Aventura de Motocicleta em 1960

O RETORNO EM DIREÇÃO A FEIRA DE SANTANA

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Retornamos no sentido Feira de Santana, mas com a pretensão de no meio do caminho sair da estrada principal, asfaltada, e entrar numa outra menor que nos levará à cidade de Catu, lugar onde o meu sócio Borges nasceu e viveu antes de ir para o Rio. Faço questão de ir lá, a fim de provar-lhe que até na terra dele eu estive.


Mas eis que de repente e já na estrada bem adiante, lá vem o Fernando com uma novidade e diz: “João, vamos voltar na igreja do Senhor do Bonfim? Acontece que eu tenho uma promessa para cumprir e esqueci dela quando lá estivemos”. Eu, por minha vez, só poderia dizer: “Mas Fernando, como é que você tendo uma promessa para pagar num determinado local, ainda mais num lugar longe, vai até ele e esquece de pagar a tal promessa!!?? Só pode ser brincadeira!” Vendo que realmente deve ter dado “bobeira”, ou somente depois que saiu da igreja é que fez a promessa, voltamos à igreja do Nosso Senhor do Bonfim.

A partida, então, que havíamos iniciado às 10:50h, só foi acontecer realmente ao meio-dia, após sairmos da igreja.

A estrada secundária que pegamos para ir até Catu era de terra e muito maltratada. Fustigada por um sol intenso, a poeira do barro era tanta, que perdurava esvoaçando dentro e fora da estrada. Casas que houvesse pelos locais, vegetação e até animais ficavam todos cobertos com uma grossa camada da tal poeira marrom amarelada.

Chegando em Catu, logo notei ser uma pequena aldeia com poucos moradores e casas muito modestas. Encontrando uma sombra próxima a um casebre para poder estacionar a mota, ao aproximar-me notei, com surpresa, tratar-se de uma agência do Correios. Aproveitando a coincidência enviei para o Borges, dali mesmo terra natal dele, um telegrama comprovando estar realizando meu desejo.

Este foi para mim um momento muito especial, um verdadeiro achado, porque serviria para provar minha passagem por ali. Após ter saído do Correios, eis que passa por mim montado no lombo de um jegue, um vendedor de cajus tão grandes que mais pareciam peras. Aproveitei e comprei vários ao preço de Cr$0,50 cada um. Eram macios, doces e suculentos.

Na pracinha onde estávamos haviam muitas crianças brincando animadamente com pião, bolas de gude e também de amarelinha. Vestiam roupinhas bem humildes e o detalhe que chamou atenção foi o cabelo, crespos e alvoroçados. Notava-se haver enorme dificuldade para limpar e até penteá-los e isso certamente acontecia pelo fato deles ficarem expostos ao sol e àquela perniciosa e incomodativa poeira espalhada pelo vento naquela localidade.

Dando como encerrada nossa visita ao local, nova surpresa. É que de Catu até Alagoinhas, por mais estranho possa parecer, a estrada era asfaltada, possivelmente por estar a Petrobrás já naquela época com instalações nas proximidades. Nesse lugar mudamos o óleo do cárter e aproveitamos para almoçar. Seguindo caminho, nos dirigimos para a cidade de Cipó, onde pretendemos pernoitar.

Além da demora na viagem devido ao piso da estrada muito ruim, pois novamente estávamos em estrada de terra, ainda tivemos um erro de cálculo na distância, razão de ter anoitecido e ainda continuarmos na estrada, numa região muito deserta.

A noite escura por estar sem luar dificultou e atrasou nosso trajeto. Mas dos males o menor, tendo em vista não estar chovendo, o que ajudava muito. Ficamos prestando atenção a fim de ver se conseguíamos achar um local para ficarmos, pois estava difícil e muito perigoso continuarmos na estrada. Se houvesse um tronco de árvore, um grande buraco ou mesmo um animal de pequeno porte na estrada, certamente nos derrubaria com o impacto.

Após alguns minutos trafegando em marcha muito reduzida e vez por outra vendo vulto de bichos maiores, correndo assustados de um lado e outro da estrada devido ao barulho da descarga, coisa que antes não víamos em razão da velocidade maior em que geralmente andávamos, finalmente vislumbramos uma mortiça luz de lamparina bem dentro da caatinga.

Chegando mais próximo da luz foi possível ver um longo caminho no mato que ia da estrada até um casebre com teto de palha. O Fernando então saltou para ir até ao local de onde vinha a tal luz e eu fiquei na moto aguardando seu retorno.

Não demorou muito e voltou dizendo que os moradores da casa até poderiam nos acolher no casebre, mas por terem um espaço muito reduzido e desconfortável, aconselharam que fôssemos mais adiante alguns quilômetros, porque há poucos dias havia chegado um pessoal novo que estava abrindo uma estalagem. Era possível que já estivessem funcionando e lá seria bem melhor para nós. Mas se não conseguíssemos achar pousada poderíamos voltar e ficar no casebre mesmo, porque arranjariam um lugarzinho para passarmos a noite.

