16/09/2015 - O Japão
Em um primeiro momento, o Japão não impressiona.
Suas estradas, quase ruas, são estreitas e movimentadas, ainda que o trânsito seja lento. Suas ruas, são mais estreitas ainda, quase ruelas, e suas ruelas... Bem, a moto não passa.
A paisagem, típica de ilhas vulcânicas, tem sua beleza no verde sempre muito próximo ao azul do mar.
Seus campos sempre cultivados de arroz, dourado nesta época do ano, suas montanhas e reduzidos vales, dão a impressão de ser um país em miniatura. E, de certa forma, o Japão o é!
Estou, de qualquer forma, na terceira economia mundial, um dos países mais desenvolvidos do planeta onde a taxa de mortalidade infantil e analfabetismo são dos mais baixos do mundo e a longevidade, a mais alta.
E, portanto, há pequenos detalhes que chamam a atenção do neófito visitante tais como a simplicidade, quase pobreza, de muitas residências, algum entulho aqui e ali, a eletrificação aérea, ou seja, postes e fios em toda a parte e sobretudo uma imensa poluição visual onde dizeres nos três alfabetos locais inundam o nosso campo de visão onde quer que fixem os o olhar, em qualquer cidade, em qualquer lugar, ali, intensos, coloridos, brilhantes.
Entre dezenas pequenos automóveis um quanto quanto futuristas do tipo "cubo", e que lembram uma cidadezinha de "playmobil", vou tocando minha moto com a consciência de que devo me manter à esquerda na circulação.
Os japoneses olham e admiram a moto com discrição, aliás, esta deve ser provavelmente a palavra "chave" para definir o comportamento neste país. Discrição.
Em um semáforo me distraio com o GPS e ele passa a verde. Atrás de mim, ninguém buzina!
Venho de 5 semanas por lugares onde os motoristas te dão exatamente 10 centésimos de segundo antes de começar a buzinar na mudança de sinal.
E na Mongólia, eles conseguem buzinar ANTES da mudança iminente da cor do semáforo. São paranormais.
Existe, evidentemente aqui uma grande disciplina na condução de veículos, assim como em qualquer outra atividade humana nestas extraordinárias quase 7000 ilhas que formam o arquipélago do Império do Sol Nascente.
Os caracteres que formam a palavra Japão significam "origem do sol", daí essa definição.
Há muito tempo em minha agenda, o Japão fornece ao visitante tudo o que ele espera de uma destinação exótica, onde como em lugar algum do mundo, combina - se harmoniosamente o antigo e tradicional com o moderno, o prático e o tecnológico.
A força da cultura japonesa pode ser observada nos mais mínimos detalhes a cada momento: Na ordem e disciplina de como eles conduzem seus movimentos. Na hierarquia e no tratamento entre indivíduos. Nas relações familiares e sociais.
Reservei um pequeno hotel tradicional para minha primeira e literal imersão nessa milenar cultura.
No Japão, você tem a opção de hospedar-se em um quarto de hotel ocidental, como em qualquer lugar do mundo ou, escolher um hotel de configuração japonesa e tentar viver sua própria experiência local.
Os Ryokan, como são chamados estes hotéis tradicionais, dão ao visitante estrangeiro a experiência de poder viver um pouco ao estilo japonês com grande autenticidade.
Os japoneses, eles mesmos preferem, sobretudo nas inúmeras estações de águas termais espalhadas pelo país, ficar hospedados nesses estabelecimentos onde podem socializar, relaxar e tomar seu tradicional chá onde o tempo adquire uma outra dimensão.
O Ryokan, com suas portas deslizantes, o papel que substitui os vidros, nas janelas e seu piso de madeira impecavelmente limpo, onde sapatos ficarão à porta do estabelecimento é a tradução comer ial do lar japonês.
Não há praticamente mobília no quarto, coberto com o "tatami", você dorme em um colchonete sumário, com um travesseiro forrado de sementes de arroz, este último, supreendentemente confortável.
A mesa, de apenas 30 com de altura sempre terá o chá disponível e você tem um kimono de algodão rigorosamente (aliás como tudo no japao) limpo para vestir no interior do estabelecimento.
O Ryokan tradicionalmente serve o café da manhã no seu quarto, em um ritual extraordinário de uma dezena de pratos espetaculares da reconhecida cozinha deste país.
Sopa miso, algas, enguia defumada e um ovo frito. (que você precisa saborear com pauzinhos, um exercício inusitado de coordenação motora. Para alguém como eu, que tem duas mãos esquerdas...)
Meu pequeno Ryokan é novo e agradável.
As dimensões do quarto são adequadas ao espaço disponível para a habitação no Japão.
Assim, satisfeito de minha escolha para meus primeiros dois dias de descoberta deste país extraordinário, parto para minha exploração de uma prática geral no país, que se assemelha em muito ao banho turco: O Onsen.
São banhos públicos, normalmente localizados em regiões onde há fontes de águas termais.
Em um país formado por ilhas vulcânicas, a existência de águas termais é abundante.
Você paga, recebe uma pequena toalha e um sabonete. Há uma parte para as mulheres e outra, para os homens.
Retira no vestiário TODA a sua roupa e entra em uma área onde mais de uma dezena de respeitáveis cidadãos japoneses estão sentados, nus, em banquinhos, cada um deles diante de uma ducha a 50 cm do chão e, com a ajuda de uma pequena bacia, lavam completamente seus corpos, passam champú barbeam-se, etc.
Enfim, tudo aquilo que você faz na ducha de sua casa, eles também o fazem ali, coletivamente.
Uma vez que você tenha se lavado completa e detalhadamente, pode entrar nas várias piscinas, cada uma com a água a diferentes temperaturas de 40 a 19 graus e intermediar com esses banhos, os vários tipos de sauna disponíveis.
Ali, se encontram crianças, jovens, velhos e homens de qualquer idade ou nível social.
A convivência é reservada e discreta. Não há muitas rodas de conversa, ou mesmo conversas.
Cada um se encontra ali, para seu ritual de purificação, asseio e relaxamento individual.
Sou o único estrangeiro, e tento entender como funcionam as coisas.
Procuro não chamar a atenção, pois me sinto literalmente nu e não fazer nenhuma "gafe" mas isso é virtualmente impossível.
Alem de meu tamanho pouco japones e meus olhos muito arrendondados, entrei com uma grande toalha e os japoneses usam uma pequenina toalha que colocam sobre a cabeça quando estão de molho na água quente.
Minha toalha era muito grande para colocar na cabeça e não há lugar para pendurar... Percebo risadinhas discretas...
Já saberei da próxima vez.
Assim, aprendo e vivo a extraordinária experiência sensorial do Onsen na companhia de pessoas que te acordam apenas um curto e marcial movimento vertical de cabeça como cumprimento.
Ninguém te olha ou repara em você.
É uma espécie de extrema privacidade estando nu em público, você passa a ser quase invisível.
Bem, ao menos gostaria de ser...
Retorno limpinho e sossegado ao meu pequeno quarto japonês.
Tenho um sono profundo no resultado de um longo primeiro dia no Japão.
O colchonete, entretanto, é bastante espartano.
Não me incomodaria nem um pouco, ter uma daquelas grandes e generosas camas do Hotel Hyatt neste momento.
Puxo a cordinha da lâmpada no meio do quarto e antecipo grandes descobertas para os próximos dias no país do Sol Nascente.
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Ricardo Lugris |
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