As Viagens de Ricardo Lugris

EU NÃO FALO RUSSO

 
6.000 km até São Petersburgo, na Rússia.

Assim como acontece com a maioria dos aventureiros, quando Ricardo e Graça planejaram sua viagem, as distâncias no mapa não pareciam tão grandes e as fronteiras apenas linhas imaginárias flutuantes que só precisavam ser atravessadas. A idéia era percorrer 6.000 km de Paris, na França até São Petersburgo, às margens do Lago Ladoga, na Rússia, em pouco mais de duas semanas a bordo de uma BMW R 1150 GS Adventure.

O “passeio” com destino à cidade do Czar Pedro, O Grande, começou em 07 de Agosto em Chantilly, nos arredores de Paris. Esta cidade ficou famosa pelo casamento relâmpago do jogador Ronaldinho “ fenômeno”. No roteiro estavam Alemanha, Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia ao longo do mar Báltico, finalmente chegando à Rússia. Mas se a ida até São Petersburgo passou por lugares cheios de contrastes e marcas de guerras, a volta foi mais tranqüila. Finlândia, Suécia, Dinamarca, Holanda, Bélgica e terminou na França, em 23 de Agosto.

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Willkommen

Ainda nos primeiros dias os brasileiros iriam rodar 600km até Berlim, na Alemanha, para encontrar um casal de amigos italianos que seguiria viagem com eles até Estocolmo, na Suécia. O encontro teve de esperar um pouco. Enquanto saia de Frankfurt, Ricardo acelerou mais do que devia nas autobanhs e acabou sendo multado.

Multa paga e amigos encontrados, o próximo destino era a cidade de Gdansk, na Polônia, berço do movimento “Solidariedade” nos anos setenta que inspirou a tantos sindicalistas em torno do mundo e que iniciou a derrocada do sistema comunista.


Asfalto Comunista

Foi chegando lá que os viajantes puderam sentir na pele o que era pilotar no asfalto comunista. Estradas com tráfego lento, em pista única que não permitiam passar dos 90 Km/h. Em 10 horas de viagem rodaram apenas 550 Km.

A entrada na Rússia aconteceu depois de passarem pela Lituânia, Letônia e Estônia, por onde chegaram Rússia através da cidade de Narva, na Estônia. O país serve de ponte entre a União Européia e a terra dos Czares. Ponte, aliás, que tem como cenário de fundo duas fortalezas, uma em cada extremidade simbolizando a “amizade” secular entre os dois países. O que aumentava ainda mais a inquietação de Ricardo, Graça e seus amigos italianos é que, embora experientes em viagens de moto, era a primeira vez que saiam da segurança da União Européia.

Depois de enfrentar duas horas de espera na ponte, desconfiança da alfândega russa, de preencher três formulários por pessoa, dois formulários para cada moto, um formulário de seguro, e uma declaração, preenchida em pompa e circunstância por uma agente de policia, finalmente era possível entrar em território Russo.

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Agora é a hora!

O que havia complicado a situação era o fato de Ricardo ser brasileiro, viajando com passaporte espanhol, com habilitação francesa, moto alemã, e com a esposa com passaporte italiano. Outro problema era, o que quatro turistas viajando de moto fazem na Rússia? Sendo que a maioria dos visitantes chega de avião e em grupos maiores. Definitivamente muita informação para a cabeça da oficial.

Em terras russas, apesar da beleza e da riqueza histórica do lugar, era curioso notar a ausência de turistas ocidentais, nem mesmo de países vizinhos que se aventuram por terras russas. As razões apareceriam em menos de uma hora. A primeira delas é a péssima qualidade do asfalto russo, cheio de ondulações, onde não era possível pilotar a mais de 70 km por hora.

