Perseguindo o Amanhecer - Ricardo Lugris

08/09/2015 - Vladivostok

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Vou levando a moto com muito cuidado e tranquilidade, aproveitando cada momento destes últimos quilômetros que me separam de Vladivostok, no extremo oriental da Rússia.
Para dar uma idéia, esta cidade fica ao LESTE da China!
Para chegar até aqui, foi uma estrada longa, recheada de eventos e acontecimentos curiosos e interessantes.
Foi, constato, bem mais fácil do que parecia.
Nos últimos 3000 km, desde a cidade de Chita, onde aproveitei para descansar um par de dias, para passear, ler e também para dar à Mobilete um merecido banho de champú, atravessei grandes espaços vazios de gente, sem populações, somente florestas e a taiga sempre presente.
Temperaturas variaram de 2 a 30 graus, ainda sem nenhuma chuva.
Esta região, uma das mais remotas da vasta Rússia, obriga o viajante a fazer longos percursos diários, entre 700 e 900 km.
A estrada se torna monótona e desinteressante.
Nesse momento, você se envelopa em seus pensamentos e é quando sua mente se torna verdadeiramente criativa.
Sua semi-concentracao na condução da motocicleta permite a uma parte do seu cérebro de trabalhar livre e assim, equacionar sua vida, seus planos, suas relações, sua atitude em relação aos demais no seu entorno e, finalmente, o que você pretende fazer de sua vida daqui para a frente.
Nessa espécie de catarse pessoal, onde você faz uma espécie de faxina em sua existência, os quilômetros vão se sucedendo a uma velocidade bem maior do que a da moto.
Sempre em direção ao leste, lembro de um lindo ditado Maori que acredito ser totalmente oportuno nessa reflexao:
" Volte seu rosto para o sol e as sombras cairão atrás de você "
Decido pernoitar em Birobidzhan. Meu GPS russo insiste em não me mostrar hotel algum.
Dirijo-me para o centro da cidade e dou com um grande estabelecimento que me servirá impecavelmente , após os duros kms recém percorridos.
Saio para uma caminhada nesta cidade que se encontra no limite fronteiriço com a China.
Separadas por um rio, as duas cidades que não se falam, já que a fronteira é extremamente rigorosa entre os dois vizinhos.
Assim, se detestam cordialmente e rivalizam na construção de edifícios voltados para o Rio, em uma enorme demonstração de vaidades.
Chego à beira do rio e há um barco de turistas prestes a sair para um tour de uma hora.
Aproveito a oportunidade de apreciar um pedacinho da China a cem metros de distância.
Nesta viagem, após uma longa análise, decidi não visitar a China pois é muito complicado, e caro, ingressar com a moto nesse país.
A lei chinesa exige que a moto seja emplacada provisoriamente no país. Você precisa fazer uma carta de motorista chinesa e, finalmente, pagar um guia local que lhe seguirá, de carro pela duração de sua estada no país.
Custo aproximado da brincadeira: 4 a 5 mil dólares.
Recuso-me a pagar para visitar um país, por mais atrativo que este seja.
E qual é a graça em percorrer a China com um Toyota colado à traseira de sua moto no meio do trânsito infernal da China?
Agradeço, mas prefiro contorná-la.
E assim, me encontro seguindo ao longo da fronteira desse grande país, a uma distância de poucos quilômetros de suas cercas de arame farpado.
Decido pernoitar em Khabarovsk, que me surprende por sua beleza arquitetônica e pelo cuidado em suas ruas e alamedas.
Debruçada sobre o majestoso rio Amur, teria muito prazer em passar um par de dias por aqui, mesmo porque o hotel onde me hospedei é o mais confortável e bem cuidado de toda toda a viagem.
Mas, "noblesse oblige", preciso estar no dia seguinte em Vladivostok para os procedimentos de Alfândega para a saída da moto da Rússia.
E tomar o ferry de dois dias para o Japão.
Vladivostok é extraordinária.
Com uma temperatura de 25 graus em um belo dia de sol, convida a passear e relaxar em seu organizado centro urbano e sua bela frente-de-mar.
Com uma grande dinâmica e uma economia florescente apoiada no trato comercial com os países do Oriente, Vladivostok se reinventa apoiada em seu passado histórico de isolamento em relação ao restante da Rússia.
Para dar uma idéia, até 4 anos atrás a estrada para o oeste não era ainda totalmente asfaltada.
(A rigor, ainda não o é.)
Termino os trâmites burocráticos com a moto em a deixo no porto para o embarque em direção a uma nova etapa em minha viagem, o Japão.
Ninguém pode dizer que vai fazer uma viagem de tonalidade aventureira em um dos países mais desenvolvidos e organizados do mundo.
Assim, o Japão será sobretudo uma descoberta para mim e um pouco o "recreio" destas últimas 6 semanas.
Vou percorrê-lo em detalhe, apreciando cada vilarejo, cada sitio histórico, cada cidade e sua gente, tentando entender essa extraordinária cultura milenar e, se possível, absorver algo.
E seguirei sempre para o Leste, com a certeza de poder suavemente deixar as sombras cair atrás de mim.

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