Imediatamente o Fernando subiu na garupa da moto e nos dirigimos para a tal estalagem.

Devido ao problema da falta de visibilidade, a distância parecia muito maior que a informada, dando-nos a impressão de termos passado do local sem ver a estalagem, ou poderia até não haver nada no local indicado.

Após andarmos algum tempo e já sem esperanças, eis que de repente começamos ver ao longe umas luzes bem esmaecidas, o que deu-nos novo ânimo. Contentes com a descoberta, chegamos ao local indicado. “Eureka”!

Com o barulho do motor e o fato de estarmos parando em frente à casa que ficava próxima da estrada, vieram logo nos atender. Explicamos que desejávamos um lugar para passar a noite e queríamos saber se poderíamos ficar ali.

Tivemos resposta positiva, porém disseram não ser possível prestarem um bom atendimento, tendo em vista ainda estarem arrumando o local devido a recente mudança.

Dissemos que para nós estava tudo bem, pois o que desejávamos era ter um lugar para descansar da viagem e pernoitar.

Preço combinado, tudo acertado e fomos dormir. Banho, nem pensar! Por não terem terminado de fazer o banheiro teríamos de usar baldes para tomar banho, e como o piso também não estava completado, o chão ainda era de barro. E barro para nós, chega! Sem falar que a luz era de lampião. E muito embora estivéssemos com fome, dispensamos o jantar.

Desejando saber qual era a cidadezinha mais próxima dali, informaram ser Crisópolis.

A seguir fomos para o nosso quarto dormir.



Olindina-BA

Manhã do dia seguinte acordamos lépidos e ansiosos para enfrentar estrada. Aprontamo-nos mas nada comemos e explicamos ao pessoal da estalagem que iríamos comer na próxima cidade. Cá entre nós, um lugar que não havia água e por cima muita desarrumação, não era nada convidativo comer no local. Resolvendo então pagar a conta do pernoite, ao tentar apanhar minha carteira no bolso de trás da minha calça jeans, onde estava todo meu dinheiro, meus documentos e o da moto, tive uma desastrosa surpresa. A carteira havia sumido!!!

No primeiro momento desconfiei do pessoal da estalagem, mas não poderia ser, porque ninguém entrou no nosso quarto depois de termos entrado para dormir. E se tentassem tirar a carteira do meu bolso, teriam que mexer no meu travesseiro, pois eu sempre colocava minha calça embaixo dele, quando não estava com ela vestido. Então, o que tínhamos de fazer era retornar pelo mesmo caminho que fizemos na noite anterior, porque deveríamos tê-la perdido durante a noite no trajeto.

Tínhamos que achá-la de qualquer maneira, por que: Poderia ser preso por vadiagem (sem documentos), que na época era uma figura de contravenção; Sem dinheiro seria difícil continuar, pois não colocaria gasolina e tudo mais; E dificilmente poderia vender a moto por desconfiarem ser roubada, o que seria um bom motivo para ser preso e o Fernando entrar como cúmplice.

Explicando o problema ao dono da estalagem notei logo sua desconfiança, o que era de se esperar, porém ajeitei a situação dizendo que íamos levar a motocicleta mas nossos blusões ficariam com ele e na volta os apanharíamos e pagaríamos a dívida, que afinal de contas era quase nada, ao passo que os blusões por serem de couro, eram úteis e valiam um bom dinheiro.

Concordou e então eu e o Fernando pegamos a estrada ainda com um pouco de névoa por ser muito cedo. E como estávamos sem os blusões, sentimos frio. Vagarosamente fomos fazendo o retorno, olhando cada um para um lado da estrada, da mesma forma que fizemos ao perdermos nossos blusões logo na saída do Rio de Janeiro e felizmente os achamos. Como estava iniciando dia e a estrada era secundária, o movimento por ela naquela hora era nenhum.

Olhando a estrada palmo a palmo, estávamos concentrados em cada detalhe dela. Uma pedra, um pedaço de papel, um saco amassado jogado na estrada, a tudo observávamos retornando vagarosamente pelo mesmo caminho feito na noite anterior. De repente, vendo algo parecido com a carteira junto a umas árvores baixas, nos dirigimos imediatamente para lá. No nervosismo por aquele achado, até a moto estancou, por isso deixei-a no meio da estrada apoiada no descanso. Entusiasmados que estávamos, ao aproximar-nos ficamos logo frustrados porque não se tratava da carteira. Era um pedaço de couro, talvez da sela de algum cavalo.

Já íamos voltando, quando, sem esperarmos, um vulto passa próximo às nossas cabeças de um lado para o outro, atacando-nos agressivamente....



Grande abraço

João Cruz
 
 
 
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Comentários (2)

2/2/2017 23:14:46
P94VPTDY
Apatpenrly this is what the esteemed Willis was talkin bout.
 
28/6/2016 15:12:30
QPUPEFPW
And I was just woidrenng about that too!
 

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