Perseguindo o Amanhecer - Ricardo Lugris

14/11/2015 - Je Suis Français

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Sei que o que se espera de alguém que vai percorrendo países diferentes, exóticos e um tanto quanto desconhecidos, é que essa pessoa fale desses lugares, comente sobre os encontros inerentes à viagem de moto e à vontade de conhecer outros tantos sitios bucólicos e agradáveis.
Efetivamente, nos últimos dez dias de viagem, venho visitando lugares de sonho por sua beleza, sua tranquilidade, que te convidam a relaxar, e viver o momento e o privilégio de estar ali.
Confesso que tinha preparado um belo texto onde descrevia esses lugares na maravilhosa Tailandia, para fazer sonhar e motivar a quem tem a paciência de ler meus posts desta viagem.
Entretanto, não tenho vontade de descrever essas paisagens e lugares agora, desde que hoje pela manhã fui acordado às seis horas com uma mensagem de minha esposa onde, chocada, ela me falava dos atentados em Paris.
Como descrever o sentimento e as emoções que correm em teu espírito quando nos deparamos com tal brutalidade? Não estamos programados para fazer face a tal barbárie. Não a entendemos, não a aceitamos.
Vivo há vinte anos na França, por opção pessoal.
Amo esse país que me recebeu e à minha familia, com todos seus defeitos, e sobretudo por suas qualidades.
E não é assim que amamos nosso próprio país, ou qualquer pessoa, com todos seus defeitos e também por suas qualidades?
Eu aprendi a amar a França. E não foi fácil.
Ela, tem seu temperamento particular e seu jeito de ser, que muitas vezes te exaspera, te intriga, te surprende.
Somos definitivamente diferentes, a França e eu.
Eu sou impetuoso, sentimental.
A França é conservadora e cartesiana.
Eu sou efêmero e superficial
A França é eterna e profunda.
Eu sou autoritário, a França é democrática.
Eu sou impulsivo e a França se guia por suas leis, que estão acima de tudo, e de todos.
Assim, presenciando e admirando o cotidiano exercício de cidadania em torno a mim, por quase 20 anos, comecei a considerar que amo esse país e que também queria ser um deles.
Não se trata de negar minhas origens nem de renunciar à minha própria cultura.
Mas a França me fascina pela forma que ela dedica o adequado respeito a seus cidadãos.
Há um ano atrás, junto com Graça, Paloma e Luana, nos tornamos franceses.
Sou um deles agora. Sou um citoyen.
Aprendi a amar e respeitar esse país de tolerância, apesar de tudo o que possam dizer. É tolerante sim.
Ali, na França, e não no Brasil, foi onde conheci a verdadeira diversidade cultural, racial e religiosa.
Tolerância e respeito ainda são valores cultivados na França. E os valores nesse país, tem força de lei.
A constituição, o direito individual e o respeito ao cidadão, por outro lado, são conceitos que não existem para esses destrambelhados que oferecem suas vidas e as de muitos inocentes em nome de uma causa obscura, manipuladora e destrutiva.
Nunca são os chefes que se imolam como jihadistas.
São sempre estúpidos jovens que se deixaram seduzir por conceitos de justiça associados à uma incompreensível barbárie.
A cada tragédia desse tipo, tenho mais dificuldades em entender a radicalização do islamismo ou qualquer outra religião que traga como divisa, a lei do talião.
Se o islamista hoje não é militante, é simpatizante, ou, na melhor das hipóteses, é omisso.
Em nenhum desses casos, considero como aceitável.
A França ofereceu abrigo e oportunidades a uma enorme quantidade de imigrantes e hoje 15% de sua população é muçulmana.
Estes, vivem de maneira geral, bem melhor do que viveriam em seus próprios países.
Também, nessa comunidade, seus cidadãos de bem, aportam à França, excelentes profissionais nas mais diversas áreas do conhecimento e da atividade moderna.
Os bárbaros sacrificam indiscriminadamente. Muçulmanos morrem vítimas desses monstros.
Infelizmente, a França pretende combater a barbárie com civilização. Isso não é nem viável, nem possível.
O governo de François Hollande, desde os atentados de Janeiro, subestimou o terror.
Não deu recursos aos serviços de inteligência como deveria.
O resultado está aí. A barbárie, mais uma vez.
Naquele teatro poderia estar uma de minhas filhas.
Era sexta feira à noite e elas gostam de ir a concertos de música.
Não estavam, sorte minha. Azar de outro pai ou de outra mãe. Tampouco é justo.
A França que eu amo, por seu exemplo de iluminismo e de respeito aos direitos do homem e do cidadão, tem agora mais uma agressão para lamentar, comprender e assimilar.
Choraremos nossos mortos e feridos, com um profundo senso de incompreensão e de injustiça.
Não pode jamais haver justificativa religiosa, ou qualquer outra, que autorize a tirar a vida de inocentes.
Recentemente estive visitando aqui na Tailândia, as regiões que foram devastadas pelo terrível Tsunami de 2004.
Comunidades inteiras foram aniquiladas.
Milhares de pessoas simplesmente desapareceram em menos de meia hora, por um capricho violento da natureza .
Quiçás, seja mais fácil de entender e aceitar o fenômeno meteorológico, ou sísmico, chame como quiser.
O que não é assimilável é a covardia e a sanha de gente que se toma por Deus e acha que pode decidir quem vive e quem morre em um determinado momento.
E não há nada pessoal nisso, podem justificar os algozes.
Ele se equivocam.
É pessoal, sim.
Eles odeiam meus princípios e minha qualidade de cidadão obediente às leis e aos valores constitucionais do país que adotei como meu. Portanto, são meus inimigos.
Nunca tive um inimigo. Agora, acho que vou passar a ter muitos.
Meu amor pela França e por meus novos compatriotas, diante de semelhante injustiça, só faz aumentar.
Aux armes citoyens!

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Comentários (1)

28/6/2016 15:38:20
TUGTDOBFI3QL
Absolutely first rate and cot-erpboptomed, gentlemen!
 

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