SAFI - SIDI IFNI
Ontem à noite em Sidi Ifni não tivemos acesso à Net. Estamos em Laayoune (Sahara Ocidental) onde vamos dormir. Publico agora a crónica de ontem e dentro de momentos a de hoje...
Grande dia para desbravar terreno. Manhã solarenga a adivinhar temperaturas amenas, pontualidade na hora-de-marcha, um itinerário admirável a aguardar por nós... e, falhou a técnica da rotação ao penúltimo. Lá ficou o Mauro para trás.
Não fosse um rapaz desenrascado (somos todos) e ainda lá estava à espera do último... para ser o penúltimo. Tudo bem. Resolveu-se e rapidamente estávamos todos reunidos. Aventura, meus amigos... há, pois é...
A rolar num bom andamento, saímos de Safi, terra pouco digna de grandes apontamentos, em direção a Essaouira. Neste percurso suportámos mais do mesmo. Mais dos mesmos elementos que antecederam a nossa chegada no dia anterior, de noite, a Safi.
A diferença é que era de dia... e havia mais bicicletas, mais pessoas, mais trânsito, mais animais que teimam em pastar à beira da estrada, mais buracos, mais indisciplina, mais crianças, mais... sei lá. Deixámos para trás umas quantas localidades, e seus minaretes, que me faziam lembrar as antigas cidades do Far West: uma rua principal, casas de um lado e do outro, tudo na rua e mais nada à volta. Mas se calhar foi só impressão minha, pois não vi cavalos.
Mas vi burros, muitos burros... e bicicletas, motorizadas, camiões, lenços e túnicas, djelabs e crianças. Crianças a acenar, talvez a desejar boa sorte... Aliás, faziam-me sorrir e, de alguma forma, motivavam-me a prosseguir. Como eram muitas... foi muita a motivação.
Algumas dezenas de km depois e menos reboliço, tenho oportunidade de me aperceber do verde e das pequenas elevações que me fazem companhia. Não fossem as djelabs que pontuam qualquer espaço pastável, e estaria algures na região fronteiriça entre o Alentejo e o Algarve... Tal e qual...
Com isto, chegámos a Essaouira, antes Mogador e antiga cidade portuguesa. Tipicamente com a aparência de uma estância balnear, com um grande areal e uma avenida marginal comprida que liga à Medina. Que teimei em não visitar, pois quero visitá-la com a Carla na minha próxima viagem a Marrocos, já em Abril. Cafézinho... e toca a andar... não sem antes me abordarem a pedirem lume... e oferecerem haxixe. Não me pareceu de confiança e não comprei...
E a partir daqui tudo muda. As paisagens, as localidades, o trânsito e as estradas. Ma-ra-vi-lho-sas... Até Agadir, uma delícia! Curva e contra curva com um piso muito agradável, os montes nevados ao longe do Alto Atlas, olivais e olivais a perder de vista, um sobe e desce a serpentear pequenos montes, até que o Atlântico que até aqui brincava connosco ao esconde-esconde, surge em todo o seu esplendor com águas claras e vento off shore a prenunciar boas condições para os rapazes do surf. Imagem edílica, a daquela descida com curva à esquerda a acompanhar a linha de costa para a não mais abandonar. Umas autocaravanas francesas estacionadas e, claro, muitas pranchas no mar. Ainda deu para ver um tubo. Jeitosinho, o betinho...
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Quase a chegar a Adar, onde almoçámos uma sardinhada, parámos para esticar as pernas (leia-se fumar um cigarrito) e surgiram, não sei bem de onde, uma série de crianças, saídas da escola, a caminho de casa para almoçar, que nos abordam efusivamente a pedir stylos e bombons. A rapaziada, frugal, contentou-se por alguns dirhans. Foi um contacto memorável com os infantis locais, e o deles comigo pois ainda me arrancaram algumas células epiteliais da palma da mão. Talvez de tão agradecidas que estavam... os malandros agradecidos. Mais tarde, o Enrique (o nosso querido líder galego) diz-me “tipicamente Marrôcos dêbe sêr o páís con más canetas per capita dó mundo”. Desilusão! Eu que pensava que as stylos eram para a escola... Afinal é para a coleção...
Por estas bandas vi os primeiros camelos (animais quadrúpedes, não os da estrada...) só com uma bossa e sem areia. Mais para sul o enquadramento será diferente. Outro apontamento interessante é a da pigmentação ocre das construções. Nestas bandas, a sul de Essaouira e até Agadir, é uma constante. Fica bonito...
Chegados a Agadir, cidade balnear, com algum grau de desenvolvimento e modernidade, mas sem grande interesse aparente, com exceção para os construtores de rotundas (são 1001...), prosseguimos para Tiznit, localidade a partir da qual abasteceremos com mais regularidade para evitar alguma eventualidade. Daqui vislumbra-se a cadeia montanhosa Anti Atlas, pintada de branco nos picos mais elevados. Serão as últimas montanhas que veremos até ao destino final, Guiné-Bissau. Tiznit estava vestida de bandeiras nacionais, sinal da presença da família real ou seus representantes. A distribuírem uns Magalhães, às tantas...
De Tiznit até Sidi Ifni, onde pernoitámos, percorremos algumas dezenas de km num sobe e desce delicioso de pequenas elevações, atravessámos pequenos vales até encontrar a pequena localidade costeira, balnear, totalmente virada para o surf. Hotel sofrível, mas com umas amêijoas espetaculares...