As Viagens de Ricardo Lugris

GRÉCIA 2005 - PARTE II

Continuando a lembrança da viagem a Grécia

 
Atenas

Depois de muitos: “quem tem boca vai a Atenas”, conseguimos chegar ao hotel acompanhados de vários “colegas” motociclistas que, sem capacete, nem luvas, nem lenço nem documento, achavam um tanto quanto engraçado esse pessoal viajando de moto todo equipado.
Outra peculiaridade desta densa capital é o asfalto escorregadio.
País seco, com uma grande quantidade de ruínas na cidade, forma-se uma película de pó de mármore na superfície do asfalto e ele se torna insuportavelmente escorregadio, mesmo seco.
Até para a sola das botas. Quase deitamos a moto em um semáforo quando eu apoiei o pé e ele deslizou...

Chegamos finalmente à praça Syntagma (Constituição), onde se encontrava nosso belo e luxuoso hotel ao lado do Palácio Presidencial.

Ao chegar, estacionamos as duas motos em frente à porta.
Rapidamente saiu o porteiro, com aquele uniforme de almirante da marinha real.

O diálogo que se seguiu foi, no mínimo, hilariante.

- Os senhores não podem estacionar aqui, disse ele.
- Por quê? Perguntei eu.
- Porque este lugar está reservado a hóspedes do Hotel.
- Não quero nem saber. Vamos estacionar aqui mesmo.
- Não pode. Se vocês deixarem as motos aqui, eu chamo a polícia.
- Chame quem você quiser, incluindo o vizinho da frente.

Enquanto isso, Graça, Charlie e eu já começávamos a retirar as bagagens das motos e a colocá-las sobre a calçada.

O porteiro ia e vinha, cada vez mais nervoso e contrariado por nossa presença em lugar sagradamente reservado aos “hóspedes”...

Disse então à Graça: Vou continuar dando a corda pro colega até ele se enforcar...
Nosso amigo entrava e saía do hotel para indicar sua contrariedade por nossa presença invadindo seu território e desafiando sua autoridade.

Ameaçou novamente chamar a polícia.
Finalmente, com todas as valises sobre a calçada, chamei-o e disse que parasse de falar e que levasse nossas bagagens para dentro do hotel.

O almirante parou, ficou catatônico por uns 10 segundos, sem saber o que fazer.
Em nenhum momento ele considerara que gente viajando de moto poderia se hospedar em seu lindo hotel...
Ele balançou a cabeça, fez um gesto de contrariedade e balbuciou algo como um pedido de desculpas sem, contudo, aceitar em seu raciocínio que aquele pessoal vestido de modo esquisito viajando de moto ficaria em seu hotel.
Para dar o “coup de grace” arrematei:
- Temos reserva aí. Ou o seu hotel é bom demais para aceitar motociclistas?
Ele nem escutou, já estava quase no lobby acomodando nossa bagagem com a maior presteza..
Graça disse que fui cruel. Acho que fui mesmo. Mas ele não foi muito inteligente.
Nossos amigos gregos, Haris e Mayra, ele, empresário na área de defesa e ela, advogada, fazem parte daquelas pessoas que mesmo a distância e o tempo não mudam a intensidade da amizade que sentem por nós.

Uma vez instalados no hotel, nossos amigos gregos vieram nos buscar para jantarmos juntos em Pakka, o distrito mais animado de Atenas com centenas de restaurantes e bares.
Setembro é um mês simpático por aqui, os turistas já foram embora em sua grande maioria, deixando a cidade livre, ainda com temperaturas muito agradáveis, para seus habitantes.

O ambiente é, portanto, muito mais “local” do que turístico

Os restaurantes servem pratos de muito melhor qualidade, pois os freqüentadores são nativos que sabem o valor do que se fazem servir.
Nosso jantar, na calçada de uma simpática ruazinha, foi regado a bom vinho e uma conversa interminável entre bons amigos.

Haris também tem uma moto, a Honda Varadero, mas nunca se aventurou a viajar com ela.
Talvez por ter filhos muito pequenos e uma certa restrição de Mayra ao risco envolvido na motocicleta.
Fomos dormir tarde ouvindo ainda os ecos desta cidade onde a vida noturna não tem fim.
Pela manhã decidimos assumir nossa condição de turistas e partimos para a exploração desta metrópole fascinante por sua história e seu significado para a civilização ocidental.

Depois de visitar nosso vizinho palácio presidencial e sua famosa guarda vestida de saiote, collant e pompom no sapato, seguimos a pé em direção à Acrópole, ponto de partida para qualquer visita a Atenas.

Algumas cidades no mundo são especiais para serem visitadas a pé
Atenas é uma delas.
Com uma temperatura de 24/25 graus, de bermudas, boné e armados de nossos aparelhos fotográficos e o guia turístico, fomos nos perdendo pelas charmosas ruelas do centro de Atenas, tentando manter a proa e procurando chegar ao topo do Partenon, onde se encontra a Acrópole.

