Aventura de Motocicleta em 1960

BAHIA

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Milagres-BA
Refeitos do susto, parei para ver o que havia acontecido e descobri que a união inferior, uma das responsáveis pela junção dos dois telescópicos à mesa partiu, ficando esta suportada apenas pela união da parte superior, e embaixo, no eixo que prende a roda nos dois telescópicos.

Continuamos a jornada em cima dela assim mesmo por não haver outro jeito, tendo em vista que o local onde estávamos não tinha nada nem ninguém. Fui conduzindo-a devagar, fazendo muita força no guidão para mantê-la direcionada e rezando para que não quebrasse a parte superior da mesa porque, se quebrasse, nós teríamos de levá-la nas costas (força de expressão).

Então, após cerca de uns 30 quilômetros, finalmente começou a surgir um pequeno povoado.
Nota: Nessas ocasiões, um povoado por menor que seja é como se fosse um navio para sobrevivente de naufrágio.

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Nele chegando procuramos por uma oficina qualquer (oficina de moto seria luxo no local) e encontramos uma bem modesta, próxima mesmo à estrada. Estava vazia, como que abandonada, mas por sorte apareceu alguém. Já sabedores que naquele povoado não havia energia elétrica, solda elétrica nem pensar. O Fernando, que entende de soldagem, explicou a situação e disse que poderia ser uma solda com maçarico mesmo, de forma que a junção suportasse até chegarmos a Feira de Santana ou outro local adiante onde houvesse eletricidade, quando lá então seria colocada solda elétrica.

O mecânico que a tudo escutou, respondeu não ser possível também soldar com maçarico porque o gás havia acabado, e em seguida mostrou o tubo. O Fernando mais que depressa pegou-o, olhou o manômetro, mexeu no maçarico e cheirou-o. Deitando o tubo no chão, em seguida falou: Eu posso tentar fazer a solda com o que possa ter aqui? Incredulo, o mecânico respondeu que sim! Pode usar à vontade, disse!

Olha, não sei o que o Fernando inventou, mas o bom é que acendeu o maçarico e conseguiu rapidamente fazer a solda depois de aquecer bastante o local a ser soldado. Satisfeitos, agradecemos pela oportunidade e dei um dinheiro ao mecânico, que ficou atônito coçando a cabeça e olhando para o tubo.

Mais adiante perguntei ao Fernando que milagre foi aquele que havia feito. Com toda calma, simplesmente respondeu: O manômetro (marcador) é que está enguiçado. Ao abrir os dosadores e cheirar o bico do maçarico percebi que ainda havia gás. Talvez o mecânico por não saber dosar bem a mistura, achou ter acabado quando o defeito estava era no manômetro. Então, novamente perguntei: E por que razão você deitou o tubo no chão? Novamente me respondeu: Se tivesse acendido direto o maçarico, ficaria claro que o mecânico não sabia lidar com o aparelho. Então, deitei-o, para dar idéia que apliquei um recurso e assim não o desmoralizaria.

Esse incidente atrasou muito nossa viagem e maior atraso ainda tivemos devido à baixa velocidade que tive de manter, a fim de evitar ao máximo dar trancos em buracos. Pelas minhas anotações isso ocorreu entre o povoado de Milagres e Feira de Santana.

Conforme o ditado que diz “desgraça nunca vem sozinha”, como se não bastasse, o motor começou a falhar quando já havia anoitecido. Prestando atenção no problema, percebi que era falta de gasolina. Como o tanque possuía o dispositivo de reserva para essas ocasiões, abri a torneirinha que ficava embaixo do tanque e tudo voltou ao normal. Bem mais adiante, porém, o carburador começa a apresentar problema novamente provocando engasgos no motor e obrigando-nos a uma parada para limpá-lo. E por já estar bem escuro, nosso trabalho para desmontar, limpar e montar, foi bem demorado.

