As Viagens de Ricardo Lugris

O SOL DA MEIA NOITE

 
8000 km entre a França e Noruega

Na cidade-porto de Henningsvaer, nas Ilhas Lofoten, extremo norte da Noruega, aproveitamos o céu claro para viver o momento culminante da nossa viagem: curtir o sol da meia noite. Tínhamos viajado em nossa BMW R1 150 GS Adventure quase 3.000 km deste Chantilly, na França, onde moramos , para dentro do Círculo Polar Ártico. Um lugar onde no inverno o sol não nasce e, em boa parte do verão não se põe.

Da pequena colina víamos o porto e acompanhávamos o movimento de rotação da terra dando a impressão que o sol girava ao longo do horizonte de oeste para leste sem ser pôr... No espaço de apenas meia hora, vimos o sol “girar” 45 graus na linha do horizonte e fomos presenteados, exatamente a meia-noite, com o astro-rei entre duas montanhas. Nossos espíritos agradeciam o espetáculo já que havíamos enfrentado estradas francesas, dinamarquesas e, finalmente, norueguesas para apreciá-lo.


Pedindo Estrada
Dia 03 de Julho, a moto saiu pesada de Chantilly, e os nossos corações pediam estrada. Naquele dia os pneus da Adventure tocaram o solo de quatro países: França, Bélgica, Holanda e Alemanha.

Continuamos rumo ao norte na Alemanha. Nas rápidas estradas alemãs rodávamos a 130/140 km/h..
Por volta de duas horas da tarde, já em território dinarmaquês, chegamos a Frederikshaven, porto de onde parte o ferry-boat para a Noruega. Aproveitamos para jantar na belíssima cidade de Skagen.

Em viagens na Escandinávia os ferry-boats fazem parte do itinerário, quase uma extensão da estrada. Belos navios que levam carros, caminhões e motos. Os passageiros desfrutam de cabines espaçosas e limpas, restaurantes, cassinos, cinemas, etc.

Em território norueguês chegamos ao porto de Narvik ao “raiar” do dia ( força de expressão, pois a noite dura apenas uma hora).

A Noruega tem limites de velocidade rígidos. Em autoestradas, pode-se rodar a 90 km/h e em estradas normais, 80km/h. Um suplício para quem vinha a 140/150km/h, a vantagem foi apreciar a paisagem que, sem dúvida, era muito bela. De Sandefjord tomamos a direção de Oslo, e passando pela capital, entramos na estrada A6 que levaria ao extremo norte da Noruega, um país cheio de história. Já foi dominada pela Dinamarca e depois pela Suécia com a qual constitui um reinado comum até 1910.

Com grandes distâncias e a velocidade reduzida, o resultado era muitas horas de estrada. O norte da Noruega não tem uma infraestrutura turística convencional. Há poucos hotéis e quase nenhum restaurante fora de cidades de grande porte. O turista nestas paragens carrega sua própria casa a tiracolo: são os trailers. Há também aqueles que trazem suas barracas. Encontramos uma bela cabana para passar a noite.

Amanheceu um belo dia, mas a chuva e o vento chegaram enquanto contornávamos fiordes e montanhas e a paisagem ia se tornando cada vez mais selvagem. Nosso objetivo era chegar a Moshoen.

Havíamos rodado apenas 1.200 km em dois dias, com aquela velocidade de tartaruguinha... Em Moshoen encontramos um bom hotel. Estávamos cansados e, apesar do preço, o hotel foi um achado.

Deixamos Moshen debaixo de chuva e nesse dia cruzaríamos o ciculo polar após rodar cerca de 250 km ao norte. Nesse lugar há uma espécie de museu/ loja, que atrai muitos turistas. Sentia-me um privilegiado por estar naquele lugar remoto com minha companheira. Foram 3.000 km em cinco dias desde a França. As montanhas em torno do monumento mostram neves eternas.

Deixamos o círculo polar em direção ao norte, seguindo de ferry-boat para as ilhas Lofoten, o grande objetivo da viagem. No fim da tarde embarcamos em navio para Stranaer, a capital das Lofoten. Essas ilhas são conhecidas como o “Caribe do Ártico” devido às praias com água cor de esmeralda e areias brancas. Mas a temperatura nada tem a ver com o Caribe.

Nossos planos eram percorrer as ilhas, que são três, até o extremo sul, até um simpático vilarejo cujo nome curioso é A(pronuncia-se O) e seguirmos viagem em direção ao sul das ilhas Lofoten.

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Finalmente o sol
Fomos brindados com um dia de céu azul e muito sol. Chegamos a uma cidade-porto localizada em uma pequena ilha e que nos pareceu maravilhosa. Heningsvaer, onde ficamos três dias, é tranqüila e bonita.

