Perseguindo o Amanhecer - Ricardo Lugris

17/08/2015 - Ásia

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Estou na Ásia, e o relógio muda outra vez. Meu fuso horário agora é 9 horas na frente do Brasil, 4 em relação à França.
A tarde de sol convida a rodar.
Com os acontecimentos da última fronteira ainda ocupando meus pensamentos, percebo que não fiz câmbio de moeda e que não tenho água.
Em países como os que estou percorrendo agora, é importante estar sempre atento a quatro ítens fundamentais:
1. Dinheiro local.
2. Gasolina no tanque.
3. Água.
4. Comida.
Assim, paro em um pequeno restaurante logo após a fronteira onde ainda aceitam rublos e posso comprar água.
Com o tanque cheio, tendo comido, e com água suficiente, sinto-me à vontade para rodar ainda uns 300 km antes da chegada da noite.
Rapidamente percebo que no Kazakistão as distâncias são seriamente hipertrofiadas.
Você precisa percorrer centenas de kms para poder achar um café ou um vilarejo. O país é vazio de gente!
Os postos de gasolina apenas vendem combustível, nada mais, este último precisa ser pago em uma janelinha antes de se servir.
Você é obrigado a adivinhar quanto pode ainda colocar no tanque, e pagar.
Algumas bombas não tem a válvula de bloqueio, portanto é melhor bem calcular a quantidade para evitar que o combustível derrame sobre a moto, o que já me aconteceu uma vez.
A tarde quente traz com ela uma formação de Cumulus Nimbus, nuvens de tempestade, à minha esquerda.
Dou uma espiada na bússola e vejo que com um pouco de sorte, passarei ao largo.
Se bem que, uma molhada agora, não seria uma má idéia para reduzir o calor.
A tempestade, ao mesmo tempo fascinante e ameaçadora, vem um detalhe que me seduz: um intenso arco-íris forma-se do lado esquerdo da estrada e se mantém por quase uma hora, até que suavemente desaparece.
Nesse momento, o temporal está em cheio sobre mim.
Não há vento nem trovoadas, somente chuva, intensa, estival, com gotas de meio litro de capacidade.
Sem viadutos, postos de gasolina ou mesmo árvores na vasta e desolada estepe para me proteger, vou tocando a moto através do CB que finalmente dura apenas 15 minutos.
Acho que o arco -íris foi o prêmio a pagar pela intensa ducha. Desta vez, meu material estava bem protegido da umidade. Sou distraído, não estúpido.
A noite começa a chegar, antecipada pela mudança de horário e a escuridão das nuvens.
Preciso achar um lugar para dormir.
Mais de 100 km se passam até que eu encontre na beira da estrada um pequeno Motel de viajantes.
O preço pelo quarto? 10 euros!
O problema é que não aceitam nada que não seja a moeda local. Sem argumento possivel.
Preparo-me para retomar a estrada quando um casal, que assistiu a cena pede para fazer uma foto junto à moto.
Digo que sim, mas que preciso achar outro lugar para ficar ou um ATM (a 30km de distância).
A senhora então propõe de ceder-me os 2000 Tengues, equivalentes
a 10 euros.
Aceito trocar a moeda local por 20 euros e isso resolve o problema para todos.
Com dinheiro para o hotel e, de quebra, para poder jantar, pego o meu quarto.
Digamos que não estou propriamente em um 5 estrelas.
Em qualquer viagem, estou sempre preparado para ficar em lugares de baixa qualidade em função das circunstâncias.
Acho que este vai ganhar o primeiro prêmio.
Tenho comigo un saco-de-dormir para casos similares onde a roupa de cama não seja aceitavel.
O problema é que o saco-de-dormir ficou na valise sob os pneus sobresalentes e eu teria que desfazer a amarragem para recuperá-lo .
Decido dormir sobre as cobertas (não havia lençóis. ..)
Na verdade, acho que agora acredito que é possível levitar.
Foi o que fiz durante toda a noite.
Acordei com o barulho de outros viajantes as 5h da manhã.
Preparei meu material, carreguei e parti.
Apenas amanhecia.
Com a saída do sol, a estepe kazak adquiriu uma tonalidade dourada, o céu límpido e o ar frio completavam a sensação de pureza.
Vou em direção ao sol. Visibilidade difícil.
Apesar da noite mal-dormida, sou grato por esse maravilhoso amanhecer e por ter a oportunidade desse momento de comunhão com o grande astro. Egoisticamente, me sinto bem e não gostaria de estar em nenhum outro lugar neste exato momento.
Não há passado, nem futuro, apenas o instante presente, a música em meu capacete e o ronronar suave da GS.
Mas o frio é intenso. O termômetro marca 5 graus.
Confio que com o avanço da manhã, as temperaturas deverão subir.
Lentamente isso acontece. Às 8h tenho 11 graus. Sinto ainda frio.
200 km se passam antes que eu consiga encontrar um lugar para tomar um chá, que sorvo agradecido.
Em uma estrada com grande variação de superfície, do melhor ao pior asfalto, me aproximo de Astana.
A moto é a estrela na grande e moderna cidade.
Em cada semáforo, gestos de admiração e perguntas do tipo, de onde vem, para onde vai, qual a velocidade, quanto custa a moto, etc.
Minha missão agora é encontrar um bom hotel e visitar esta cidade com ares pseudo-futuristas onde muitas inspirações arquitetônicas fazem dela uma mistura de muitos lugares.
Contarei sobre Astana e seu adorável e surpreendente povo, no próximo.



Ricardo Lugris
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