A segunda é a relação velho e novo que circula por lá. O novo, são os superautomóveis de fabricação européia, recentemente importados, graças a queda da chamada “cortina de ferro”, e conduzidos a altíssimas velocidades em estradas intransitáveis. O velho são os nossos conhecidos Ladas, Volgas, Tatras, e outros digníssimos representantes do regime soviético que circulam a incríveis 30 e 40 km/h, sem faróis, sem piscas... Em meio a isso, duas BMWs tentavam alcançar São Petersburgo a longínquos 200 quilômetros dali. Um terceiro motivo é, muito provavelmente, o eficaz policiamento rodoviário. Longo no início do caminho havia uma barreira policial, onde Ricardo e seus amigos italianos foram parados por um guarda por estarem pilotando a 72 km/h em uma pista que era para 90 km/h, segundo as leis de trânsito, e 60 km/h, segundo o oficial. “You speed too much” (algo como você está muito rápido), “Sixty” (sessenta) disse apontando para o chão. Curiosamente a mesma velocidade de 72 km/h estava marcada para as duas motos na pistola de radar.

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Brinde Russo

Em menos de 15 minutos 10 carros foram parados e liberados rapidamente após passar “alguma coisa” para as mãos do guarda. Método percebido, o jeito foi negociar o “valor da multa”, misturando inglês com um pouco de russo e rabiscos na caderneta do policial. O valor caiu de 300 dólares para 100 para as duas motos, mais a caneta (Parker) do policial que foi levada como vingança. Os 150 quilômetros entre o posto policial e São Petersburgo foram de apreensão, vai que o policial sentisse falta da caneta, presente de sua mulher, segundo a gravação em russo do lado e decidisse procurá-la.



Lar doce lar

A volta para casa começou a 200 quilômetros da fronteira com a Finlândia. Esse trecho parecia não acabar mais. Em nenhum momento carros ocidentais ou mesmo finlandeses aparecem pelo caminho. Talvez pela relação um tanto quanto “fria” entre os dois países. Ainda mais depois que a Rússia invadiu a Finlândia em 1940.

Um pedaço do trajeto de volta é feito sobre a água, algo muito comum naqueles países. Para sair da Finlândia em direção a Suécia é preciso pegar um barco, da Suécia para a Dinamarca também. Terra firme mesmo só na Holanda, quer dizer, isso se você considera terra firme pilotar 40 quilômetros em diques que avançam sobre o mar...

Da Holanda para a França o caminho é bem curto, você cruza a Bélgica e já entra no país gaulês. E se dá conta de que atravessou cinco países sem precisar ficar duas horas esperando sobre uma ponte, preencher enormes formulários, sem dar propina para o guarda...

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Cidade do ego

São Petersburgo foi fundada em 1703 por Pedro, O Grande.

O Czar ergueu sua cidade (Peter = Pedro, O Grande, burgo = cidade) por considerar Moscou uma cidade muito camponesa e provinciana. A cidade mudou de nome algumas vezes.

Após a revolução russa em 1917 era chamada de Petrogrado pelos bolcheviques, depois foi a vez de Stálin escolher o nome e chamá-la de Leningrad, pouco tempo depois mudou para São Petersburgo.

O local se orgulha de ter sido o último ponto de resistência russa aos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, mas não suportou a revolta dos bolcheviques que quase exterminaram a nobreza russa.

Existe uma lenda de que após a cidade ter sido erguida, Pedro, O Grande, mandou cegar todos aqueles que participaram da construção, para que nunca mais eles pudessem fazer algo igual.








Texto e fotografias: Ricardo Lugris
 
 
 
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Comentários (18)

2/2/2017 23:45:54
FNIEQNGCLITN
Help, Ive been informed and I cant become ignanort.
 
28/6/2016 08:03:36
8UYJXHNDQWWG
Leuk filmpje, Vera! Ik krijg er alleen heimwee van:( Ik ben net 2 maanden geleden verhuisd van Arnhem naar Limburg, en als ik dit filmpje zie, mis ik Arnhem toch wel heel erg! Gelukkig was ik vorige week nog lekker in Arnhem, ik ga vooral veel shoppen in Krrubnenog dan (lekker overdekt, dus ideaal bij regen).
 