Nosso hotel ficava em um dos mais antigos armazéns do porto. Ao final da tarde nos instalamos no deck de um bar junto ao porto onde víamos passar os barcos de pesca. Depois saímos para caminhar e, em torno das 22:30h, decidimos procurar um bom lugar para observar o sol da meia-noite. Em uma pequena elevação apreciamos o espetáculo belo e misterioso. Está aí, sem dúvida, o milagre de viajar. Percorrer caminhos que podem nos presentear momentos delicados como este que vivemos nessa noite de sol.

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Hora de voltar
No retorno ao continente passamos horas no convés do navio aproveitando o sol ou “lagarteando”. Chegando a Bodo, cidade industrial e capital da Região Norte da Noruega, seguimos pela N 17 que serpenteia por entre os fiordes até Aalesund, três dias e 1.000 km depois passando por fiorde e vilas fantásticas com suas casas vermelhas.

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Já estávamos viajando ha onze dias e tínhamos percorrido 4.000 km. Embarcamos no navio costeiro de Aalesund e Bergen. Foram 14 horas de viagem com a chance de ver os fiordes do mar. Algo indescritível.

Desembarcamos em Bergen e encontramos um hotel conveniente próximo ao porto. Guardamos a moto, colocamos nossas sandálias e bermudas, que pensamos nunca poder usar nesta viagem e, nos transformamos em felizes turistas.

Após dois dias de descanso, restavam 600 km até Oslo por entre as montanhas. Tomamos a estrada mais antiga até Hardangerfjord, esse foi um dos dias mais bonitos em toda a Noruega. Nosso objetivo era chegar a Fossa de Vering, um cânion de quase 1.000 metros de altitude.

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A subida das montanhas Numedal nos deixou extasiados com a beleza da paisagem. Atingimos 2.700 metros e começamos a encontrar extensões de gelo e neve. Avistavam-se geleiras no horizonte. Dava um pouco de pena ao constatar que a estrada não nos levaria naquela direção. Essa noite ficamos em Cielo, uma linda estação de esqui. No dia seguinte, fizemos os últimos 250 km até Oslo. Depois seguiríamos de navio para Kiel, já na Alemanha.

Após uma noite confortável acordamos com o navio atracando em Kiel. Desembarcamos e tínhamos ainda 1.000 km pela frente até nossa casa. O calor, intenso, penetrava em nossas roupas pesadas e a estrada estava engarrafada ... Era fim de semana e todo alemão que tinha um carro (devem ser todos) estavam viajando.

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Quando percorremos perto de 700 km, já estávamos na Bélgica e a 300 km de casa. Apesar do calor e do sufoco da viagem a saudade de nossas filhas falou mais alto: iríamos dormir em casa naquela noite.

Chegamos em casa as 20:30h. Havíamos percorrido segundo o hodômetro 1000 km e 100 metros. Com o bom humor de minha esposa ao dizer que o mais difícil foi os últimos 100 metros, já preparamos nossa próxima viagem!

Por Ricardo Lugris



Fale com Ricardo Lugris
ricardolugris@rotaway.com.br
 
 
 
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Comentários (6)

28/6/2016 15:58:24
KIIDJHLJR
Good to see a tanelt at work. I cant match that.
 
25/11/2010 16:56:43
FALCÃO NEGRO
valeu vc é realmente um grande motociclista
 
17/11/2010 20:11:35
RICARDO LUGRIS
Caros amigos,
A Noruega é, junto com a Escócia, minhas duas destinações favoritas para viajar de moto na Europa.
Obrigado pelo retorno a esse texto que publiquei em 2004 na revista Duas Rodas.
Cicero, se quiseres algumas dicas sobre a Noruega, onde ir, o que ver, me avise.
Se passares por Paris, fique um par de dias e damos uma rodada juntos.
Abraço forte
 
17/11/2010 18:13:11
CICERO PAES
Ricardo: As coisas não acontecem por acaso. Ontem tomei conhecimento do seu belo texto sobre nossas "Co-Piloto" e hoje recebo informes da sua viagem à Noruega através do Rotaway. Acontece que esse País está nos meus planos para a próxima viagem, facilitada pelo fato de que uma das minhas "4 filhas" (motos) vive nas proximidades de Lisboa. Veremos !

Parabéns pelo relato, simples, objetivo e relevante, of course !
 
17/11/2010 17:31:57
VILAS BOAS
Simplesmente FANTÁSTICO!!!
Parabéns pela viagem/aventura!!!
 
17/11/2010 12:10:08
RODOLPHO NAUN
Que viagem fascinante! Já estive na Noruega, mas de moto temos um participação com maior integração a estas lindas paisagens. Ricardo o meu muito obrigado por nos dar estas dicas. Valeu mesmo! Naun GS 1200, Sampa, SP
 

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