19/09/2015 - Qualquer direção é boa quando não se sabe onde ir
Estou exercendo em termos práticos a expressão, "qualquer direção é boa quando não se sabe onde ir".
Levando em conta a bagagem prevista para quase 5 meses de estrada, decidi deixar para trás todos os guias de viagem que havia comprado durante os meses de preparação deste périplo.
Seria muito complicado e pouco prático, trazer vários livros comigo, assim, encontro - me no Japão, sem guia.
Algo que se pode comparar a um "mato sem cachorro" ou, "de ir à guerra sem fusil".
Sempre existe a Internet para algo de informações mas não é a mesma coisa, obviamente.
Sem me deixar abater, sobretudo porque faz um tempo espetacular e a temperatura é ideal para a moto, em torno dos 22 graus. Assim, tomo a direção do oeste, no sentido contrário ao que venho percorrendo desde que saí de casa.
Quero o sol nas costas por alguns dias.
Como mencionei anteriormente, as estradas do Japão são quase ruas. Você dificilmente sai a campo aberto, e na paisagem sempre encontrará povoações, vilarejos, e cidades, cidades, cidades, além de semáforos, semáforos e semáforos.
O Japão tem o sinal vermelho mais longo do mundo...E a saída dos automóveis com o sinal verde se dá sempre ao mesmo ritmo de seu tradicional ritual do chá.
Após 3 horas de viagem, me vejo a menos de 100 km de meu ponto de partida em uma estrada sem atrativos além daqueles que começo a perceber repetitivos: belas casinhas, campos cultivados com arroz e muitas concessionárias de automóveis e postos de gasolina. (Atrativos? )
O japonês é obsessionado por automóveis.
Nunca vi tantas concessionárias em lugar algum do mundo.
A costa se encontra a um ou dois kms à minha direita, decido tomar uma estrada de fazenda para ver se há algum caminho ao longo da praia ou da costa, em busca de belos lugares e um pouco mais de distração para este belo dia de domingo.
Alcanço um grupo de motociclistas japoneses em seu passeio semanal.
Boa coisa, penso eu, se esse pessoal está passeando por aqui, quer dizer que a região é bonita para a moto. Isso decididamente, interessa.
Discretamente me posiciono ao final do grupo e vou seguindo com eles por alguns quilometros até que eles se detém, tendo em conta a hora e o lugar, para o almoço.
Sem dar na vista, ultrapasso o grupo e acabo por encontrar, por pura sorte, a Rota 191 a qual, , vim a saber mais tarde, é uma das estradas preferidas dos motociclistas japoneses da região de Fukuoka.
Deliciosamente ondulada, com belas vistas de montanha e mar, ela percorre um grande parque de natureza exuberante que começa discretamente a adquirir suas primeiras cores de outono.
Assim, tendo recuperado o prazer de rodar exuberante com a curiosidade desperta, vou percorrendo um belo caminho até dar com um curioso santuário shintoista em um rochedo junto ao mar.
Cruzo novamente por vários grupos passeando em duas rodas, o que me assegura do nível de interesse e as belezas do lugar.
No estacionamento do templo, um pequeno grupo de motociclistas japoneses vem admirar a moto e fazem fotos comigo.
Recomendam - me o restaurante ao lado do estacionamento onde almoço por menos de 10 euros uma refeição tradicional japonesa, confortavelmente sentado no chão.
Sou atendido por sorridentes senhoras que em momento algum esquecem de completar minha taça com um delicioso chá verde.
Ao terminar meu variado e delicioso almoço, tenho a surpresa de ver que o grupo de motociclistas de antes estava ainda esperando por mim junto à minha moto no estacionamento.
Perguntam para onde vou e digo que estou seguindo na direção oeste.
Eles então dizem que podem me acompanhar até a ilha de Tsuno Jima, ligada à ilha principal por uma longa ponte.
Levam-me portanto, a um lugar muito bonito ao final de uma estrada cheia de prazeres para mim e para a moto.
Fiquei emocionado com a delicadeza desse grupo de quatro motociclistas. Eles esperaram por uns 40 minutos, sem perturbar meu almoço, para me fazer o convite de acompanhá-los.
Conhecedores da região, dão - me uma boa apresentação de lugares espetaculares e meu domingo se torna simplesmente um passeio com amigos.
Apenas um deles fala um inglês claudicante mas isso não é importante,
Falamos a linguagem universal da motocicleta.
Nos comunicamos com sorrisos, gestos, acenos e acelerações e apreciamos esse veículo que a todos nós aporta prazer, encontros e descobertas.
Ao final da tarde, depois de visitar alguns lugares realmente belos, vejo que eles se dispõem a retornar à sua cidade. O passeio de domingo se termina.
Apertos de mão, entremeados do tradicional gesto de apreço e respeito do japonês, baixando a cabeça e o corpo em sinal de humildade.
Imito o gesto com cada um deles, sinceramente grato por essa inesperada e bem vinda generosidade.
E assim, sempre na direção do pôr do sol, inicio à procura de um lugar para passar a noite, pois com o final do verão, começa a escurecer bem mais cedo.
Volto a rodar comigo mesmo, e na variedade de pensamentos e impressões que me chegam, está a complexidade em tentar interpretar a alma e cultura deste povo.
Ao mesmo tempo complexo e simples, tímido e descontraído, discretos e, por momentos, barulhentos.
Um povo capaz de gestos surpreendentes, totalmente inexistentes no lugar onde vivo:
O caixa do museu que se levanta e te agradece pela visita.
O frentista do posto corre até a saída se curva respeitosamente quando você se despede.
O porteiro do hotel te leva até a recepção e a recepcionista de leva até o elevador.
Em um restaurante, todos os funcionários te cumprimentam ao entrar e o garçon, à porta se despede formalmente na saída.
Fico pensando que finalmente, a crise emocional que sofrem muitos japoneses em Paris deve ser verdadeira.
Por outro lado, você pode passar dias sem falar com ninguém, não só pela dificuldade de comunicação e de língua existente no Japão, mas sobretudo pela discrição e pelo respeito à tua privacidade.
Decididamente, um lugar diferente dos demais.
Interrompo meus pensamentos com a visão de um pequeno hotel à beira mar.
Uma tempestade começa a formar - se no horizonte e não vai tardar a chegar.
Desde o tufão que passou pelo Japão na noite anterior à minha chegada, o tempo tem estado bastante instável.
Encosto a moto na entrada do hotel e o porteiro, de impecáveis luvas brancas, me recebe com uma inclinação de cabeça, um sorriso, e um gesto largo de mão que evidentemente quer dizer: seja bem vindo.
São assim, os japoneses, naturalmente sinceros.
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Ricardo Lugris |
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