que nem me conheciam.
Assim somos nós.
Amanhã, volto para a estrada, na proa do Kazakhstan que espero chegar em dois ou três dias.
Mas o fim de semana em Kazan ficará sempre como uma bela recordação de um belo lugar.
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