Enquanto estávamos ali fazendo a limpeza, já à luz do luar, víamos bichos pequenos passarem próximos a nós e escutávamos perfeitamente ruídos que vinham de dentro do mato. Isso me lembrou que quando estamos trafegando à noite é normal vermos vultos de bichos grandes atravessarem a estrada, possivelmente por ficarem assustados com o barulho da moto. Agora eles passavam calmamente perto de nós porque tudo estava calmo.

Finda a limpeza partimos, e após andar muito vagarosamente durante bastante tempo, às 21:00h finalmente chegamos em Feira de Santana e imediatamente procuramos um lugar para pernoitar, pois estávamos muito cansados e com o corpo bastante dolorido.

Indagando ao pessoal do lugar, foi-nos dada a direção de um hotelzinho simpático e agradável. Dirigimo-nos para lá e caímos direto na cama, acordando no dia seguinte pela manhã, já revigorados. Só aí então é que fomos tomar banho e nos refestelar com um lauto café, pois a fome era enorme.

Esse trajeto com cerca de 250 quilômetros foi percorrido em estrada de terra e vegetação de cor marrom devido ao acúmulo de poeira sobre a folhagem dessa mirrada vegetação. Não entendi porque não fiz anotações dos povoados existentes no caminho, tendo em vista que foram muitos. Possivelmente até alguma história houve, mas pelo tempo já decorrido é-me impossível lembrar sem o suporte de uma anotação anterior para auxiliar.

Há todavia uma passagem a qual não anotei, mas dela lembro do acontecido pelo fato de ter sido bem marcante:

Na estrada a caminho de Feira de Santana, ao passarmos por um armazém resolvemos dar uma parada a fim de bebermos alguma coisa. Na calçada onde estávamos vinha passando uma senhora negra com um menino de uns 10 anos de idade e para poder pegar um pouco de sombra, parou junto a uma das portas, ficando próxima de nós. Ela suava bastante e o menino também, mas aí notamos a criança com pruridos e feridas pelo corpo. Perguntamos o que havia acontecido com a criança, porém ela não soube explicar. Disse que na localidade onde moravam nem farmácia havia e para saber o que ele tinha teria de levá-lo a algum Hospital. Ela pobre, sozinha e sem dinheiro até para condução, não sabia como fazer para tratar o menino. E o garoto, coitado, por sua vez escutava inquieto a nossa conversa.

Sensibilizado, lembrei-me que levava comigo um pouco de anaseptil em pó (antibiótico da época) para qualquer eventualidade no caminho. Fui até à moto e na maleta de roupas apanhei o tubinho com o produto.

Mostrando à senhora como era o pó e dizendo-lhe das suas propriedades, perguntei-lhe se queria aplicar no menino. Respondeu que sim, pois não havia outra alternativa e ela estava com muita pena pelo sofrimento do garoto, que reclamava da coceira que sentia.

Então foi feita aplicação em todas as feridas. O menino, que passivamente a tudo assistia e aceitava sem nada falar, parecia estar contente e agradecido com o que foi feito. E durante o tempo que ainda fiquei no local, reparei não ter o menino se coçado uma vez sequer. Até sua expressão, antes contraída, estava naquele momento mais solta e aparentemente tranquila.

Para que a mãe do menino pudesse fazer outras aplicações, deixei boa quantidade do anaseptil embrulhado num guardanapo de papel. Em seguida dei-lhe algum dinheiro para que pudesse tomar alguma providência no restabelecimento do menino e partimos estrada afora.

Se ficou curado ou não, não soubemos. Espero que tenha conseguido.

No retorno, ao passarmos pelo mesmo local, nem nos passou pela cabeça procurar saber qual foi o resultado. E isso será aceitável, tendo em vista o ocorrido durante nosso retorno, o que oportunamente será contado.


Feira de Santana-BA
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Despertamos cedo, tendo por objetivo passear pela cidade para conhecer o local e saber das novidades.

Dentre o que vimos e que muito despertou nossa atenção, foi imensa feira que funciona permanentemente a céu aberto, com centenas de barracas e milhares de pessoas andando, falando muito, comprando de tudo e até fazendo refeições no próprio local, onde também se viam bancadas armadas nas ruas com variadas iguarias locais, preparadas por baianas “a caráter”. Havia banquinhos, algumas mesas com os mais variados temperos sobre elas, e ao lado, fogareiros onde eram preparadas as iguarias que eram mantidas sempre aquecidas.

