Perseguindo o Amanhecer - Ricardo Lugris

07/08/2015 - Fronteira

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Vilnius em uma segunda feira não parecia muito diferente do domingo. Uma cidade calma, sem muito tráfego o que se poderia atribuir ao mês de férias, ou ao horário em que eu decidi pegar a estrada para tentar chegar à fronteira Russa nesse mesmo dia a uns 500 km de distância.

Meu ponto de passagem será na Letônia, segundo país Báltico a percorrer, e um pouco o "primo pobre" desses três belos pequenos países, que uma vez foram estados satélites da URSS.

A divisa sem controle entre a Lituania e a Letônia, que sempre confundimos qual é qual, acontece em apenas alguns quilômetros de Vilnius.

A estrada muda. A superfície se deteriora. Há muitas obras (financiadas pela UE), onde uma mão é fechada e o tráfego é controlado por semáforos provisórios.

No primeiro deles, enquanto espero, chegam dois motociclistas holandeses.

Conversamos um pouco, o sinal abre e seguimos até o semáforo seguinte.

Esperamos novamente, conversamos, e eu sugiro tomarmos um café.

Batemos um bom papo em um Café e nossos caminhos se separam.

É curioso como, em geral, motociclistas em viagem sempre tomam um tempo para trocar experiências e impressões. Gosto muito disso, da vida e alegra uma jornada que se anunciava solitária.

Continuando em direção ao norte e à fronteira hoje tensa, com a Rússia, vejo novos semáforos e novas obras.

Decido não parar nos sinais vermelhos e encostar a moto cada vez que tenho trânsito contrário.

É arriscado, mas me faz economizar o tempo que seguramente vou precisar nos famosos, intrncados e complaxos trâmites de fronteira para a entrada na "Mother Russia".

Nos últimos dias tenho estado em contato com dois brasileiros, Sergio Gaspar e Policarpo Junior, viajando também de moto pela mesma região, com destino a Moscou.

Sua progressão era de um ou dois dias na minha frente, com um roteiro ligeiramente diferente do meu.

Chego à fronteira da Letônia com a Rússia.

Há uma fila de automóveis que decido ultrapassar e vejo duas motos instaladas na fila.

Penso: vou me juntar a esses motociclistas, assim economizo fila.

Ao chegar, percebo a bandeira brasileira na traseira de uma das motos.

Mais uma dessas extraordinárias coincidências para quem viaja em uma mesma região!

Eram meus amigos Gaspar e Policarpo que, apesar dos nomes que sugerindo uma dupla sertaneja, são excelentes motociclistas, ambos com grande experiência de viagens internacionais e pessoas adoráveis.

Feita a festa do encontro, sou informado que a fronteira está ainda fechada.

Nas últimas semanas, esta passagem de fronteira tem estado submetida aos humores, sentimentos e reflexos da situação política entre a Rússia, a Letônia e, por consequência, a União Européia.

A Rússia, em mais um rompante de expansionismo, decidiu questionar o processo de "independencia" da Letônia, baseada no fato de que há muitos cidadãos de origem russa instalados nesse pequeno país.

Algo assim Como se a Itália decidisse reivindicar o Uruguai...

Algo similar ao que a Rússia fez com a anexação da Criméia e a razão do conflito no leste da Ucrânia.

Aparentemente, havia um grande contingente de tanques do exército russo do outro lado da fronteira.

Não vimos nada, mas a tensão era palpável haja visto a má vontade dos policiais letões em relação a estes três motociclistas itinerantes que decidiram fazer um tour em "terras inimigas".

Após duas horas de uma espera sem informações, a fila se move e procedemos ao que deveria ser a simples e rotineira verificação da saída da UE pelos agentes da Letônia.

Ledo engano!

Os agentes pediram o passaporte, a Habilitação, documento da moto, seguro da moto, e, se tivessem mais tempo, acho que me pediriam também a Carteira de Sócio do Clube Comercial de Bagé.

Assim, tivemos um processo de saída de quase duas horas em um estado da União Européia. Muito estranho.

Uma vez liberados para ir ao lado russo, esperávamos o mesmo nível de complicação, ou pior.

Apesar do mau humor do agente que exercia ao máximo a sua "síndrome de pequena autoridade", o procedimento de imigração e alfândega correu bastante fluido.

Preenchi os dois formulários exigidos pela alfândega russa para a importação temporária da moto, processo que conheço bem.

Ao preencher:País de Proveniência" ao entrar, coloquei Latvia (Letônia ).

E, país de destino ao sair, coloquei JAPÃO.

A agente russa, ao verificar meu formulário, crava em meus olhos seus profundos olhos azuis e, em um tom muito sério aponta para o nome JAPÃO, e pergunta:

ARE YOU CRAZY?

Tive então que explicar que não era louco, apenas dispunha de bastante tempo e uma inexplicável paixão pela viagem de motocicleta.

 
 
 
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