Perseguindo o Amanhecer - Ricardo Lugris

01/08/2015 - Vilarejo no sul da Polônia: Oswiecim

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Ontem reservei parte do dia para visitar um bucólico e tranquilo vilarejo no sul da Polônia: Oswiecim.
Sua herança entretanto, é uma das mais cruéis e dramáticas de toda a história da humanidade.
Esse povoado de gente amável e sorridente, de vida pacífica e tranquila, é conhecido por seu nome alemão: Auschwitz.
Mais de 1.3 milhões de pessoas, em sua maioria, judeus mas também poloneses, ciganos e homossexuais foram exterminadas neste complexo onde a meticulosidade e a obsessão pela organização dos alemães se aliou ao fanatismo nazista para criar e operar uma máquina infernal de degradação, tortura, morte, erradicação e extermínio.
Esta última palavra não deve ser tomada de forma ligeira, ao azar.
Exterminar, vai muito além de matar, executar, liquidar.
Significa fazer desaparecer, sumir, como se toda essa gente jamais tivesse existido.
E a isso se dedicou a eficiência nazista nos pormenores mais insignificantes.
Estivemos, Graça e eu, em Auchwitz-Birkenau há alguns anos atrás mas fizemos a visita de forma independente, aem detalhes, com pouco tempo disponível.
Desta vez, contratei um guia e resolvi ir fundo nesse pessoal mergulho num dos maiores exemplos da ignomínia humana.
Em mais de uma ocasião, na visita de duas horas, me rendi às lágrimas. Como não se envergonhar diante de milhares de pares de sapatos de crianças?

Ricardo Lugris
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Ricardo Lugris  



































Como não se horrorizar com a visão de 2 toneladas de cabelo humano? (E na liberação do campo foram encontradas 8 toneladas...)
Como não reagir em náusea e desespero diante de milhares de próteses humanas e óculos de correção?
A obsessão pelo detalhe e controle nazista mostrava a hora exata de cada execução: 13:05, em seguida, 13:07, 13:09 é assim sucessivamente por 17 horas!
É a banalização do mal. É a totalização do que pode haver de pior na nossa raça.
O comandante do campo, Rudolfo Höss, pai diligente e amoroso de 5 filhos, vivia a apenas 50 metros de uma das câmaras de gás.
Enquanto ele brincava com suas crianças no jardim de sua casa, centenas de outras da mesma idade eram eliminadas e queimadas cotidianamente.
Como entender e aprender a aceitar essa barbárie como uma verdade histórica?
Perguntei à Guia como ela conseguia viver com essas memórias, esses fatos, essa realidade histórica insuportável de dorma cotidiana em seu trabalho no campo?
Ela me disse que seu avô foi prisioneiro no campo durante a guerra.
Sua família é de Orwiecim e seus país trabalharam no museu de Auschwitz após a guerra para que ele se transformasse em um lugar de memória, reconhecido pela ONU como monumento em 1974.
"Auschwitz, disse ela, estava sempre nas conversas em nossa casa, talvez por isso seja mais fácil para mim aceitar e falar sobre o que aconteceu aqui."
Passar pelo portão com as três palavras mais cínicas e terríveis que o homem já inventou, "Arbeit Macht Frei" (O Trabalho traz a Liberdade), faz o visitante, 70 anos depois, receber uma carga de energia tão violenta e negativa que está vai permanecer no seu interior por muito tempo.
Ver, sofrer, envergonhar-se, isso para que não se repita. Todos precisam ter essa missão é passá-la aos nossos filhos.

Nota: Sei que quase tudo e muito mais já foi escrito sobre a barbárie Nazista e os campos de concentração. Eram centenas, espalhados por toda a Europa. Um sistema neurótico e paranóico desenvolvido.nos mínimos detalhes para eliminar seres humanos.
Nao quero criar polêmica, apenas fiz questão de contar o que vivi, como um simples turista, em um lugar vazio e asséptico, cauterizado pelo tempo e apenas impregnado de memória. Mesmo assim, uma experiência dura, mesmo para alguém como eu, que já viu a guerra de perto.
Pensem o que foi viver ali, naquele campo, em seu momento, como uma das inocentes vítimas que acreditaram nos dizeres mostrados sobre o portão de entrada. Pensem.

 
 
 
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