Os detalhes são belíssimos, mesmo no centro de uma metrópole de mais de quatro milhões de habitantes, encontramos pequenas casas pintadas de branco com suas indefectíveis janelas e portas de um azul tão vivo que passei a chamá-lo de azul grego. Trata-se de uma mistura de azul-cobalto com o azul-português. Dá à casa a sua alegria e característica local. Essas casas brancas com portas e janelas azuis são a marca registrada da Grécia.

Confiando em pequenos sinais pelas paredes e percebendo que subíamos, deixamo-nos levar pelo labirinto de ruelas onde mal poderiam passar duas pessoas, lado a lado.
Apesar de estarmos em Setembro, a presença de turistas ainda é densa. Imagino como deve ser em Julho e Agosto, meses de férias no hemisfério norte.

Pagamos 12 Euros por pessoa para visitar a Acrópole e 5 euros por uma garrafinha de água mineral. Quem mandou não trazer água do hotel.

Essas ruínas, severamente danificadas durante a ocupação turca de Atenas no século XIX são verdadeiramente uma maravilha.

Durante o sítio de Atenas, as forças turcas entricheiraram-se na montanha que abriga a Acrópole, o Partenon.

Com escassez de munição, os soldados turcos passaram a desmontar as colunas de mármore das ruínas para retirar a “alma” de chumbo que existe no interior de cada coluna e que lês dá a devida sustentação.
Ao perceber essa atitude, os sitiadores gregos preferiram pedir uma trégua, subir o Partenon com munição e entregá-la às forças inimigas para evitar a destruição de tão importante memória histórica e cultural.

Há grandes trabalhos de recuperação desse tesouro histórico em curso

Utilizando métodos computadorizados, os restauradores conseguem copiar grandes peças de sustentação da Acrópole para encaixá-las com perfeição onde são necessárias.
Hoje se podem ver exatamente onde os novos blocos de mármore branco foram inseridos. Dentro de algumas dezenas de anos, a diferença entre o novo e velho não existirá mais e as ruínas seguirão maravilhando muita gente por muitos séculos ainda.
Do Partenon, descemos para a Ágora (Mercado) e a estas alturas, apesar de termos tomado um excelente desjejum no hotel Plaza, nosso amigo Charlie, conhecido por seu apetite constante e voraz, pediu para fazermos uma pausa em um pequeno restaurante.

Pedimos três grandes cervejas que ajudariam a amenizar o calor e a sede que já nos corroía e também pedimos Tzizaki, uma refrescante maionese à base de iogurte, pepino e alho. Fica uma maravilha no pão.
Cruzamos o mercado novamente e retornamos tranquilamente a pé para nosso hotel.

Tínhamos combinado de ir com as motos visitar nossos amigos gregos, Haris e Mayra em sua casa no norte de Atenas.

As motos, em falta de um estacionamento no hotel, ficaram guardadas em um estacionamento privado indicado pelo mesmo hotel, a 200 metros de onde estávamos hospedados.
Graça não se sentia muito atraída em sair de moto novamente pelo trânsito caótico e enlouquecido da capital grega. Após uma certa argumentação já que Haris queria mostrar-nos os arredores de Atenas, consegui convencer minha parceira a montar na moto e seguirmos pela longa avenida Kifisías rumo ao norte.

O trânsito já era de final de expediente. Parece ser que todo mundo mora para o norte, pois a avenida estava entupida de automóveis com as motos gregas costurando por qualquer pequeno espaço disponível.

No nosso caso, com as grandes caixas instaladas nas laterais da GS, minha capacidade de manobra era muito mais reduzida. Tentei circular no espaço existente entre as duas filas de automóveis, mas não tive muito sucesso. O risco de arranhar algum carro era evidente.
Nesse ritmo de tartaruga, fomos avançando até que conseguimos uma velocidade mais ou menos decente.

Não há nada mais difícil do que conduzir uma moto de 250kg a cinco km/h! Por sorte, tenho pernas compridas, o que ajuda bastante. Haris estava nos esperando com sua Honda Varadero no lugar combinado. Decidimos ir almoçar em horário tipicamente grego: 17h.

Comemos suvlaki, uma maravilha! Barato e delicioso. O hambúrguer destas bandas.
Em seguida, Haris levou-nos para a periferia de Atenas, nas montanhas onde ele vive. Fizemos um passeio com direito a uma parada em um belo belvedere de onde pudemos apreciar uma lindíssima vista de Atenas “by night”.

Ao final do passeio ele levou-nos até sua casa onde tomamos café gelado e conversamos durante duas ou três horas. Quer dizer, a Graça e eu conversamos, o Charlie dormiu profundamente no sofá da sala de nossos amigos durante umas boas duas horas...

Haris ajudou-nos a localizar lugares interessantes no mapa do Peloponeso e que incluiríamos em nosso roteiro. Também recomendou restaurantes e hotéis no percurso.

Despedimo-nos com emoção e carinho. Haris é um amigo adorável e sempre temos muito prazer em nos reencontrar.

Neste país a fidelidade aos amigos é uma característica arraigada.

Ricardo Lugris
 
 
 
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Comentários (1)

28/6/2016 12:34:41
W9EZZSIE1WZ3
Youve got it in one. Codunlt have put it better.
 

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