Ontem antes de dormir, fui ao centro de Dakhla com o Luis e o Paolo que se revelou insubstituível na aquisição de uma djelab. Qualquer trapinho me fica bem...
Nesta viagem não faço mais negócios sem o seu apoio. Grande negociador (o cigano...).
A KTM do André estava operacional depois de terem limpo o filtro da bomba de gasolina. Até agora a viagem voltou a decorrer sem que tenha ocorrido mais nenhum episódio.
Depois de algumas horas de descanso toca a levantar que para hoje estavam prometidas emoções fortes. O Goal era Nouadhibou, cidade portuária do norte da Mauritânia de grande interesse estratégico, nomeadamente na exportação de minério proveniente do interior do país.
A saída de Dakhla, pela mesma estrada de acesso, já que está localizada na extremidade de um istmo, proporcionou-nos as mesmas paisagens sensacionais aquando da entrada na cidade. A areia substitui progressivamente a terra vermelha que até aqui dominava o panorama.
Poucos km percorridos e detemo-nos na marca que assinala o Trópico de Cancer erigida pelos Nomads Trail Clube Portugal. Na verdade não passa de um amontoado de calhaus que, mais uma vez, mexeram com a bexiga do Enrique. Mais à frente uma placa deteriorada faz a mesma menção, aparentemente mais oficial. Em que é que ficamos?...
Estávamos nós a refletir na grande aventura que estamos a viver quando nos deparámos com um casal de ciclistas americanos, do Minnesota, que anda a pedalar à dois anos e meio por esse mundo fora. Há cada um... Trocámos endereços de blogs e voltámos a rolar deserto dentro. Deserto que assumia cada vez mais o seu estatuto peculiar. Cheio de nada, nem ninguém... É esmagador. Para mim, que vivo esta experiência pela primeira vez, a observação deste quadro é uma oportunidade única, pelo que, apesar de num primeiro olhar parecer ser enfadonho, não o é, de todo... Adorei... vou voltar!
Porém, de quando em vez, surge um marroquino no meio do nada, supostamente à espera... saberão eles do quê?
Já muito perto da fronteira com a Mauritânia surgem manchas vermelhas sobre a areia, resultado da aglomeração de uma espécie de planta xerófita (publiquei ontem uma foto). Mais uma vez, o deserto renova-se... Muito bonito. Numa aproximação do alcatrão à linha de costa o cheiro da maresia intensifica-se e baralha-nos os sentidos. Deserto e odor da maresia? Combinam... é delicioso. Mais uma paragenzita, claro... Mesmo antes do almoço no Complexo Barbas o vento lateral fez-se sentir e recorda-nos a sorte que temos tido com a meteorologia desde o início da aventura. Salam aleikum (a paz esteja contigo)... No entanto a temperatura dava sinais de querer subir. Já se sente um calorzinho.
O Barbas é gerido por um espanhol das Canárias, muito simpático por sinal (ao contrário de outros... galegos), e oferece uma revivescência muito ao estilo europeu. Imagem, asseio, comida, serviço... muito bom. Descontextualizado... ainda bem.
Restabelecidos, estávamos novamente a engrenar rumo à fronteira. Comparável à fronteira entre a Finlândia e a Rússia, as formalidades foram demoradas, tomando-nos cerca de 3 horas. A língua francesa, no entanto, facilitou, e muito, a comunicação, proporcionando inclusive um ou outro palratório agradável. Formalidades ultrapassadas e estávamos perante o desafio da travessia da Terra de Ninguém. Avisados das complexidades deste troço de alguns km, estava apreensivo. Na verdade possuo pouca experiência em todo-o-terreno, mas areia... oh meus senhores... tem alguma lógica acelerar quando estamos quase a cair? Mas é mesmo assim, e funciona. Vamos lá... O vídeo resume alguma das dificuldades sentidas mas não retrata o insólito: não podemos sair do track pois o terreno adjacente está minado. Resumindo... andei a praticar da melhor maneira. Motivação não me faltava... irra.
As formalidades de entrada na Mauritânia foram igualmente demoradas. Passaportes, carimbos, seguros... Deu tempo para uma conversation com as autoridades e eles ainda tiraram fotografias montados na minha GS. Os biltres não me deixaram registar o momento... pena.
Ala que se faz tarde e, de novo no tapete, depressa nos detivemos na tal linha de comboio que referi no início do post. Fotografia da praxe e prosseguimos para Nouadhibou, cuja entrada registei em vídeo. Entrámos noutra dimensão... Sente-se Africa nas ruas. O reboliço é impar, os trajes distintos, a cor negra que desponta, a emoção que cresce...
Todavia, o hotel é surpreendentemente bom, completamente desenquadrado do contexto em que está inserido. Mais uma vez, a MotoXplorers está de parabéns pela organização e por tudo aquilo que nos tem proporcionado ver... e sentir.