Saímos da feira e seguimos procurando uma oficina para consertar a moto e logo encontramos uma “especializada em Lambretas”, mas consertava também Vespas, motos e o que mais houvesse. Creio que consertariam até avião. Chegando, nos apresentamos e explicamos a situação. Entenderam nosso problema e gentilmente nos cederam os aparelhos de solda elétrica e de oxigênio. O Fernando então deu um pingo de solda oxigênio no quique e soldou o suporte do bagageiro. Mas na mesa inferior do telescópico aplicou solda elétrica perfurante.

Terminado o serviço, nada nos cobraram por considerarem ser uma simples cortesia que fizeram, ainda mais que quem fez o serviço foi um grande profissional, disseram. Agradecemos a gentileza dos rapazes e voltamos ao hotelzinho a fim de saldarmos as despesas, colocar toda a “tralha” de volta na moto e partirmos rumo à Salvador.

Eram 15:00h e a temperatura estava tão alta, que até parecia estar o sol bem zangado naquele dia, mas mesmo assim fomos à luta tirando nossos blusões de couro e ficando somente de camiseta. E como de hábito, quando o calor estava muito forte sentávamos nos nossos blusões de couro. Mas por terem caído certa vez na estrada e ter-nos dado tremendo susto, a partir desse acontecimento redobrávamos nossos cuidados para que não acontecesse novamente, pois não podíamos ficar sem eles.

Pegamos então uma estrada que nos levaria direto à Salvador, num percurso de mais ou menos 150km, com excelente asfalto e boa sinalização. Por estarmos com saudade do gostoso asfalto, nos deliciamos. A moto, serena, sem os saltos e sacolejos, trancos e derrapagens costumeiras, parecia que também aproveitava aquele raro momento. Dos dois lados da estrada víamos imensos canaviais balouçando ao sabor do vento, que mais pareciam marolas brincando num imenso mar de cor esverdeada. Francamente, nunca havia visto canavial com essas proporções. Dezenas e mais dezenas de quilômetros desse mar de folhagem balouçando nos dois lados da estrada. Espetacular!

Após percorrido cerca de 1/3 do trajeto, novamente tivemos problema com sujeira na vela do pistão esquerdo. Paramos para limpá-la e com isso perdemos algum tempo. A partir daí, felizmente, não tivemos mais problemas e chegamos às 17:00h em Salvador.

Como de hábito, imediatamente circulamos por algumas ruas da cidade indo até à igreja do Nosso Senhor do Bonfim, onde na escadaria compramos fitinhas e outros “souvenires”. Entramos na igreja, que por mera coincidência eram 18:00h em ponto, conforme enunciado pelo badalar dos sinos.

Satisfeitos por termos saciado nossa curiosidade em conhecer esta famosa e linda igreja, saímos e nos dirigimos à feira Água de Menino, aproveitando para visitar também o Mercado Modelo, ambos na cidade baixa e próximos ao Elevador Lacerda, o qual pegamos para irmos até a cidade alta. Na ocasião foi o elevador mais largo que já havíamos andado. Fomos apenas nós dois. A moto ficou próximo à entrada do elevador, na frente de uma lojinha.

Terminado o passeio a pé, voltamos, apanhamos a moto e passamos a circular pela cidade indo em seguida com a moto para a cidade alta. Mas devido a uma contramão de rua....

João Cruz
j.v.cruz@oi.com.br
 
 
 
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Comentários (2)

2/2/2017 20:26:47
9HGK7ZI8
Faut dire qu28#&17;il y a quelques millions de gens qui voient ce genre de conneries, et que sur TF1 ou F.Tele c’est pas mieux ( sauf chaines genre F4,F5 ou Arte le soir )
 
28/6/2016 15:08:37
3B21AIGTJQUR
I rellay needed to find this info, thank God!
 

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