4/3/2011 22:24:01
OTÁVIO FIDELIS SCHREINER
Carissimos Amigos
Como sempre, seus relatos mostram a maravilha do nosso mundo, e que despertam o desejo de botar o pé na estrada.
Parabéns Magrão
SDS. Otavio
 
21/2/2011 19:16:40
ODETEALVESLIMA
Muita bonita a matéira ,Com ela estamos conhecendo vários paízes sem sair de casa e sem dar propina aos guardas da pon te>parabens. continue
 
17/2/2011 13:58:24
CLÁUDIO FONSECA DE FREITAS
Imagino que a beleza dos locais visitados e pelos quais passaram durante o trajeto, tenham compensado qualquer dissabor burocrático, de estradas, etc. As belezas geográficas e arquitetônicas de toda a europa ocidental e parte da Ásia são inesquecíveis. Com certeza valeu a pena.
 
15/2/2011 22:20:12
FERNANDO PEDROSO
Parabens, linda viagem, voce tem algum blog, gostaria de ver mais pormenorizado o seu roteiro,
abraço
 
15/2/2011 20:47:05
MARCELO VORCARO
O ranso do velho comunismo continua arraigado na policia de todo leste Europeu.Mas Ricardo, vc tem que concordar comigo que, atraves das dificuldades, e que damos valor as pequenas coisas. Se fosse tudo certinho, o que contaria para todos?
Mais uma grande aventura, com sua companheira de todas as horas.
Obrigado por compartilhar momentos marcantes destas aventuras fascinantes.
Um grande abraco companheiro!!!!
 
15/2/2011 17:50:43
RICARDO TEIXEIRA
Mais uma vez, um belo relato...Agora vcs não vão contar como é que o policial ficou sem a caneta???rsrsrsrsrs...
Grande abraço ao casal...
 
15/2/2011 17:02:12
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15/2/2011 16:58:53
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15/2/2011 16:20:18
FERNANDO ABRAHAM
Parabéns pela viagem. Já estive nesta região e sei o quanto ela é linda mas tambem dificil quando se depara com estradas e policiais, falando de leste europeu, de qualquer forma uma belezura de viagem. ah....grande a "roubada". Abraço.
 
15/2/2011 15:32:48
FERNANDO ABRAHAM
Fantástica viagem, já estive nesta região e sei o quanto é bonita mas tambem dificil, principalmente estando no meio daquelas latas velhas....rsrsrsr. Parabéns.
 
15/2/2011 15:04:44
OTAVIO ARAUJO GUGU
Ricardo, você sempre surpreendendo !!! Essa viagem foi no ano passado, muito boa. Belas fotos e descrição primorosa da viagem, cada vez mais longe e mais aventura. Tungaram o guardinha russo, essa foi a melhor, trouxe um troféu... Grande e fraterno abraço, Gugu
 
15/2/2011 14:48:20
EVANDRO DALBEN
Sensacional, realmente muita informação para o Policial Russo, o dificil eh explicar, fantastico rabiscos na caderneta do policial ! se fosse eu desenharia um ADV rider pra ele ! rs...

Parabens pelo Relato dá para viajar e vivenciar um pouquinho da historia por escrita por vcs ! Adoro ler relatos e sentir como se estivesse na mesma situação ! Aprendemos muito com isso...
 
15/2/2011 14:30:46
CICERO PAES
Interessante viagem e relato, sem dúvida. O lance de levar a caneta do guarda foi sensacional !
 
15/2/2011 14:28:32
HOMERO LARA
Parabéns pelo excelente relato de uma viagem que, sem sombra de dúvidas, ficará eternamente gravado em suas mentes.
 
2/2/2011 14:36:02
EBER SARAIVA
Muito legal...parabéns....
Digue ai: quando estava para cruzar a fronteria não deu aquela vontade de desistir e tomar outro caminho...voltar para a "civilização", pois já na aduana as coisas estavam difíceis???srsrsr
Abrs.
 
1/2/2011 11:47:04
PARACELSO SANT ANNA
Parabéns pela viagem. Genial!!!
 

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