Perseguindo o Amanhecer - Ricardo Lugris

12/08/2015 - Duas semanas na estrada

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Hoje estou completando duas semanas de estrada. Me parece curioso fazer uma espécie de balanço em números e detalhes do andamento desta peculiar viagem:
Percorri, desde o dia 29 de Julho, 9 países, em um total de 5900 km, até hoje.
A metade dessa quilometragem foi feita já na Rússia.
A minha velocidade média foi, pasmem, de apenas 70.5 km/h, o que me rendeu 83.5 horas na sela da moto.
O consumo médio tem sido de 16.9 km/l. E até agora, a moto consumiu 349 litros de gasolina.
A nível de custos, tenho tentado manter meus gastos limitados, sempre que possível, a 100 euros por dia.
Isso tem sido ajudado pela importante desvalorização que sofreu o Rublo diante do Euro e pelo fato de a gasolina custar, na Rússia, em torno de 50 centavos de Euro por litro. Vantagens de produtor...
Consigo encher o tanque da moto com 12 ou 13 euros!
Já me encontro na região dos Urais, que limita a região Européia da Rússia. Hoje, ou amanhã entrarei na Ásia, sempre um acontecimento para quem viaja "overland".
Mesmo assim, segundo meu GPS, ainda estou a mais de 8000 km de Vladivostok, sem contar os desvios que vou fazer para visitar o Kazakistão e a Mongólia.
As distâncias na Rússia, mesmo para um brasileiro habituado a um país continental, são superdimensionadas. Para dar uma idéia, há 9 diferentes fusos horários neste país.
Ontem, por exemplo, de repente o relógio de meu GPS avançou de duas horas. Cheguei a cidade de Ufa, nos Urais,( Nome extremamente apropriado depois de fazer quase 700 km em uma estrada de muito movimento, com um vento irritante durante a maior parte do trajeto...) duas horas mais tarde do que o previsto, pois o fuso horário mudou, de um golpe, de duas horas. Isso é que eu chamo de "perda de tempo".
Felizmente estava bem cansado e meu corpo aceitou ir dormir às 21h e acordar as 6h.
Como disse, já percorri, em uma semana, 3500 km pela Mãe Rússia. Vale também a pena colocar aqui um pouco de minhas impressões, quando comparadas com viagens prévias por este sempre impressionante país.
A rede de estradas vem, nestes últimos anos, melhorando muito, com boas autopistas, sobretudo em torno de Moscou.
Infelizmente, ainda com um número enorme de construções e re-construções de rodovias, o que causa um transtorno monumental devido à densidade da circulação e uma perda de tempo considerável quando se precisa fazer longas distâncias diárias.
A polícia, fonte de preocupação e problemas em outros tempos com seu ávido apetite de multas para ter a oportunidade de uma negociação pessoal, sobretudo se o interlocutor for um estrangeiro, parece ter mudado e seu foco de atenção agora são os prósperos nativos em suas potentes camionetas.
Motociclista estrangeiro da muito trabalho para se comunicar.
A presença policial na Rússia é enorme. Em uma jornada de viagem é normal encontrar - mos, pelo menos uma dezena de viaturas com radar e uns 5 ou 6 controles de veículos. Para nós, viajantes estrangeiros em uma moto que causa evidente admiração nos habitantes locais, é imprescindível manter o limite de velocidade e evitar dar aos policiais qualquer motivo para ser detido.
Mesmo assim, fui sinalizado para deter-me em duas ocasiões desde Moscou.
Nas duas, os policiais estavam apenas curiosos em relação à moto, onde vou, de onde venho, etc.
Nada de errado. Sem demandas financeiras especiais.
Quanto ao limite de velocidade, que é de 90 km/h, não é difícil mantê- lo, pois a margem de tolerância é de 20 ķm/h. Teoricamente, você pode rodar a 109 km/h e não será sancionado pelo radar.
Mesmo assim, limitei minha velocidade a 100 km/h para, de forma segura, fazer face também às dificuldades ocasionais da pista e aquelas provocadas por motoristas locais, um tanto quanto afoitos para dirigir.
Apesar de estarmos muito longe do que seriam hábitos europeus de condução de veículos, noto, desde minha primeira viagem pela Rússia, em 2003, uma sensível melhora na maneira de dirigir dos russos e, obviamente, uma grande evolução na qualidade de seus automóveis.
Apesar de que ainda somos obrigados a engolir fumaça durante minutos atrás de velhos camiões adquiridos do exército, de maneira geral hoje 80% dos automóveis em circulação são de fabricação moderna. Ainda restam alguns numerosos caquéticos exemplares fabricados pelo antigo regime mas são vistos, sobretudo, no interior do país.
Outro ponto extremamente agradável nesta viagem até agora é o clima. Desde que deixei minha casa em Chantilly, tive apenas 10 minutos de chuva na Alemanha. Tem sido 14 dias de sol, com temperaturas de, no máximo, 26 graus.
Para um motociclista, não pode haver nada de mais recompensador. A viagem se torna confortável e prazerosa. Você tem a oportunidade de visitar belos lugares que ganham em atratividade pela luz solar.
Assim, vamos tocando para o leste , pouco a pouco vejo mudar os traços dos rostos, detalhes nas roupas e na decoração, a arquitetura vai se tornando mais elaborada, vou chegando gradualmente ao Oriente.
Os Otomanos, em sua época, grandes viajantes e mestres dos horizontes, indicavam seus mapas para onde nasce o sol, para o leste.
Daí a expressão: "orientar-se" quando queremos encontrar nosso caminho.
Assim, vou novamente fechar minhas valises em uma elaborada rotina cotidiana e, já sobre a moto, virar meu mapa para onde está o sol esta manhã e reiniciar minha "orientação".


Ricardo Lugris
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